ECA cria grupo de estudos para discutir narrativas contemporâneas

O grupo surgiu com o intuito de ser um espaço transdisciplinar e multi-institucional para o estudo e reflexão das narrativas da contemporaneidade.

por Bruna Romão, do Laboratório Agência de Comunicação

Em abril deste ano foi criado o Grupo de Estudos de Novas Narrativas (GENN). Vinculado ao Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo (CRP) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, o Grupo se propõe como um espaço transdisciplinar e multi-institucional para o estudo e reflexão acerca das narrativas da contemporaneidade.

A ideia de criar o Grupo de Estudos surgiu a partir de discussões na disciplina “Memória como narrativa”, ministrada pelo professor Paulo Nassar, no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação (PPGCOM), e também no Projeto Memórias Ecanas, coordenado pelo professor.

Participam do GENN pesquisadores de diversas Unidades da USP e de instituições brasileiras e do exterior, que abordam as novas narrativas a partir de diferentes focos. “É um ambiente rico, em que temos visões e pesquisas diferentes sobre as narrativas da sociedade contemporânea”, diz Paulo Nassar, coordenador do grupo. Neste sentido, o GENN surge como um fator aglutinador de uma série de esforços convergentes para o tema, porém até então dispersos entre si.

Para Claudio Cardoso, professor associado da UFBA e integrante da coordenadoria científica do GENN, a grande característica do grupo é a inovação. “O GENN inova na pesquisa brasileira de várias formas: por se debruçar sobre uma temática fundamental para a evolução da comunicação organizacional, por reunir pesquisadores e profissionais de diversas áreas e por criar um ambiente perfeito para o desenvolvimento e troca de novas ideias e abordagens”, diz.

Segundo Cardoso, o GENN impulsionará a produção de uma nova linha de pesquisa que reúne conhecimentos estabelecidos nos mais variados tipos de estudo. Ele acredita que, a partir desta união, será possível produzir novos paradigmas sobre as narrativas das organizações, considerando suas dimensões políticas e estratégicas, bem como sua presença no mercado e na vida cotidiana.

O professor Nassar também reforça a oportunidade que o grupo representa para a ECA, como um ambiente para fortalecer a relação entre comunicação e artes, em torno de narrativas que questionem e quebrem paradigmas.

As novas narrativas

O objetivo do GENN é estudar e propor formas de narrativa que se diferenciem das narrativas predominantes na sociedade.  Segundo Nassar, essas narrativas mais difundidas caracterizam-se pela massificação e o controle de poderes organizacionais, o que lhes dá um aspecto extremamente quantitativo. O Grupo propõe um tipo de narrativa oposto. “Acreditamos que é possível desenvolver narrativas afetivas, que valorizem as pessoas e seus objetivos”, explica o professor. Com isso, o GENN busca formas de resgatar o encantamento das narrativas.

O adjetivo “novas” é usado como uma forma de provocação, não como indicativo estrito de produção de algo inédito.  É uma oposição à narrativa que se apoia exclusivamente sobre a perspectiva do poder econômico e organizacional. “Acreditamos que o  velho é uma narrativa baseada na persuasão, no emissor onipotente e determinativo dos objetivos da narrativa”, diz Paulo Nassar.

As novas narrativas apoiam-se nos indivíduos, buscando valorizá-los. Usadas para melhorar o ambiente social, ao reforçar pertencimento e afetividade, elas podem se configurar como trabalhos colaborativos e, especialmente, inventivos.  Paulo Nassar afirma que, com isso, essas novas formas de contar histórias contribuirão também para “alegrar o mundo”.

Emiliana Pomarico Ribeiro, mestranda do PPGCOM, acredita que as possibilidades e potencialidades das novas narrativas relacionam-se a uma competência transformadora da comunicação. “Podem ser narrativas diferenciadas, que toquem a sensibilidade das pessoas, que sejam criativas e íntimas. Que trabalhem não apenas com as  necessidades dos indivíduos, mas com os seus sonhos e desejos, com as suas motivações e seus medos”, ilustra.

Ela relata que há várias possibilidades para as novas narrativas, como as micronarrativas – resgate de memórias pessoais e afetivas de indivíduos com relação a algum objeto de atenção (instituição, marca ou produto). São fontes ricas e diferenciadas que podem ser trabalhadas pela comunicação empresarial.

O professor Claudio Cardoso afirma que as novas narrativas são aquelas que melhor se adequam à sociedade atual, caracterizada por sua complexidade, flexibilidade e dinâmica. Para ele, o GENN assume uma função inspiradora para que essas narrativas sejam cada vez mais incluídas na sociedade e, especialmente, no mundo organizacional.  “O grupo cumpre o papel de estimular as organizações a criarem suas narrativas comprometidas com a geração de valor e riqueza para uma sociedade complexa e um mundo com recursos cada vez mais escassos”, opina.

Encontros

O Grupo pretende promover encontros mensais de trabalhos. O primeiro aconteceu no dia 17 de maio, na Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (ABERJE), e contou com a presença do jornalista e diretor de Redação daFolha de S. Paulo, Otávio Frias Filho, que falou sobre a narrativa biográfica. Na ocasião também foi anunciada a composição da Coordenadoria Científica do GENN. O próximo encontro deve acontecer no fim de junho. 

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