Grupo de Trabalho se organiza para criação da Controladoria da USP

Controladoria da USP vai evitar futuras crises financeiras, afirma o diretor da FEA, Reinaldo Guerreiro, presidente do Grupo de Trabalho instituído pela Reitoria para propor a criação desse novo órgão da Universidade

Roberto C. G. Castro / Jornal da USP

Foto: Francisco Emolo / Jornal da USP
Professor Reinaldo Guerreiro

A futura Controladoria da USP será um instrumento essencial para evitar crises como a que a Universidade vive atualmente, incluindo a falta de recursos para custeio e investimentos e as greves de professores, alunos e funcionários. É o que afirma o professor Reinaldo Guerreiro, presidente do Grupo de Trabalho (GT) instituído em junho pela Reitoria com o objetivo de elaborar propostas para a criação da Controladoria da USP. Segundo Guerreiro, a crise atual é provocada basicamente pela falta de um controle melhor sobre o planejamento e a execução do Orçamento da USP, além da ausência de um sistema contínuo de divulgação de informações sobre a saúde econômica e financeira da Universidade. “A Controladoria deve ser um órgão enxuto, voltado para promover a eficiência na utilização dos recursos disponíveis e no cumprimento dos objetivos estabelecidos”, considera Guerreiro, ressalvando que as atividades do GT estão ainda no início e, por isso, não é possível antecipar as propostas que o grupo fará no relatório a ser entregue até agosto para a Reitoria.

A Controladoria deve ser um órgão enxuto, voltado para promover a eficiência na utilização dos recursos disponíveis.

Guerreiro conta com exemplos concretos para apostar que a Controladoria evitará novas crises na Universidade. Na década de 90, ele foi um dos responsáveis pela implantação da Controladoria do Banco do Brasil (BB), que na época passava por problemas semelhantes às dificuldades enfrentadas hoje pela USP. Com as atividades da Controladoria, o banco teve um salto de qualidade sem precedentes na sua atuação. “Recentemente voltei ao BB, convidado para fazer uma palestra, e os diretores me mostraram a diferença de desempenho do banco antes e depois da Controladoria”, destaca Guerreiro, que é diretor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP e especialista em Controladoria e Contabilidade Gerencial – área de pesquisa que reúne conceitos da contabilidade e da administração.

Guerreiro lamenta que a USP – uma instituição com 80 anos de existência – ainda não possua uma estrutura organizacional de controle eficaz, algo comum nas grandes empresas. Ele reconhece que a Universidade conta com instâncias dedicadas ao controle do desempenho financeiro da instituição – entre elas a Comissão de Orçamento e Patrimônio (COP) –, mas são “elementos com pouca sinergia” entre si. “É preciso um órgão que tenha o foco no equilíbrio econômico-financeiro da instituição e coordene e induza de forma positiva todas as atividades nesse sentido.”

Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Controladoria não vai interferir nas atividades das unidades de ensino e pesquisa

Para garantir esse equilíbrio, continua Guerreiro, a Controladoria precisa participar das três dimensões da gestão universitária – o planejamento, a execução e o controle do orçamento. “Ela não pode se dedicar somente ao controle. Para haver controle, o trabalho precisa começar no planejamento e se materializar em processo orçamentário que oriente adequadamente a execução das atividades.”

Guerreiro rejeita a ideia de que, com uma atuação tão ampla sobre o orçamento, a Controladoria possa se transformar num “superórgão”, que interfira nas atividades das unidades de ensino e pesquisa. Segundo ele, isso não acontecerá porque não cabe a ela exercer a função de outros setores. “Cada um tem sua função. A Controladoria não fará o papel do gestor”, ressalta o professor. “É importante dizer que a Controladoria não é um órgão policialesco”, acrescenta Guerreiro, enfatizando que caberá ao novo órgão criar instrumentos adequados para o desenvolvimento das atividades de controle da Universidade.

Sempre lembrando que ainda não é possível saber qual o formato de controladoria que o Grupo de Trabalho sugerirá, o professor destaca que, “em linhas gerais”, um órgão desse gênero tem como missão fazer com que exista um grande processo de controle sobre o desempenho financeiro da instituição, ajudar essa instituição a ter uma perspectiva financeira de médio e de longo prazo, refletir sobre os impactos financeiros dos vários gestores atuantes, estabelecer parâmetros para as decisões desses gestores, promover a accountability, ou seja, a prestação de contas dos gestores, e ainda se dedicar à divulgação dos dados econômicos e financeiros para a sociedade. “O Grupo de Trabalho é formado por pessoas muito experientes, que já implantaram projetos semelhantes em outras instituições”, diz Guerreiro. “Estou certo de que fará um ótimo trabalho e que a Controladoria será um importante legado desta gestão para evitar crises no futuro.”

Além de Guerreiro, formam o Grupo de Trabalho – Controladoria os professores Fábio Frezatti, também da FEA, Alberto Borges Matias, Rudinei Toneto Júnior, Sigismundo Bialoskorki Neto, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (Fearp), e Ana Carla Bliacheriene, da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (FDRP). Esse grupo realizou duas reuniões em junho e programou um encontro por semana ao longo do mês de julho. Essas reuniões são feitas por meio de videoconferência.

Iniciativas

Foto: Francisco Emolo / Jornal da USP
Foto: Francisco Emolo / Jornal da USP

O Grupo de Trabalho – Controladoria foi instituído pela Portaria do Gabinete do Reitor 6.552, de 26 de maio passado. No dia 10 de junho, ele foi instituído em reunião com a presença do reitor Marco Antonio Zago. Segundo Zago, a proposta é que o órgão funcione de maneira independente da Reitoria e responda diretamente ao Conselho Universitário.

A iniciativa é mais uma das medidas da Reitoria voltadas para a melhoria da situação financeira da Universidade, que atualmente gasta 105% do seu orçamento com o pagamento dos salários de 5.860 professores e 16.830 funcionários técnico-administrativos. Outra medida com o mesmo objetivo foi a instauração de uma comissão de sindicância para apurar responsabilidades pela evolução da folha de pagamento e pela movimentação nas carreiras de técnicos e docentes. Além disso, está em fase de contratação uma auditoria externa para avaliar os gastos da Universidade nos últimos cinco anos.

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