Conceito de iconomia e ‘FMI do bem’ são próximos passos da moedas criativas

Todo processo de geração e distribuição das moedas será gerido por um Fundo de Moedas Imaginárias

O grupo de pesquisa Cidade do Conhecimento, da USP,  e o Núcleo de Política e Gestão da Inovação Tecnológica Sustentável (PGT), com sede na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), também da USP, estão desenvolvendo o projeto World Innovation and Sustainability Helix (WISH), cujo conceito se baseia na definição de “Iconomia”.  O termo que faz referência à “economia” e, ao mesmo tempo, atende à sigla para Incubadora de Conteúdo para Novas Mídias e Infraestrutura do Audiovisual.

A USP realiza várias inciativas relacionadas em parceria com outras entidades, como a rede internacional Games for Change, o provedor UOL, e o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), além do Ministério da Cultura e da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Para divulgar estes projetos foram organizados eventos culturais, que acontecem até dezembro. O primeiro teve início no último dia 12 de outubro, com a terceira edição do Festival Literatura Infantojuvenil, Games e Artes em Ação (Ligação), no município de Taubaté, interior de São Paulo. Entre outras atividades, o festival traz oficinas, gincanas, teatro, cinema, música, brincadeiras e videogames criativos, todas voltadas à literatura infantojuvenil.

Iconomia e “FMI do bem”

O chamado Instituto de Iconomia, lançado pelo professor Gilson Schwartz, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, aborda principalmente a criação e circulação de “moedas criativas”, basicamente créditos eletrônicos voltados para o uso cultural, como visitas a museus e teatros, por exemplo. Por não se tratar de uma moeda física propriamente dita, todo o processo de geração e distribuição das moedas seria geridao também por um FMI, o Fundo de Moedas Imaginárias, ou como chamado pelo professor Schwartz, “FMI do bem”. A intenção inicial das operações do ‘FMI do bem’ é trabalhar o conceito de sustentabilidade através da criação de jogos eletrônicos que permitem aos usuários obter os créditos imaginários  por meio de ações de preservação do meio ambiente.

Para Gilson Schwartz, o momento é mais do que propício para se investir no tema. “Este conceito não é exatamente novo, já há alguns anos temos procurando projetos, parcerias, criações que viabilizem a implantação das moedas. A partir do momento em que tivemos a Rio+20, conseguimos apoio de várias entidades públicas e privadas, além de termos esta telenovela de grande audiência, em que as personagens tentam, por assim dizer, ‘sair do lixão’, mudar de vida”, comenta. “Então podemos perceber que, na realidade, o ideal não é termos que ‘sair do lixão’, e sim produzir menos lixo, apoiar ações de reciclagem, prestar atenção mais ao desenvolvimento humano e social do que ao econômico”.

O ideal não é termos que ‘sair do lixão’, e sim produzir
menos lixo, apoiar ações de reciclagem, prestar
atenção mais ao desenvolvimento humano e social.

Tecnologia e custos operacionais

O grupo de Gilson Schwartz traz ideias inovadoras no que se refere ao incentivo a ações ambientais – um dos exemplos é permitir que uma pessoa que descarte corretamente uma embalagem vazia em uma ‘lata de lixo tecnológica’, possa ser identificado e ‘remunerado’ pela atitude com moedas criativas. Mas ainda há dificuldades de natureza técnica a serem superadas. Alguns desses sistemas já estão em fase de protótipo, produzidos pelo grupo de pesquisa Interdisciplinary Research for Internet of Things (iRIoT), que reúne diversas áreas de conhecimento da USP (saiba mais por este link).

Outra dificuldade para o andamento do projeto das moedas é o custo das pesquisas e produções dos jogos. “Seria impossível o grupo custear todas as operações necessárias para o desenvolvimento do projeto, então, pedimos auxílio não só de programadores voluntários, como também através da plataforma parceira Games for Change. Nós recebemos doações em dinheiro, o que não é necessariamente um problema”, afirma ele,  e argumenta: “doação não é crime, ela carrega uma significação ética, até, porque precisamos dos recursos, e recebemos de forma clara  e aberta, sem nada escondido”.

Os créditos em moedas criativas também serão disponibilizados por meio de participações em eventos culturais, como o Ligação. Schwartz afirma que “o grande objetivo é ter várias maneiras de uma pessoa comum ter acesso às moedas. Participar de eventos como o Ligação seria a principal, mas futuramente também podemos ter ‘compra’ de moedas por meio dessas doações, que poderão ser até mesmo direcionadas”. O professor especifica como um doador poderá ter ‘controle’ sobre sua contribuição. “Além do doador absoluto, que é aquele que dá o dinheiro sem ter um direcionamento, também poderemos ter doares proprietários, que são aqueles que dão determinada quantia e exigem que seja destinada a uma determinada área de pesquisa, para que, se no futuro o produto daquela pesquisa gerar ganhos reais – como um jogo eletrônico que for vendido e distribuído no exterior – ele possa ter um retorno baseado no ‘investimento inicial’. Outra possibilidade é o doador ‘criador’, que paga, exige investimento em uma certa área, apenas para vê-la crescer, sem interesse financeiro”.

Gestão ‘iconômica’

A Iconomia adota exemplos funcionais de moedas criativas, como no caso do setor de Jogos do Portal UOL, que, de acordo com o pesquisador, já as utilizará em complemento às suas próprias, chamadas de gold.

Esta, inclusive, é uma das maiores metas do projeto como um todo. “Se chegarmos à implantação das moedas criativas como parte de descontos em produtos – como é feito por sistemas de pontos como Multiplus – e também como um ‘câmbio financeiro imaginário’, trocando moedas por pontos, gold e similares, teremos atingido nosso principal objetivo: participar ativamente do cotidiano das pessoas e de suas ações por um mundo mais sustentável”.

Todo esse ‘sistema financeiro imaginário’ precisará ainda de diversos acertos políticos, informa o professor. “A ideia inicial é manter a Games for Change como uma cabeça de rede gerindo o FMI do bem, e nessa gestão também teremos um conselho curador que participa das decisões, ações e articulações políticas, através do Instituto de Iconomia”.

Esta meta-rede de informações ainda gera entusiasmo pela participação internacional em discussões importantes na área. Schwartz foi i indicado pela USP para falar em um Congresso da Agence Universitaire de la Francophonie (AUF), que engloba os países de fala nativa francesa, que ocorrerá em Túnis (Tunísia). “Eles querem saber mais sobre as monnaie créative, o que mostra que nosso projeto desperta grande interesse da comunidade de pesquisa”, comemora o pesquisador.

O Festival Ligação estará aberto até o dia 19 de outubro, na sede da Universidade de Taubaté, das 10 às 20h30. Para mais informações, acesse a página oficial do evento, o portal do grupo Cidade do Conhecimento, ou entre em contato com o professor Gilson Schwartz através do email gilson.schwartz@gmail.com.

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