Serviço de orientação do IP ajuda jovens e adultos na escolha profissional

O serviço, gratuito e aberto à comunidade, atende em média 800 pessoas por ano, sendo o único requisito do programa a idade mínima de 14 anos do participante.
Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Não é nem um pouco fácil para a maioria dos estudantes do ensino médio escolher, do alto de seus 17 ou 18 anos, a carreira que seguirão para o resto de suas vidas. Mas esse tipo de decisão não é a que se indica para essa idade, e tampouco essa é uma questão que aparece apenas para o público jovem.

Em primeiro lugar, cabe esclarecer ao jovem do ensino médio que ao escolher uma profissão no vestibular, ele, na verdade, está apenas escolhendo um curso superior, não uma carreira. “A carreira pode se desenvolver de várias formas, e o jovem pode inclusive fazer um curso e nunca trabalhar com aquilo – o que não significa, necessariamente, que a conclusão do curso não tenha sido uma coisa boa para a carreira”, explica Maria da Conceição Uvaldo, psicóloga do Serviço de Orientação Profissional do Instituto de Psicologia (IP) e coordenadora de projetos do Laboratório de Estudos sobre o Trabalho e Orientação Profissional (Labor).

Hoje, além dos adolescentes que estão escolhendo o curso superior, outras pessoas também buscam o serviço de orientação profissional na USP. Como explica Maria, o serviço do IP atende “desde meninos do final do ensino fundamental – que na maioria das vezes estão com dúvidas sobre fazer ou não um curso técnico – até universitários que entraram na faculdade e que não estão gostando do curso, ou universitários formados que estão saindo da faculdade e querem pensar em um planejamento”, explica Maria da Conceição.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Também são atendidas pessoas que já estão no mercado de trabalho e querem reorganizar seu projeto profissional – prática chamada de “orientação de carreira”. E, mais recentemente, estão participando do serviço os aposentados, que trazem consigo a questão da “segunda carreira”.

O serviço, que funciona desde 1970, tem quase a mesma idade do Instituto de Psicologia, criado em 1969, e atende a média de 800 pessoas por ano. É gratuito e aberto à comunidade, sendo o único requisito do programa a idade mínima de 14 anos do participante. De acordo com a pesquisadora, trata-se do maior serviço deste tipo no país. “Infelizmente”, ela ressalva, pois o fato mostra que “não existem políticas públicas nessa área”.

São três psicólogos contratados para tempo integral, cerca de 30 alunos da graduação em Psicologia e 15 alunos do Curso de Aperfeiçoamento em Orientação Profissional e de Carreira que realizam o atendimento nesse programa do IP. No entanto, para algumas demandas especiais, o atendimento também conta com a ajuda dos pesquisadores do Labor. “Por exemplo, se um surdo aparece para ser atendido, nós vamos ter que procurar alguém que tenha um projeto relacionado a esse público específico no Laboratório”, explica.

O método

O método desenvolvido e praticado pelo serviço de orientação profissional do IP, de acordo com psicóloga, é chamado de abordagem clínica. “Nós tentamos ajudar a pessoa para que ela não apenas escolha uma profissão, mas entenda o porquê da dificuldade na escolha. Com isso, pretendemos fazer com que ela se torne consciente de todo o processo de escolha e se aproprie dele”, diz.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Nessa abordagem a pessoa orientada vai entendendo aos poucos os componentes psicológicos, sociais e mercadológicos da sua decisão, para que possa fazer, de fato, uma boa escolha profissional.

“Não aplicamos os testes tradicionais que indicam respostas aos participantes. Aqui, a resposta quem dá é a própria pessoa. Atuamos para ajudá-la a refletir sobre si mesma, a enxergar algo que não está claro, para que, a partir disso, possa definir um projeto”, explica.

Para isso, são realizados atendimentos individuais e em grupos no serviço – no entanto, os psicólogos do IP tentam sempre priorizar as atividades em grupo. “Isso porque nós acreditamos que no grupo aparecem coisas que não surgiriam no atendimento individual”, afirma Maria da Conceição. Afinal, o método adotado parte do princípio de que o participante deve se autoconhecer – no sentido de entender a si mesmo, e não simplesmente realizar um levantamento de habilidades, interesses e aptidões. Assim, os psicólogos consideram que o caminho mais fácil para a percepção de si mesmo é através do trabalho em grupo. Pois é através das diferenças que o participante enxerga no outro que ele passa a identificar as questões referentes a si mesmo.

“No grupo aparecem diferentes ideias e possibilidades que entram em oposição com as da pessoa orientada. Esse olhar para o outro, essa troca, faz com que o participante se perceba e se conheça. E a partir do contato com a diferença, a pessoa passa a ter uma definição maior do que são as diferenças, de si mesmo e de seu lugar social”, afirma Maria.

Em seguida – depois da pessoa ter percebido completamente as suas relações consigo mesmo, com o mundo e do mundo em relação a ele – é realizada com os participantes uma abordagem mais informativa sobre as profissões.

A psicóloga explica que a abordagem não é feita no sentido de ‘isso dá dinheiro, aquilo não dá dinheiro’, porque isso é uma bobagem. “Mas nós sempre tentamos dar as informações mais atuais e realistas possíveis, para posicionar a escolha do participante no momento da vida dele. Não como a principal escolha de toda vida, e nem como uma escolha qualquer, mas uma escolha importante para aquele determinado momento e que tem determinadas características”, conclui.

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