No solo e na água, EEFE leva o esporte para pessoas com deficiência

Natação e bocha adaptadas se complementam em atividade de extensão da unidade.

A Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP já oferece há 20 anos o curso de natação adaptada para pessoas com deficiência. Mas como a reforma das piscinas do departamento deve interromper as aulas, a equipe coordenada pela professora Elizabeth de Mattos organiza exercícios em solo para complementação das atividades durante este período de mudanças.

O curso, já aplicado no primeiro semestre, teve boa receptividade da unidade. Montado a partir de conceitos da preparação física por professores e voluntários, visa suprir aquilo que não era possível de se trabalhar na água. Foram trazidos conceitos relacionados com o equilíbrio da força, além de ensinar uso de aparelhos de musculação, ginástica e trabalho postural.

E se as atividades não puderam atender a todos os alunos de maneira eficaz, isso não foi impedimento à participação no curso. Aqueles que apresentavam maior comprometimento motor devido a algumas limitações específicas tiveram exercícios desenvolvidos diretamente para suas necessidades. Em parceria com o educador da EEFE, Yuji Yamaguti, a professora Elizabeth se dedicou à introdução de uma modalidade esportiva que conversasse diretamente com estes alunos: a bocha adaptada. “Existia uma ideia pré-concebida, mas ela nunca tinha sido desenvolvida por falta de oportunidade. Até que a situação toda contribuiu para que isso ocorresse”, conta a docente.

O projeto – em fase de pesquisa – ainda não está formalizado como curso de extensão, mas os interessados podem entrar em contato com o Serviço de Cultura e Extensão (SCEx) da EEFE e para serem encaminhados à equipe de Elisabeth.

Intercâmbio

Após o início das atividades experimentais com a Bocha Adaptada, o discente Camilo Alves se voluntariou para contribuir com as aulas dadas. O estudante acabara de voltar de um intercâmbio com a Universidade de Porto, parceira da EEFE, onde aprendeu  mais sobre o esporte. Aluno da graduação, teve a oportunidade de participar em Portugal de aulas de bocha e basquete adaptados. E quando o assunto  é bocha, Portugal é referência. Considerado um centro de excelência do esporte, Camilo foi atrás da disciplina para poder aplicar os  conhecimentos com seu irmão, que tem uma leve paralisia.

Alves, que desenvolve fora da Universidade um trabalho mais voltado a pacientes com danos na medula, dedica-se ao ensino e prática do esporte para portadores de paralisia cerebral. Para a criação do futuro curso, recebeu carta branca da orientadora para desenvolver o trabalho que quisesse em caráter experimental. Além das aulas, ele se prepara também para publicar um artigo sobre a prática da Bocha Adaptada. “Ele tem um trabalho interessante que tenho incentivado a virar um artigo e publicar, porque está muito bom”, elogia a professora.

Natação para pessoas com deficiência

A atividade postural, que deu origem à bocha adaptada no departamento, não é mais realizada pelo grupo de extensão – já que as piscinas foram liberadas novamente durante este semestre. De volta às atividades aquáticas, a professora notou uma evolução dos alunos, atribuída ao período trabalhando em solo. “A melhora é discreta, mas parece que houve sim. Principalmente porque muitos desmistificaram estas atividades [de solo]. Eles se descobriram capazes”, comenta.

A relação de Elisabeth com as atividades de extensão é antiga. A oportunidade de estar em contato com a população alvo de interesse é única – e a natação, primeira atividade que desenvolveu, é uma área em que gosta de trabalhar. “Quando eu entrei no departamento de esporte eu já entrei com essa prerrogativa de trabalhar com esporte para pessoas com deficiência”, relembra.

A bocha promete seguir os passos do projeto mais antigo da professora. A natação começou da mesma forma, como uma pesquisa que se desenvolveu e com a alta procura se tornou um curso de extensão universitária. Desde seu início as aulas vêm sofrendo modificações, como o atendimento a alunos não somente com deficiências físicas, além de atendimentos em grupos ou individualizados.

Já consolidado, o curso de natação é organizado em três níveis, com duração ideal de três semestres: o  nível de adaptação dura seis meses, e em seguida são realizados o nível técnico (em que os alunos aprendem o crawl, costas e peito) e aperfeiçoamento – para os que já nadam e  procuram na extensão o condicionamento e a melhoria da saúde.

A professora retoma também o trabalho realizado na orientação aos pais e próprios praticantes. “Se alguém quiser dar continuidade, indo para a área competitiva, encaminhamos para clubes especializados”. Elisabeth cita  como exemplo o tradicional Clube do Paraplégico de São Paulo, que foi fundado em 1958 pelo esportista e ícone da luta das pessoas com deficiência no estado, Sérgio DelGrande, dando origem a outros clubes.

Mais informações: (11) 3091-3182

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