Mercados competitivos ainda são as melhores saídas

Modelo de matemáticos da USP de Ribeirão e da Universidade Hebraica de Jerusalém explica mercados econômicos.

Da Agência USP de Notícias

Pesquisa do professor Fernando Pigeard de Almeida Prado, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, desenvolveu e testou modelos teóricos para investigar comportamentos de mercado em que diferentes firmas disputam consumidores com efeito de rede, ou seja, quando estão suscetíveis às decisões de seus próprios pares. O estudo Externalities and economic behavior foi destaque da Revista Fapesp do início de setembro.

A pesquisa, que em português significa Externalidades e comportamento econômico, foi baseada na Teoria dos Jogos e em outros modelos matemáticos, considerando apenas as competições entre dois jogadores.  Além disso, parte dela foi realizada em Jerusalém, Israel, por meio do pesquisador Eyal Winter, da Universidade Hebraica de Jerusalém (HUJ), e responsável pela pesquisa no país.

De acordo com Prado, os modelos ajudam a entender os mercados, especialmente tendo em vista o comportamento de diferenciação de produtos, que decorre da externalidade de rede. “Em Economia, uma externalidade ocorre quando uma decisão influencia aqueles que não participaram dela”, conta o professor. Já as “externalidades de rede, por sua vez, ocorrem quando um consumidor é influenciado pelas decisões de um grupo ou pela quantidade de consumidores que já adquiriram determinada mercadoria ou serviço”.

Os modelos desenvolvidos pela pesquisa abrem a possibilidade de desenhos de mecanismos de mercado mais eficientes e seu interesse está nas externalidades que emergem do meio econômico. “Diz respeito a situações em que as ações de uma pessoa afetam outras e é difícil pensar em um ambiente social que não tenha externalidades”, diz Winter.

Mercado nas mãos do consumidor

Outro fato, observado durante a pesquisa, foi que no caso de um duopólio, ou seja, quando duas empresas tomam conta do mercado, sob o efeito de rede, a tendência é que as concorrentes não aceitem dividir o mercado. “Por meio da Teoria dos Jogos, podemos prever que as duas empresas produzirão produtos semelhantes e irão competir pela fatia maior porque, mesmo que uma delas sofra com a formação de um monopólio pela outra, o que está em jogo são lucros muito maiores do que os gerados em um eventual mercado compartilhado”, conta Prado.

As empresas estariam, então, no que os matemáticos chamam de Equilíbrio de Nash, conceito proposto pelo matemático norte-americano John Nash que demonstra que nenhum jogador pode melhorar seu resultado em relação ao outro modificando sua decisão unilateralmente. “Aquela que fica com a maior fatia dos consumidores ganha muito mais do que se dividisse um mercado mais ‘pobre’. Então, ambas tendem a jogar por tudo ou nada”, diz Prado.

Prado também afirma que uma empresa que detém a maior parcela do mercado pode aumentar seus preços indiscriminadamente sem grandes consequências, já que o consumidor não teria alternativa melhor disponível. Porém, se os consumidores atuarem de forma coletiva, ameaçando deixar de consumir dessa empresa, ela será obrigada a manter seus preços em patamares aceitáveis.

Monopólio, menor segregação social

A pesquisa de Prado e Winter também investigou como a interação entre as externalidades e o mercado pode levar a segregações sociais. A iniciativa surgiu com a observação de bairros na cidade de Jerusalém divididos entre populações de judeus ortodoxos e outros não religiosos.

“A maneira como esses bairros se organizam tem relação com as externalidades das decisões de determinadas populações sobre outras. Assim que um grupo de judeus não religiosos passava a povoar determinado bairro, ortodoxos ocupavam outra localidade. Isso porque os grupos valorizam determinadas redes em detrimento de outras por conta de suas afinidades”, conta Winter.

Nos resultados preliminares dos modelos matemáticos estudados, os pesquisadores observaram que uma situação de monopólio segregaria menos do que uma disputa entre duas empresas semelhantes. A análise mostrou que a estrutura social espacial é muito afetada pela do mercado. Verificou-se, também, que a estrutura do mercado oligopolista, em que um pequeno número de empresas opera, tende a ser mais segregadora do que uma estrutura monopolista, em que apenas uma empresa está operando, pois, segundo os resultados iniciais da pesquisa, com o monopólio os preços seriam mais elevados, pois não haveria competição e os consumidores de poder aquisitivo dos dois grupos culturais dividiriam a mesma região.

Mas mercado competitivo ainda é melhor solução

Por outro lado, um duopólio poderia levar a preços “excessivamente” baixos, de forma a selecionar rapidamente consumidores de um grupo e, por conta disso, afastar os demais, que migrariam para a outra empresa e, consequentemente, para outro bairro, já que o primeiro foi dominado pela firma e pelo grupo contrário.

Para Prado, a pesquisa demonstrou que, em um monopólio, todos os bairros teriam frações dos dois grupos. No entanto, há alternativas melhores. “Em vez de um monopólio que não segrega culturalmente e um oligopólio segregador, seria mais aceitável um mercado competitivo no qual muitas empresas estão autorizadas a operar e servir os consumidores de maneira regulada.” Veja matéria publicada na Agência Fapesp.

Com informações da Agência Fapesp

Mais informações: (16) 3602-3644 / 3670 / 4681

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