Teoria e prática dançam em par no Laboratório de Dramaturgia do Corpo

Artistas que sentem necessidade de estabelecer ou manter um vínculo entre seu trabalho e a academia formam a base do Laboratório de Dramaturgia do Corpo (Ladcor).
Foto: Divulgação
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Artistas que sentem necessidade de estabelecer ou manter um vínculo entre seu trabalho e a academia formam a base do Laboratório de Dramaturgia do Corpo (Ladcor). Coordenadora do grupo, Maria Helena Bastos explica que é possível perceber, no século 21, uma mudança no perfil dos pesquisadores em artes. “Muitos artistas que viviam distantes da universidade têm procurado um contato mais íntimo com ela, no sentido de poder ampliar e discutir os modos de se produzir arte, como as questões e os conceitos se conectam às produções, e como a universidade colabora ao organizar e propiciar uma troca entre os interessados”, comenta.

O laboratório do Departamento de Artes Cênicas (CAC) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP está aberto a todo aluno que, motivado pelo interesse no seu eixo central – a ideia de uma dramaturgia que se conecta a partir das questões do corpo – esteja disposto a estudar e a participar das discussões do grupo.

Assim, fazem parte do laboratório estudantes de diversos graus de formação, desde alunos de iniciação científica, da graduação, até alunos de mestrado e doutorado. Em comum, além de desenvolverem estudos na área, eles têm o entendimento de que atualmente a academia consegue absorver as pesquisas de ponta envolvendo produção do conhecimento em arte.“É uma oportunidade de lançar novos esclarecimentos e luz sobre o que o colega está fazendo”, resume Célia Gouvêa, doutoranda do grupo.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Professora Maria Helena Bastos, coordenadora do Ladcor (à frente)

Em seu estudo, Célia fundamenta, por meio da descrição, da análise e da interpretação, duas de suas experiências nas artes cênicas. A primeira, quando, na Bélgica, participou do Centro Mudra. Lá esteve na sua fundação, em 1970, permanecendo até 1974, inicialmente completando um ciclo e, em seguida, fundando um grupo, com um viés interdisciplinar.

A segunda experiência refere-se, já no Brasil, ao período inicial do Teatro Galpão, que, ao longo de sete anos (de 1974 a 1981) foi um teatro de dança – pela primeira vez uma casa dedicada exclusivamente à dança. Este momento foi considerado o berço da dança contemporânea “através, também, de uma linguagem interdisciplinar e de uma liberdade criativa praticada ali pelos artistas”, explica a coreógrafa, que não apenas iniciou o período com um espetáculo em 1974, como também o encerrou, em 1981.

A relação entre arte e ciência

Ao se referir ao modo como os estudos desenvolvidos no Ladcor se estruturam, Maria Helena ressalta a visão de que não existe uma separação entre teoria e prática. “Não é a nossa ideia ilustrar, elaborar um pensamento teórico e depois criar, como se fosse algo ilustrativo. Os campos teóricos estão totalmente conectados às nossas ações”, esclarece a docente. Essa seria a relação arte-ciência, com que muitos artistas têm trabalhado e que é, de certo modo, “uma ressonância do entendimento da produção contemporânea, na qual a própria arte já é, em si, um campo que lida com a diversidade”, completa.

Esse é o caso do tema do mestrado da coreógrafa e bailarina Tatiana Melitello, que lida com o entendimento do espaço percebido no presente e com o espaço entendido – ou apreendido – com a percepção. Esse entendimento do espaço pelo corpo corresponde, também, ao entendimento presente no momento da dança.

Trajetórias Coreográficas no Sesc

Foto: Marcos Santos / USP Imagens Célia Gouvêa. integrante do LADCOR – Laboratório de Dramaturgia do Corpo.
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Célia Gouvêa, pesquisadora do laboratório

Seguindo a mesma linha de pensamento da professora Maria Helena, o que Tatiana elabora nas suas criações práticas está articulado, indissociavelmente, à sua elaboração teórica.

Assim, como parte da sua pesquisa de mestrado, ela fará uma apresentação de dança contemporânea nos dias 25 e 26 de março, às 20h30, no Sesc Pinheiros. O trabalho, nomeado Trajetórias Coreográficas, trata do compartilhamento dos espaços de passagem em São Paulo e é construído por deslocamentos e movimentos internos que agem sobre o corpo dançante.

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