Rúvila Magalhães/ Agência USP de Notícias
Um empreendimento social é uma organização sem fins lucrativos com uma ideia inovadora para promover uma mudança social. Visando entender melhor como eles funcionam e como contribuem para a promoção do desenvolvimento local, a pesquisadora Monica Bose, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, iniciou sua tese de doutorado. Por meio desse estudo foi possível concluir que os empreendimentos estudados tiveram, além de um incremento do bem-estar social, ganhos materiais. Apesar de terem aprimoramentos a serem feitos, todos as iniciativas estudadas são bem estruturadas e têm condições de alcançar metas. O estudo envolveu três empreendimentos sociais da região metropolitana de São Paulo.
A pesquisa constituiu na identificação e análise, em nível local, das contribuições das iniciativas. Os empreendimentos alvo dos estudos foram a Aliança Empreendedora, criado em Curitiba, a Rede Interação, criada em São Paulo, e o Fundo Zona Leste Sustentável, também criado em São Paulo.
A Aliança Empreendedora tem como objetivo auxiliar na capacitação e formação de catadores de lixo cooperados, por meio de cursos e assessorias. A Rede Interação objetiva realizar a urbanização de áreas precárias, transformando a realidade do local. O Fundo Zona Leste Sustentável visa fortalecer a economia local (da região de São Miguel Paulista, na zona leste da cidade) e mobiliza recursos para movimentação dos negócios na região.
Segundo a pesquisadora, esses empreendimentos estão se tornando cada vez mais profissionalizados, porém ainda restava a dúvida se eles estariam tendo impactos socais. Monica analisou se os objetivos a que eles se propuseram estavam sendo alcançados e aprofundou o debate nesse aspecto: Se os objetivos não foram alcançados, quais são os motivos? Oque poderia ser feito para que sejam alcançados?. Além disso, a pesquisadora avaliou se esses empreendimentos eram bem constituídos, quais eram suas contribuições nos aspectos sociais e em quais medidas.
“Um segundo objetivo para a pesquisa foi tentar construir métricas que associassem a ação do empreendedorismo social ao desenvolvimento local”, explica a pesquisadora. Ela ressalta que buscou não apenas entender se o empreendimento social estudado atingiu seus próprios objetivos, mas se ele conseguiu, e em que medida, colaborar com o desenvolvimento, pensado como liberdade ou expansão de capacidades. Ou seja, ela também buscou analisar “em que medida os empreendimentos ampliaram as capacidades dos indivíduos que são beneficiados por suas ações”.
Metodologia
A tese foi desenvolvida a partir de uma abordagem contextualista dos empreendimentos sociais. Foram três estudos de caso, abordando as iniciativas já citadas inseridas em seu próprio meio, em parceria com agentes e atores que vão influenciar a ação e os resultados desse empreendimento social.
“Estudei as teorias sobre o desenvolvimento social e sobre o desenvolvimento local para fundamentar esse estudo e estabelecer um diálogo sobre a questão do desenvolvimento e do empreendedorismo social”, relata Monica.
Com base nas análises e teorias, foram identificados os principais agentes influenciadores e que tipo de poder e capitais eles mobilizam. A partir do estudo de cada caso, foram buscados indicadores capazes de apontar se aquelas comunidades nas quais os empreendimentos trabalhavam tiveram algum ganho, em termos de promoção de desenvolvimento. Foram usados três vertentes de indicadores: de riqueza material, de bem-estar social e de empoderamento.
Conclusões
A pesquisadora apontou que, embora os empreendimentos sejam diferentes, com abordagens diferentes, as iniciativas chegam a resultados parecidos: “apesar da fundamentação ser diferente e as metodologias adotadas também serem diferentes, é bastante interessante notar que eles chegam em resultados parecidos”.
Em todos os três casos, o indicador mais evidente foi na esfera da riqueza material. Todos trouxeram ganhos significativos seja na geração de empregos, no aumento da renda e no poder de consumo das pessoas que participaram dos empreendimentos estudados. Já a promoção do bem-estar social foi relativa, dependendo do foco de cada iniciativa pôde ser mais direta ou indireta.
Todos os empreendimentos sociais estudados têm metodologias eficientes e bem estruturadas, o que revelam boas condições de atingir os objetivos. No entanto, as instituições têm aperfeiçoamentos a serem feitos. Uma das principais é a formulação de um método que sugira formas de ampliar a participação popular e o público atendido pelas oportunidades oferecidas.
A tese de doutorado Empreendedorismo social e promoção do desenvolvimento local foi orientada por Rosa Maria Fischer e defendida em fevereiro de 2013.
Mais informações: email monicabose1@gmail.com