USP e Estadão lançam Corrupteca, biblioteca digital sobre corrupção

Parceria com o jornal O Estado de São Paulo, biblioteca reúne publicações científicas e notícias relacionadas à corrupção publicadas desde 1875.

O Núcleo de Pesquisa em Políticas Públicas (NUPPs) da USP lançou nesta quinta-feira (1º), em parceria com o jornal O Estado de São Paulo, a Corrupteca, uma biblioteca internacional digital especializada em corrupção. O evento, no Auditório da Colméia, na USP, reuniu jornalistas, pesquisadores e os idealizadores do projeto.

Nessa primeira fase, a Corrupteca conta com cerca de 100 mil volumes digitais de textos completos. O acervo reúne a produção científica específica em corrupção extraída de 48.567 periódicos científicos, disponíveis em 1.643 universidades e centros de pesquisa de 63 países que fazem parte do consórcio Open Archives Initiative (OAI). Além disso, ela conta também com o Acervo de Notícias que, em parceria com o Acervo Digital do jornal O Estado de São Paulo, reúne tudo que foi publicado no jornal relacionado à corrupção desde 1875. A consulta é aberta ao público.

Democracia e corrupção

Pesquisas desenvolvidas no Núcleo questionam a qualidade da democracia. Segundo José Álvaro Moisés, diretor científico do NUPPs e diretor geral do projeto, não há duvidas de que a democracia existe no Brasil: ciclos eleitorais se sucedem normalmente, garantindo a alternância do poder. Há maior liberdade e o acesso aos direitos foi ampliado. As pesquisas se voltam, então, para o funcionamento dessa democracia, e a corrupção é indicador de que há problemas em sua atual situação.

O crescimento desses estudos mostra a necessidade de uma ferramenta de informação consolidada para os pesquisadores da corrupção. Para esse fim, surge a Corrupteca: “A ideia é construir uma plataforma que indique não apenas os fatos e fenômenos da corrupção, mas que também traga análises que permitam indicar as consequências dela. É uma ferramenta analítica capaz de municiar os estudantes e pesquisadores do tema com material empírico”, explica Moisés.

A ideia é construir uma plataforma que também traga análises para indicar as consequências [da corrupção].

Além da importância para os pesquisadores, a criação de uma biblioteca digital com acesso às notícias é uma oportunidade de manter vivo o acervo dos jornais em uma época em que se questiona os rumos da mídia, como destacou Ricardo Gandour, diretor de conteúdo do jornal O Estado de S. Paulo, durante o lançamento do projeto.

Web semântica

A implantação tecnológica do projeto foi feita pelo pesquisador Giovanni Eldasi, especialista em tecnologia e educação e um dos criadores do OAI, protocolo capaz de concentrar conteúdos disponibilizados pelas bibliotecas digitais. A grande inovação da Corrupteca, segundo Eldasi, fica por conta da incorporação da “Web Semântica” ou “Web 3.0”, que criou uma ontologia da corrupção, no qual conceitos semânticos como “Caixa 2” são utilizados para filtrar os artigos e identificá-los não apenas pelo termo, mas pelo contexto também.

Um destaque é a timeline dos casos de corrupção, na qual são dispostos, lado a lado na tela, artigos científicos e notícias do Estadão sobre o “Mensalão” ou o “Impeachment do Collor”, por exemplo. Há planos para ampliação da ferramenta, conforme o crescimento do acervo. Outros planos pretendem uma futura integração da Corrupteca com bases jurídicas de processos. “Aliado ao acervo de notícias, será possível saber o que aconteceu, quem foi processado, se eventualmente ainda existe inquérito, se já foi concluído, se houve devolução dos recursos públicos”, exemplifica o diretor.

Grandes expectativas

A expectativa dos criadores da Corrupteca é que a reunião de todo esse material científico e jornalístico seja capaz de melhorar a qualidade da pesquisa, atrair interesse dos alunos e até mesmo de pesquisadores de outras universidades, ampliando a rede de conhecimento.

Ao estabelecer processos comparativos sobre a corrupção no Brasil com outros países, espera-se que o projeto tenha repercussão também fora do País. O acesso ao conteúdo da Corrupteca deve também estimular a pressão popular nos gestores, afinal, a corrupção fragiliza as instituições, como o Congresso por exemplo, ao evidenciar seu mal funcionamento e afeta os investimentos em políticas públicas, pois retira recursos que seriam aplicados na melhoria da educação ou promoção da segurança.

Em se tratando de situações que afetam diretamente a vida da população, acredita-se que quanto maior conhecimento sobre os processos e a dinâmica da corrupção, mais ferramentas a sociedade adquire para exigir um gestão honesta.

Mais informações: site http://nupps.usp.br/corrupteca

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