Conveniência do trabalho em casa é ligada a valores pessoais

Personalidade e questões pessoais podem definir quem é mais favorável a exercer sua profissão a domicílio.

Lara Deus, especial para a Agência USP de Notícias

Nem todo mundo se adapta ao trabalho em casa. A adequação de um profissional está ligada a diversos fatores de sua personalidade ou de seus valores pessoais, segundo uma pesquisa realizada da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP. A engenheira de computação Yngrid Nicoletti de Azevedo Singh descobriu em seu mestrado que o perfil dos trabalhadores que optam pelo trabalho em casa pode ser delineado por: seus valores pessoais, a condição de seu ambiente familiar para a realização do trabalho (se permite, pode ser adaptado, ou não permite o trabalho em casa), sua experiência home office (já trabalhou, trabalha ou nunca trabalhou em casa), e se trabalha em empresa pública ou privada. A quantidade de dias que o trabalhador prefere trabalhar em casa mostrou-se relacionada com os valores pessoais, ambiente familiar, experiência com home office e sexo do trabalhador.

A pesquisa buscou entender quais valores pessoais criados pelo psicólogo social Shalom Schwartz estão associados à favorabilidade de se trabalhar em casa e quais se relacionam ao aumento dos dias de home office por semana desejados. Estes podem ser compreendidos como “os objetivos e princípios que possuímos e que definem como vamos lidar com situações e escolhas da vida”, explica Yngrid.
O estudo descobriu que quem tem mais valores ligados à autopromoção, isto é, tem forte valores que procuram a realização pessoal, são mais simpatizantes ao trabalho domiciliar. Já aqueles que têm mais fortes em si os valores que procuram o bem estar coletivo, ou seja, a autotranscendência, tendem a ser menos favoráveis.

Os trabalhadores que já possuem ou podem adaptar seu ambiente familiar para o trabalho em casa, os que já experimentaram o trabalho em casa e trabalhadores de empresas privadas também se mostraram mais favoráveis a esta modalidade de trabalho

Dias da semana

Quanto maiores os valores de benevolência e autodeterminação, mais dias se prefere trabalhar em casa. Por outro lado, as pessoas que têm valores de tradição, conservação e segurança maiores desejaram ficar no escritório mais dias. Yngrid explica que “quem possui alto valor de conservação é uma pessoa que está muito atrelada aos princípios da sociedade e, como o trabalho no escritório é mais praticado na nossa sociedade, pessoas com este valor simpatizam menos com o trabalho em casa”. A análise dos gêneros dos pesquisados concluiu que as mulheres preferiram trabalhar 3 ou mais dias em casa, e que os homens optam por até 2 dias em casa.

O estudo ainda descobriu que simpatizar com o trabalho domiciliar não significa rejeitar o ambiente da empresa. “Grande parte da amostra tem a favorabilidade igual para trabalhar em casa ou no escritório e, mesmo trabalhadores com alta favorabilidade para fazer home office preferem fazê-lo alguns dias por semana”, conta a engenheira. Na escala feita, que variava de 0 a 7, a média de favorabilidade para o home office foi 6,1 pontos, e para o trabalho no escritório foi 5,07.

Analisando estudos anteriores sobre o assunto, a dissertação de mestrado da FEA hierarquizou os motivos que fazem um profissional preferir o trabalho em casa. A melhor utilização do tempo ficou em primeiro lugar, seguida por um melhor balanço da vida pessoal e profissional, uma melhor qualidade de vida, e pela economia financeira.

A pesquisa foi quantitativa com posteriores análises estatísticas univariadas e bivariadas. Os resultados vieram de um questionário, feito com trabalhadores de duas empresas que adotavam o trabalho a domicílio e alguns docentes de universidades brasileiras. As perguntas avaliaram tanto a favorabilidade ao home office, quanto os valores pessoais e questões relacionadas ao perfil dos respondentes, como faixa etária, distância do trabalho para casa e nível de escolaridade.

Yngrid defendeu sua dissertação de mestrado Brasileiros e trabalho em casa: perfil e escolhas do trabalhador, iniciada em 2011, no início de julho deste ano. Sua orientadora foi a professora da FEA Maria Aparecida Gouvêa.

Mais informações: com Yngrid Nicoletti de Azevedo Singh, no email ynazevedosingh@usp.br

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