Projeto CHUVA tem rede de sensores que mapeia raios de São Paulo em 3D

Projeto com parcerias internacionais pretende monitorar os raios no verão para melhorar a previsão do tempo

Mariana Soares / Agência USP

O Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP faz parte do projeto CHUVA, que pretende monitorar e caracterizar a precipitação no Brasil. O CHUVA é uma resposta ao projeto Global Precipitation Measurement (GPM-Brasil), da Agência Espacial Brasileira, cujo objetivo é validar a precipitação em todo o globo e lançar o primeiro satélite metereólogico brasileiro. Entre os projetos do CHUVA está a instalação de uma rede de sensores de detecção de raios em 3D, que desde outubro monitora as descargas em uma área de 150 quilômetros (km) a partir da cidade de São Paulo, o que inclui toda a região metropolitana, e o Vale do Paraíba.

Os sensores utilizados nas medições vêm de diversas agências espaciais (inclusive a Nasa, dos EUA, e a DLR, da Alemanha) e ficam no Brasil até junho de 2012. As medições dos raios são feitas em tempo real e o site do projeto é atualizado a cada seis minutos. As características coletadas são a latitude, a longitude e a altitude das descargas elétricas. Dependendo do sistema utilizado para a medição, ainda é possível determinar a corrente elétrica de cada raio. Com a integração destes sensores é possível emitir alertas de tempo, e em conjunto com as observações de um radar meteorológico pode-se realizar previsão de curtíssimo prazo.

Para a realização do projeto, há uma parceria internacional sob a liderança do CHUVA, que inclui agências europeias e norte-americanas. O CHUVA tem cinco coordenadores, sendo dois da USP, dois do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais  (INPE) e um do Centro Técnico Aeroespacial (CTA). Segundo Carlos Augusto Morales, professor do IAG e um dos responsáveis pelo projeto, há pessoas das mais diversas instituições envolvidas, já que é a primeira vez que a análise em 3D dos raios é feita no Brasil. “Queremos ver se o sistema fica no País por mais um tempo, para que possam ser feitas medições em outros lugares”, diz ele.

Para que a previsão do tempo em curtíssimo prazo (com até duas horas de antecedência) seja possível, são necessários os dados coletados por essa rede de sensores, que agora mapeiam os raios e seu deslocamento. Segundo Morales, “integrá-los às medidas de radar e satélite metereológico vai tornar possível entender como funcionam os raios no Brasil. A previsão de raios ainda não é possível, e nós estamos desenvolvendo o conceito e não fazendo a previsão, mas por fazermos medição em tempo real, conseguimos ver o seu deslocamento. Dessa forma, pode-se alertar a população sobre os riscos de descargas em uma determinada área. E os raios matam mesmo, essa são medidas que podem salvar vidas”, garante.

O professor explica que há parceria com órgãos públicos (como prefeituras e defesa civil) para que os dados sejam melhor compreendidos e, dessa forma, utilizados da maneira mais adequada às suas realidades. Os dados coletados pelo conjunto de sensores são públicos e estão disponíveis neste site. A coleta iniciou sua operação nessa época do ano para, propositalmente, abranger o verão, época que registra grande número de tempestades no País.

Previsão do Tempo

Morales explica que as previsões do tempo podem ser feitas por intermédio de radares que detectam as nuvens que já estão chovendo ou por meio de radares de nuvem (que só observam a localização das nuvens e não a chuva). Nesses sistemas, a previsão pode ser feita com no máximo duas horas de antecedência, mas só depois do início da chuva. “A previsão do tempo não consegue captar a chuva. Com esses modelos que estamos desenvolvendo, chuva e raios são convertidos em informação que a previsão do tempo consegue entender. Com isso, vamos poder monitorar o Brasil inteiro e melhorar as previsões”, acredita ele. Segundo o professor, esses são modelos que ainda precisam ser testados, pois ainda não foram operacionalizados, sendo utilizados somente para pesquisa.

Em breve, o GPM contará com 8 satélites para medir as precipitações sobre o Brasil, que monitoram áreas de 25km² a cada 3 horas. De acordo com o programa o GPM-Brasil, o lançamento do primeiro satélite metereológico brasileiro deve ocorrer em 2015.

Mais informações: morales@model.iag.usp.br

Scroll to top