Deslocamento com bicicleta caiu em São Paulo de 2007 a 2012

Tendência de queda no uso da bicicleta é maior entre os mais pobres, entre os mais ricos há crescimento.

Dados preliminares de uma pesquisa sobre os deslocamentos feitos com bicicleta na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) mostram que houve queda no período de 2007 a 2012: o número de ciclistas passou de 6,3 para 5,4 por 1.000 habitantes. O que reverte o cenário de aumento verificado entre 1997 (quando havia 3,9 ciclistas por 1000 habitantes) a 2007.

Essa tendência de queda é influenciada pela redução no número de ciclistas entre os mais pobres, que passaram de 9 para 6 a cada 1.000 habitantes entre 2007 e 2012. Entre os mais ricos, ocorreu o inverso: aumentaram de 2,5 para 4,5.

As informações fazem parte do estudo Correlates, travel patterns and time trends of bicycling in São Paulo, Brazil, 1997-2012, desenvolvido por Thiago Hérick de Sá e Carlos Augusto Monteiro, do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens), da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, em parceria com Ana Clara Duran, da Universidade de Illinois, e James Woodcock, da Universidade de Cambridge.

O estudo foi baseado na “Pesquisa Origem e Destino da Região Metropolitana de São Paulo de 1997 e 2007”, realizada a cada dez anos pelo Metrô de São Paulo, e da “Pesquisa de Mobilidade de Urbana 2012”, também do Metrô.

Segundo o pesquisador Thiago Hérick de Sá, historicamente, o uso da bicicleta na cidade de São Paulo é associado à falta de opção dos mais pobres em relação a outros modos de transporte, o que contribui para explicar o crescimento do uso do modal entre 1997 a 2007. No entanto, a partir de 2007, essa tendência foi influenciada por questões econômicas.

“De 2007 a 2012, há um aumento do poder de compra dos mais pobres combinado com políticas de incentivo à motorização, sem que tenha havido a quebra dos muros da cidade, eles continuam morando longe do centro e do trabalho. O caminho encontrado para minimizar o impacto negativo dessa segregação espacial da cidade é adquirir um carro ou uma moto”.

Entre os mais ricos, ocorreu o inverso: “há uma mudança de comportamento com o reconhecimento de que a bicicleta é um modo econômico, sustentável e inteligente de se deslocar, sobretudo, no centro expandido, onde as distâncias são menores, a infraestrutura para a os modos ativos de deslocamento é melhor e a integração com outros modos de transporte é mais fácil na comparação com outras áreas da RMSP”, explica Thiago.

Para construir a relação de renda familiar e o uso de bicicleta, os pesquisadores dividiram a população em quatro partes de 25%, sendo a primeira parte com os que ganham até R$ 1.500,00, a segunda com renda de R$ 1.500,00 a R$ 2.400,00, a terceira variando de R$ 2.400,00 a R$ 4.000,00 e a última parte com renda familiar acima de R$ 4.000,00. Essa divisão da renda familiar é baseada no valor do Real em 2012.

Perfil

Os pesquisadores traçaram ainda o perfil das pessoas que usam bicicleta para se deslocar na Região Metropolitana de São Paulo e, na sua grande maioria, são homens. São sete homens a cada 1.000 habitantes, enquanto entre as mulheres a proporção é de uma para cada 1.000. Em sua maioria, são adultos jovens de 19 a 39 anos, com menor grau de escolaridade e de renda.

“Não ter acesso a um carro ou uma moto está associado ao fato de a pessoa usar a bicicleta nos seus deslocamentos. Por isso o perfil do ciclista de São Paulo sempre foi o do jovem trabalhador, muitas vezes, relacionado à indústria e ao comércio. Este perfil parece estar mudando nos últimos anos”, informa o pesquisador.

Outro fator fortemente associado ao uso da bicicleta é a distância entre casa e trabalho ou escola. Thiago ressalta a necessidade de reestruturação da cidade para o aumento dos deslocamentos por bicicleta. “Precisamos aproximar as pessoas, democratizar a região espacialmente, não faz sentido que a maior parte dos serviços públicos, empregos, universidades fiquem concentrados em determinados locais, é preciso haver um rompimento dessa dinâmica porque não existe sistema de transporte que dê conta de uma região dividida espacialmente como é São Paulo. Menores distancias facilitam o uso de formas não motorizadas, incluindo a bicicleta”.

Ele ainda critica a falta de um sistema de acompanhamento mais regular e detalhado das formas de transporte não motorizadas em São Paulo. “Diante da importância do tema, ter informações detalhadas sobre a caminhada e a bicicleta apenas de 5 em 5 anos é um limitante, precisamos melhorar nosso sistema de monitoramento sobre a mobilidade humana”.

Hérika Dias / Agência USP de Notícias 

Mais Informações: email thiagodesa@usp.br

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