Método desenvolvido pela FAU diminui risco de incêndio hospitalar

Prevenção de incêndios em hospitais de grande porte deve ser pensada durante a fase de projeto

Mariana Grazini / Agência USP de Notícias

Foi elaborado, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, um método para avaliar o risco de incêndios em hospitais de grande porte. Denominado Método de Avaliação de Risco Incêndio Hospitalar (MARIH), o modelo partiu da iniciativa da arquiteta Adriana Portella Prado Galhano Venezia em sua tese de doutorado que trata de um assunto que precisa ter sua importância reconhecida por projetistas e empreendedores.

Adriana explica que, no Brasil, é comum que medidas preventivas de segurança contra incêndio sejam pouco contempladas em projetos arquitetônicos e visem apenas cumprir exigências legais. Existe um decreto elaborado pelo Corpo de Bombeiros que tenta suprir a maior parte dos riscos de incêndio mas, ainda assim, a arquiteta afirma que há situações que não são contempladas.

A tese Avaliação de risco de incêndio para edificações hospitalares de grande porte: uma proposta de método qualitativo para análise de projeto, teve orientação da professora Rosario Ono e fez uso de outros métodos já consagrados para elaborar o MARIH. O método deve ser considerado na fase da concepção do projeto arquitetônico de hospitais de grande porte. Segundo decreto estadual, hospitais de grande porte são aqueles que, entre outras especificações, devem ter mais de 200 leitos. A arquiteta também realizou análises em dois hospitais de grande porte da cidade de São Paulo para conferir como a prevenção é feita nesses casos.

Medidas preventivas e contribuição

Cada projeto de hospital de grande porte possui características específicas, por isso é difícil generalizar o que é necessário para minimizar riscos sem utilizar métodos como o MARIH. No entanto, a autora do doutorado apresentou dois pontos importantes. O primeiro diz respeito a compartimentos. Quanto mais segmentado for o projeto, menor é a probabilidade do fogo tomar proporções maiores. As Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) devem ser também ser compartimentadas. O segundo ponto importante é investir em materiais que sejam menos propensos a propagarem um incêndio. Adriana ressaltou que, “Depois de trabalhar com as medidas nos projetos, ainda é necessário contar com a segurança ativa e com ao treinamento dos funcionários do local.”

Com o MARIH, é esperado melhorar o nível de segurança contra incêndio e minimizar a proporção de um incêndio em hospitais de grande porte para que o fogo não se torne uma tragédia.

Segurança

Existe uma divisão didática na segurança contra incêndio. A a primeira consiste em medidas de segurança passiva, que estão incorporadas à estrutura do edifício e devem ser pensadas em seu projeto. A segunda são medidas de segurança ativa, que entram em ação automática ou manualmente. Neste caso, consistiria na instalação de equipamentos e outros itens após a construção do prédio. A segurança passiva é de fundamental importância, já que consiste em planejar um edifício que favorece, em sua própria estrutura, a contenção do fogo.

No entanto, a arquiteta diz que, “muitas vezes, há maior preocupação com o desenvolvimento de medidas de segurança ativa, pois nos casos em que a segurança contra incêndio não foi pensada desde de o início do projeto arquitetônico, tenta-se compensar a segurança por meio das medidas de segurança ativa, o que pode tornar o custo excessivamente alto”. Além disso, hospitais são caracterizados por suas mudanças frequentes de “lay-out“, com paredes móveis, equipamentos e macas que devem ser transportados. Isso torna o processo de manter o nível adequado de segurança contra incêndio ainda mais complexo. Contudo, Adriana afirma que, a longo prazo, o custo-benefício da inserção da segurança contra incêndio já nas primeiras etapas do projeto, é muito recompensador.

Evolução do hospital

A arquiteta esclarece que hospitais possuíam, inicialmente, o estigma de lugar de morte e pobreza. Sua função era limitada a ser abrigo para aqueles que não tinham condições financeiras de serem tratados em casa, ou que então estavam em estados terminais. A partir do século XVIII a imagem de hospitais começou a se alterar e sofrer constantes mudanças.

Ao longo da evolução da estrutura hospitalar, avanços na área tecnológica de engenharia, novas descobertas da medicina e novos tratamentos redefiniram o uso dos espaços internos. No final do século XX, hospitais passaram a abrigar diversas funções. Além da própria parte médica, surgiram áreas de hotelaria e áreas semelhantes a shopping centers, com lojas de conveniência e áreas de alimentação.A partir disso, a preocupação com a segurança contra incêndios ganhou importância no desenvolvimento dos edifícios hospitalares.

Atualmente, o valor de um hospital não está apenas em seus pacientes. O valor de equipamentos sofisticados, tratamentos modernos, estruturas elaboradas e diversificadas é ameaçado caso haja um grande incêndio. A recente presença de áreas de conveniência semelhantes a de shopping centers, atriuns, restaurantes, contribuem para aumentar o risco de princípio de incêndio. É nesse panorama que métodos como o MARIH tornam-se relevantes e precisam ser adotados.

Mais informações: email adriana_galhano@uol.com.br, com a pesquisadora Adriana Portella Prado Galhano Venezia

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