Ex-alunos do ICMC criam seus primeiros jogos e abrem o próprio negócio

Paixão que vem de infância acompanha criadores de jogos que, em 2016, planejam lançar produtos em um mercado que deve movimentar, este ano, US$ 1,45 bilhão no Brasil.

Mario Bros, Donkey Kong, Counter Strike, Mortal Kombat são alguns nomes que fazem parte do mundo dos amantes de jogos eletrônicos. Desde cedo, eles mergulham na atmosfera dos games e, a cada jogo terminado, a ansiedade aumenta para que uma nova aventura comece. Agora imagine se, um dia, esses jogadores criassem o próprio jogo com a história que desejassem. Esse cenário está se tornando realidade para alunos e ex-alunos do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, que estão trabalhando no desenvolvimento de jogos tanto para smartphones quanto para consoles de videogame, obtendo destaque no mercado.

Um exemplo bem-sucedido é o ex-aluno Tales Sampaio. Ele foi estudante de Sistemas de Informação do Instituto e, desde cedo, gostava de jogos eletrônicos. A possibilidade de ter uma formação sólida para poder criar o próprio game foi o que motivou o ex-aluno a ingressar no ICMC. Inspirado nos jogos de tiro Time Crisis e Virtual Cop, o artista 3D está desenvolvendo o game Grand Shooter para tablets e smartphones, que conta a história de Joan, uma ex-militar que sofreu um trauma muito grande em sua última participação no exército e vive enfrentando flashes do passado. Agora, ela deve enfrentar inimigos para encontrar e salvar a namorada que foi sequestrada, uma policial com a qual tinha um caso secreto. O roteiro foi idealizado pela empresa carioca Fableware.

Em desenvolvimento há cerca de dez meses, o jogo fez parte de um dos trabalhos de conclusão de curso do ex-aluno e está em fase final de produção, com previsão de lançamento para o início de 2016. “Nossas prioridades são saber se o game está rodando bem e se as animações estão legais. Esperamos que o primeiro capítulo esteja finalizado até dezembro”, conta Sampaio. O jogo terá quatro capítulos, com cinco fases cada e o nível de dificuldade aumentado assim que o usuário passar por cada uma delas. Para baixar a versão de teste do jogo, clique aqui.

Inicialmente, o jogo estará disponível nas plataformas Android e IOS e será gratuito. “A base fornecida pelo ICMC foi o grande diferencial que propiciou que nosso jogo conseguisse rodar em plataformas móveis com alto desempenho em seu processamento”, conta Sampaio. Ano passado, o protótipo do jogo foi levado ao 13º Simpósio Brasileiro de Games e, segundo o ex-aluno, agradou tanto adultos quanto crianças.

O jogo também oferecerá uma opção para os jogadores que desejarem comprar a moeda oficial do game, a qual permitirá adquirir novas armas e personalizar o personagem. Além disso, outra forma de ganhar moedas é clicar em um ícone e assistir a uma propaganda com duração de 30 segundos. Dois ex-alunos da UFSCar, que são formados em Imagem e Som, ajudam Sampaio no desenvolvimento do jogo: Lucas Fonseca atua na parte de programação e game design; já Luiz Gustavo Marquetti trabalha com a modelagem 3D do cenário e dos objetos do jogo, além de atuar na questão lógica do game.

A ideia de desenvolver seu próprio game possibilitou a Sampaio abrir uma startup, empresa iniciante no ramo de tecnologia. A empresa, que recebeu o nome de Grumpy Panda Studios, foi criada depois de uma conversa que ele teve com Victor Stabile, diretor da Sanca Ventures, organização responsável por transformar novas ideias em startups, com sede em São Carlos.

Mercado aquecido

“Hoje, os jogos não fazem parte de um nicho, são produzidos para atender a públicos diversos e com propósitos diferentes. Por isso, diversas empresas de tecnologia possuem setores responsáveis por desenvolver jogos e frequentemente recrutam alunos do ICMC para esse fim”, explica o professor Moacir Ponti. Segundo ele, os cursos de computação do Instituto dão um bom embasamento para a formação desse profissional. “No ICMC, os estudantes também podem fazer parte do grupo Fellowship of the Game (FoG), cujo objetivo é reunir alunos com diversas habilidades como programação, arte, multimídia e roteiro para aprender a desenvolver jogos”, completa.

Recente pesquisa realizada pela consultoria especializada no ramo de jogos Newzoo revela que o mercado brasileiro de games é o primeiro em faturamento de toda a América Latina e o 11º no mundo. Segundo a empresa, o Brasil tem uma estimativa de receita para 2015 de US$ 1,45 bilhão.

Quem também está apostando nesse mercado em franca expansão é Julio Trasferetti, aluno de Ciências de Computação do ICMC, outro fã de videogames desde criança: “Quando era pequeno, eu já jogava, assistia a desenhos e ficava imaginando com tudo aquilo era feito, como funcionava”. Hoje, aos 21 anos, ele entende esses mecanismos muito bem e está desenvolvendo o jogo Run, que será lançado no primeiro semestre de 2016 para Playstation 4, Xbox One e PC.

O game, que foi inspirado na série japonesa de jogos Metal Gear, conta a história de Isaac Wain, um ex-agente diagnosticado com esquizofrenia que foi preso acusado de matar a esposa. Ao mesmo tempo em que convive com a doença, o personagem deve se desdobrar para conseguir fugir da prisão onde foi levado. “Eu estava de férias e um dia acordei com essa história na cabeça, até os nomes dos personagens vieram junto”, conta Trasferetti, que programa desde os 12 anos.

O primeiro passo rumo ao seu sonho aconteceu ano passado. Ele abriu a microempresa Torch Games em Indaiatuba, no interior de São Paulo, sua cidade natal. Com o roteiro de Run pronto, começou a recrutar pessoas do mundo todo para que o ajudassem no projeto. Atualmente, ele conta com oito colaboradores no total, distribuídos entre Brasil, Marrocos, Hungria, França, Grécia e Estados Unidos.

O pontapé inicial para a abertura de seu próprio negócio foi a atuação de Trasferetti com o software de desenvolvimentos de games Unreal Engine, quando fez testes de plataformas, criando vários jogos a fim de encontrar algum possível problema mecânico no funcionamento dos softwares: “Foi a partir desse trabalho que percebi que conseguiria abrir minha empresa”.

Com o Run idealizado, o projeto do jogo foi submetido à Sony e à Microsoft. As empresas possuem programas que aceitam propostas de novos games de qualquer desenvolvedor do mundo e o do estudante do ICMC foi aprovado. A versão pré-oficial (beta) do game foi exibida em grandes feiras americanas do ramo como a Game Developers Conference (GDC) e a Eletronic Entertainment Expo (E3). Segundo o aluno, a proposta obteve uma boa aceitação do público. 

Trasferetti também foi membro do FoG e conta que tenta passar sua experiência para os membros do grupo. “Eu quis trazer minhas conquistas para eles, mostrar esse caminho paralelo à Universidade que eu tracei. Muitos têm vontade de criar seu jogo, mas não sabem exatamente para onde seguir”, revela. Ainda sobre o FoG, o estudante destacou a relevância do trabalho coletivo para o desenvolvimento de games: “Esse trabalho em grupo e o fato deles aprenderem a lidar com pessoas diferentes são as coisas mais importantes”.

Henrique Fontes / Assessoria de Comunicação do ICMC

 

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