FAU debate desafios de projetar arquitetura para o espaço sideral

A arquitetura espacial pode contribuir para que os ambientes em órbita terrestre tornem-se mais propícios e compatíveis com a vida.

Patricia Golini, especial para USP Online

Pela primeira vez, em cinco milhões de anos, não há mais espaços novos para o ser humano explorar. Hoje, todos os continentes encontram-se ocupados por populações ou dominados por estados. No contexto moderno, as guerras tornam-se meios de expansão obsoletos, o que exige meios de conquista de um espaço diferente, no caso, o orbital.

Na segunda-feira (23), a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP iniciou sua primeira Conferência sobre Arquitetura Espacial. O curso, pioneiro no Brasil, contará com mais três apresentações ao longo da semana. Nas aulas, Emanuel Dimas de Melo Pimenta, arquiteto e urbanista que já desenvolveu diversos projetos experimentais no Brasil e na Suíça na área de arquitetura espacial, discute os novos desafios da arquitetura para o futuro – entre eles, o de vencer a diferença ou falta de gravidade.

Apenas a Universidade do Texas, nos Estados Unidos, conta com uma proposta de ensino similar ao do curso oferecido pela FAU. O projeto brasileiro nasceu de um contato de Emmanuel Pimenta com o professor Arthur Matuck, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Na ocasião, Pimenta apresentou a Matuck o projeto de arquitetura espacial Kairos, uma estação orbital de uso exclusivamente civil, cultural e científico. Este protótipo foi exposto na Itália, Portugal e pôde ser visto em todo o mundo por meio do streaming do Museu de Nova York.

“Recolhi as informações e levei o projeto ao conhecimento de Bruno Padovano, professor da FAU e coordenador do Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo (NUTAU). Então, através de teleconferências, a criação deste mini-curso foi viabilizada”, relata Matuck. Segundo ele, as aulas devem complementar a formação dos alunos da Universidade.

Arquitetura Espacial

A arquitetura espacial é um processo racional que visa a atingir um fim específico: a conquista da órbita terrestre. Porém, ela não se restringe à construção de edificações além do ambiente terrestre, como explica Emanuel:

“Esta arquitetura também ilumina processos e conceitos relativos aos espaços em que vivemos, onde são desenvolvidas tecnologias que podem nos impactar diretamente.”

Fundamentalmente, a arquitetura espacial é um método, e este implica dois campos de pesquisa fundamentais – a chamada arquitetura virtual e as neurociências. A primeira diz respeito à construção de espaços arquitetônicos no ciberespaço, criando no ambiente virtual uma perspectiva de que como eles serão no futuro. Já as neurociências são incluídas pois, quando o espaço muda, acontecem mudanças na forma como o tempo é percebido. Ainda, a questão compreende estudos da nanotecnologia e da bioquímica na elaboração de novos materiais inteligentes, “que otimizarão a criação desses espaços arquitetônicos”, elucida Emanuel Pimenta. O arquiteto cunhou o conceito de “arquitetura virtual” no início dos anos 1980.

Para Pimenta, a criação desta arquitetura extraterrestre contribuirá muito para que se mude a relação do homem com o conhecimento e para o surgimento de novas tecnologias. “Para conquistar o espaço não é preciso apenas lidar com a falta de gravidade, é necessário que se crie materiais resistentes, que se construa um ambiente propício para a vida, o que inclui, por exemplo, exercícios apropriados para evitar a atrofia dos músculos, alimentos especiais e tecnologia para controle da radiação”, ressalta.

Mais imagens e informações sobre o evento podem ser encontradas no site www.emanuelpimenta.net/spacearchitecture/NUTAUSP. 

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