Entre todas as doenças que atingem as pessoas a partir dos 40 anos de idade, a osteoartrose é sem dúvidas a mais comum delas. Estima-se que ela ocorra em até 90% da população adulta mundial. Em função disso, o Laboratório de Biomecânica do Movimento e Postura Humana, do Departamento de Fisioterapita, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional (Fofito) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), desenvolveu uma pesquisa com cerca de 60 idosas para avaliar métodos que possam ao menos retardar a evolução da doença – já que a osteoartrose não tem cura.
Também conhecida como artrose, a osteoartrose é uma doença das articulações caracterizada pela degeneração das cartilagens, acompanhada de alterações prejudiciais nas estruturas ósseas vizinhas. São exemplos de articulações os joelhos, os tornozelos, os dedos das mãos, os dos pés, o quadril, as vértebras da coluna, os ombros, os cotovelos, os punhos, a mandíbula, entre outros. Em todas estas articulações está presente o tecido cartilaginoso.
A função básica da cartilagem articular é a de diminuir o atrito entre duas superfícies ósseas quando essas executam qualquer tipo de movimento, funcionando como mecanismo de absorção de impacto. Ou seja, se as cartilagens articulares não existissem, um osso se chocaria com outro.
Coordenado por Isabel de Camargo Neves Sacco, pesquisadora e professora associada à FMUSP, o Laboratório realizou uma pesquisa durante seis meses com cerca de 60 idosas avaliando métodos que podem retardar a evolução dessa doença, através de equipamentos que permitem analisar como é feita a distribuição das cargas do corpo nos pés do paciente.
Simulação do pé descalço
A inspiração para a elaboração da pesquisa veio dos Estados Unidos. Como conta Isabel, “em 2006, um grupo de Nova Iorque divulgou um estudo que mostrava que velhinhas que andavam descalças e tinham artrose, geravam uma menor carga interna na articulação dos joelhos do que quando andavam de tênis. E essas cargas internas no joelho é que são as causadoras da degeneração da cartilagem. Então, através da diminuição dessa carga, foi possível postergar a evolução da doença”.
O pé é formado por 25 músculos, 26 ossos, 57 articulações e 108 ligamentos, e todas essas estruturas devem ser exercitadas e estimuladas. Afinal, o uso de todos esses componentes pode diminuir as cargas nos membros inferiores, pois o apoio dos pés no chão atenua a carga que chega ao joelho – que por sua vez alivia a carga que chega ao quadril, e assim por diante. “Existem elementos no pé, e no próprio aparelho locomotor, que atenuam muito mais carga que um calçado. O pé humano é muito mais eficiente para absorver impacto do que um tênis. Então, o uso da musculatura, é a melhor solução que nós temos”, afirma Isabel.
O pé humano é muito mais eficiente para absorver impacto do que um tênis.
No entanto, como não é possível simplesmente falar para os pacientes saírem andando descalços, o Laboratório passou a procurar algum calçado que simulasse o pé descalço. Até que encontraram uma sapatilha muito flexível desenvolvida pela Beira-Rio, empresa de calçados femininos. “Através do uso da sapatilha, nós conseguimos igualar as condições do pé descalço e, em alguns momentos, conseguimos diminuir a carga em até 12% a menos em relação ao andar descalço”, descreve a pesquisadora.
Como método de avaliação, a pesquisa dividiu as 60 idosas participantes em dois grupos: um que iria usar a sapatilha durante seis meses, e outro que iria manter a rotina normal durante esse período. As avaliações realizadas no fim dos seis meses mostraram que o grupo que utilizou o calçado flexível manteve o mesmo nível de carga no joelho ao longo do semestre, enquanto que o grupo de idosas que não utilizou o calçado teve um aumento da sobrecarga mecânica no joelho. “O aumento da sobrecarga não foi um acréscimo significativo. Mas, de qualquer modo, houve um aumento da carga ao longo de seis meses, enquanto que o grupo que usou o calçado não teve nenhuma alteração”, comenta Isabel.
A pesquisa também quantificou que, depois de seis meses de uso do calçado, houve a diminuição de até 45% da dor das pacientes do primeiro grupo; e houve também a melhora de quase 70% da função (capacidade de realizar atividades do dia a dia) das pacientes.
O calçado utilizado na pesquisa já existe há muitos anos e tem baixo custo. Isabel comenta que o mesmo grupo de Nova Iorque que provou que andar descalço é melhor, também buscou um calçado que simulasse o pé descalço – e encontraram um sapato da Puma que custava 100 dólares. “Mas nós do Laboratório, com apenas 17 reais, conseguimos reduzir a carga das pacientes”. Assim, o estudo demonstrou que através de um sapato barato e acessível a praticamente toda a população, os idosos podem desacelerar facilmente o avanço dessa doença.
Mais informações: (11) 3091-8426, email icnsacco@usp.br, site http://www.usp.br/labimph/index.php