A lei para quem chegava atrasado na aula

Paula Britto Pugliese, doutora pela Escola Politécnica (Poli) da USP

 

Sou residente em São Carlos desde 1989. Sou originária de Salvador, Bahia. Quando fui fazer meu doutorado em 1993, na Escola Politécnica (Poli) da USP, eu viajava de São Carlos a São Paulo três vezes na semana. Levantava de madrugada, para pegar ônibus na rodoviária às 4 horas e chegar nas aulas às 8 horas. O problema era que eu era a primeira a chegar em todas as aulas, no geral. Mesmo fazendo uma viagem de três horas de duração.

Era um frio na barriga quando passava na ponte, vindo da estrada Bandeirantes, e via tudo engarrafado na Marginal do Tietê. Parava na ponte do Piqueri e pegava um táxi. Já conhecia até o taxista. Mas o frio na barriga, vocês vão saber o por quê agora.

Um dia, meu querido professor Carlos Souza Pinto resolveu criar uma lei para nossa sala, depois de perceber que muitos paulistanos chegavam em atraso em suas aulas, coisa que ele não gostava, e eu, vinda de outra cidade, chegava bem mais cedo que todo mundo.

A lei: Fecharei a porta da sala às 8 horas, pois temos alunos que vêm de fora e chegam mais cedo dos que os moram aqui na cidade.

Lógico que eu era uma das alunas de fora que chegava cedo, provavelmente a única. E ele continuou a falar da lei que estava acabando de criar para a nossa sala, pois fechar a porta não foi a única lei, seria muito pouco.

Em seguida, ditarei uma questão surpresa que valerá no computo da nota final e os alunos atrasados não terão direito de fazer a questão, e ninguém poderá passar a questão para eles, todo mundo compreendeu?

E fez-se aquele silêncio mortal na sala de aula. Não teve nem choro nem vela. Nem o meu nariz torcido simbolizando: puxa!

Resultado: em todas as aulas do professor Carlos Souza Pinto tínhamos uma questão surpresa, valendo nota. E os paulistanos passaram a chegar cedo!

Adoro meu querido professor. Foi uma inspiração na minha escolha pela Geotecnia e na minha graduação estudei Mecânica dos Solos em uma apostila de autoria dele, que mais tarde se tornou um livro.

Tive a honra de vê-lo assistindo a minha defesa. Quanta honra!

 

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