Software desenvolvido no IB calcula probabilidade de doenças hereditárias

Programa PenCalc, que tem também uma versão web, calcula a taxa de penetrância das doenças hereditárias.

Victor Francisco Ferreira / Agência USP

Pesquisa do Instituto de Biociências (IB) desenvolveu um software, denominado PenCalc, que calcula a taxa de penetrância de doenças autossômicas dominantes, que são doenças hereditárias, passadas de geração para geração. Os afetados são heterozigotos Aa, em que A é o gene que determina o defeito. Em muitas doenças autossômicas dominantes, nem todos os heterozigotos manifestam a doença. A porcentagem de casos Aa com a doença é o que se entende por taxa de penetrância. Por exemplo, no retinoblastoma, um tumor maligno que afeta a retina, apenas 80% dos heterozigotos Aa tem o tumor. Os outros 20% são normais. Portanto, a taxa de penetrância do gene do retinoblastoma, ou a probabilidade de uma pessoa Aa manifestar a doença é de 80%.

A estimativa dessa taxa é feita por meio de cálculos aplicados à estrutura de heredogramas, gráficos que representam a herança genética de determinada característica, que mostram como o defeito é transmitido. “Os cálculos de estimativa da taxa de penetrância são muito complexos. O software automatiza essas operações, agilizando a obtenção dos dados”, explica a pesquisadora Andréa Horimoto, autora do estudo.

O PenCalc é destinado para uso de profissionais que trabalham com aconselhamento genético. Além de calcular, por meio da análise de genealogias (árvores genealógicas) que mostram a segregação da doença, o valor apropriado da taxa de penetrância, o programa determina o intervalo de credibilidade a 95% da estimativa e fornece a probabilidade associada ao heredograma em estudo. O intervalo de credibilidade é uma medida de confiabilidade da estimativa da taxa de penetrância. “Usando um exemplo fictício, se tivermos um intervalo de credibilidade de 95% de 0.20 a 0.57 para uma determinada estimativa significa que o verdadeiro valor da taxa de penetrância está contido nesse intervalo com uma probabilidade de 95%”, explica a pesquisadora.

Existem duas versões do programa. A originalmente desenvolvida no trabalho de Andréa é a versão disponível para download. Posteriormente, foi desenvolvida uma versão que funciona online. “A versão Web tem ferramentas a mais, que fornecem a probabilidade de heterozigose e o cálculo de risco de repetição da doença na prole de qualquer componente de uma família com casos da doença”, conta Andréa.

O trabalho foi motivado pelo caso de uma família acompanhada pelo serviço de aconselhamento genético do IB. “Uma síndrome autossômica dominante afetou 53 pessoas de uma família. Analisamos outras 21 genealogias de famílias com a mesma síndrome e testamos o software a partir desse caso”, diz a pesquisadora. Ela também conta que a precisão do programa era testada em comparação aos resultados dos cálculos empregando metodologias alternativas.

Programação

Andréa conta que, quando iniciou o trabalho, não tinha nenhuma noção de programação. “Tive de aprender do zero a linguagem de programação. Foram quase dois anos para dominar bem todos os comandos e funções da linguagem. Acabamos utilizando o [software] Visual Basic 6.0, da Microsoft, para desenvolver o PenCalc”, diz. O PenCalcWeb, por sua vez, foi desenvolvido utilizando a ferramenta Active Server Pages (ASP) nas linguagens VBScript, um sub-sistema do Visual Basic, e Jscript, uma variação do JavaScript.

O PenCalc está disponível para download, desde 2009,  na página do professor Paulo Alberto Otto, orientador do trabalho, no site do IB. Por ser gratuito e não exigir cadastro, é difícil mensurar o alcance do software em seu público-alvo.

Mais informações: email andreavrh@uol.com.br, com Andréa Horimoto ou otto@usp.br, com o professor Paulo Alberto Otto

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