Pesquisa-ação da FEA procura soluções para o setor habitacional de São Paulo

A pesquisa de Fernando Amiky Assad propôs um serviço integrado de reforma às residências da população de baixa renda.

Talita Nascimento / Assessoria de Comunicação da FEA

Fernando Amiky Assad em sua dissertação de mestrado, na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, sob orientação da professora Graziella Maria Comini, realizou uma pesquisa-ação na favela da Erundina, localizada na Zona Sul de São Paulo. Procurando soluções acessíveis para melhorar as condições de moradia da comunidade, através de ONGs locais de assistência técnica em arquitetura, opções de crédito e materiais de construção, foi pensado um serviço integrado de reforma às residências da população de baixa renda, que seja melhor e mais barato do que o habitual.

A pesquisa-ação de Fernando pôde identificar alguns pontos críticos para a viabilização das reformas pretendidas. Assistência técnica, crédito, mão de obra e materiais de construção são os problemas mais comuns. A carência de profissionais da área gera falta de segurança e preços mais altos. Além disso, as irregularidades presentes nestes locais impossibilitam a liberação de crédito, “o que faz a obra virar eterna, e consequentemente mais custosa”, conta o mestrando que acrescenta: “isso também influencia os materiais de construção, que são comprados de forma ´picada´e vão se perdendo e deteriorando, antes da reforma estar concluída”. Com tantas dificuldades, o alvo deste estudo foi buscar soluções de baixo custo que dessem conta do desafio.

Há muito espaço, conhecimento e vontade por parte da população de baixa renda de criar soluções. Muitas vezes o que precisam é apenas um incentivo, uma dica, ou um apoio inicial.

A escolha do tema veio ao encontro dos dados apresentados durante a dissertação, que indicam que em 2030, 40% da população mundial deverá viver em moradias precárias e 25% simplesmente não terá onde morar. No caso do Brasil, este déficit habitacional já é de 5,546 milhões de domicílios e cerca de 11 milhões de moradias já construídas sem infraestrutura adequada. Esses dados estão concentrados na faixa da população com rendimentos familiares mensais de até três salários mínimos.

Graziella Comini diz sobre a pesquisa de Fernando: “É fundamental na área de administração, que é ciência social aplicada, estudos que tenham este propósito”, e complementa, “a dissertação do Fernando tem como mérito contribuir para o avanço de estudos teóricos no tema de negócios socioambientais, bem como estimular profissionais a investir neste campo de trabalho, seja como investidores ou empreendedores”.

De onde veio o sonho

O mestrando conta que desde quando entrou na graduação, nunca se satisfez com a ideia de apenas maximizar o lucro dos acionistas de uma empresa. Por isso, procurou pautar seus estudos e atuação profissional por conhecer e desenvolver modelos organizacionais híbridos, que visem, ao mesmo tempo, gerar valor econômico e social.

Desde quando entrou na graduação, o mestrando nunca se satisfez com a ideia de apenas maximizar o lucro dos acionistas de uma empresa.

Sobre o que mais lhe chamou a atenção durante seus estudos, Fernando destaca dois aspectos: “o primeiro deles foi relembrar as condições de vida extremamente degradantes de quem mora em uma favela. Definitivamente nós precisamos conhecer melhor a pobreza”.

E o segundo: “há muito espaço, conhecimento e vontade por parte da população de baixa renda de criar soluções para a superação de alguns problemas sociais que enfrentam. Muitas vezes o que precisam para fazer acontecer é apenas um incentivo, uma dica, ou um apoio inicial”, diz.

A família de Fernando assistiu atenta a defesa e não era difícil de notar olhos marejados durante alguns comentários da professora Rosa Maria Fischer. Ela dizia que neste campo de pesquisa é preciso ter ambição e humildade em grandes quantidades, já que o trabalho realizado representa pequenos grãos que podem fazer a diferença. Graziela Comini, que diz concordar inteiramente com Rosa Fischer, comenta que tem incentivado alunos a se interessarem por essa linha de pesquisa por meio de TCCs e trabalhos de PIBIC além de, no caso da pós-graduação, através de dissertações e teses de doutorado. Ela conclui: “Como USP temos que estar na vanguarda do conhecimento”.

Scroll to top