Estudo da FSP avalia o impacto do Bolsa Família na compra de alimentos em famílias de baixa renda

Para a realização da pesquisa, foram utilizados dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada em 2008-09 em uma amostra probabilística de 55.970 domicílios brasileiros.

Da Assessoria de Imprensa da Faculdade de Saúde Pública (FSP)

Avaliar o impacto do Programa Bolsa Família sobre a aquisição de alimentos em famílias de baixa renda no Brasil foi o objetivo da tese de doutorado Impacto do Programa Bolsa Família sobre a aquisição de alimentos em famílias brasileiras de baixa renda, de autoria da nutricionista Ana Paula Bortoletto Martins, sob orientação do professor Carlos Augusto Monteiro, do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.

Segundo a pesquisadora, “As avaliações de impacto dos programas de transferência de renda sobre alimentação dos beneficiários brasileiros são escassas e não apresentam resultados consistentes”. Isso faz com que esta tese seja uma das primeiras contribuições para a avaliação desta realidade no país.

Para a realização da pesquisa, foram utilizados dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada em 2008-2009 em uma amostra probabilística de 55.970 domicílios brasileiros. A avaliação de impacto foi realizada para o conjunto dos domicílios de baixa renda (com renda per capita inferior a R$ 210,00) e, separadamente, para os domicílios deste conjunto com renda superior e inferior à mediana, denominados, respectivamente, domicílios ‘pobres’ e ‘extremamente pobres’.

O impacto do programa sobre a aquisição de alimentos foi estabelecido comparando-se indicadores da aquisição de alimentos entre domicílios beneficiados e não beneficiados pelo programa, que foram agrupados em blocos e pareados com base no escore de propensão de cada domicílio possuir moradores beneficiários.

Os resultados obtidos pela pesquisa mostram que, comparados aos domicílios não beneficiados, os domicílios beneficiados pelo programa apresentaram maior gasto total com alimentação, maior disponibilidade de energia proveniente do conjunto de itens alimentares e maior disponibilidade proveniente de alimentos e de ingredientes culinários. Não houve diferenças significativas entre beneficiados e não beneficiados pelo programa com relação à disponibilidade de produtos prontos para consumo. Houve diferenças significativas favoráveis aos domicílios beneficiados pelo programa com relação à disponibilidade de alimentos como carnes, tubérculos e hortaliças. Resultados semelhantes foram observados para os domicílios ‘pobres’ e ‘extremamente pobres’, ainda que as diferenças favoráveis aos domicílios beneficiados pelo programa tenham sido menos expressivas na condição de extrema pobreza.

Observando estes resultados, a pesquisadora concluiu que o impacto do Programa Bolsa Família em famílias de baixa renda traduziu-se em maior gasto domiciliar com alimentação, maior disponibilidade de alimentos in natura ou minimamente processados e ingredientes culinários e maior disponibilidade de alimentos que usualmente diversificam e melhoram a qualidade nutricional da dieta. Os efeitos do programa foram menores para famílias extremamente pobres.

Segundo Ana Paula, “o Programa Bolsa Família promove maior consumo de alimentos entre as famílias beneficiadas. Porém, o aumento da renda isolado não garante melhorias efetivas na qualidade da dieta. Outras políticas que incentivem o consumo de alimentos saudáveis e garantam o acesso a esses alimentos são fundamentais”.

Mais informações: e-mail anapbmartins@usp.br

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