Da Assessoria de Comunicação da FEA – ced@usp.br
Não é surpresa para ninguém que as mulheres têm sido cada vez mais presentes no mercado de trabalho. Estudo desenvolvido na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP analisou como esse movimento tem repercutido na esfera familiar, tendo desdobramentos não só na carreira da mulher, mas também na do marido – fenômeno conhecido como famílias de dupla carreira (dual career). De acordo com a pesquisa, feita por Heliani Berlato dos Santos em sua tese de Doutorado, orientada pela professora Tania Casado, a migração da mulher do ambiente doméstico para espaços públicos de trabalho alterou estruturas e impactou conceitos arraigados aos cotidianos das pessoas.
O modelo familiar tradicional e a identidade de homens e mulheres em relação ao desempenho de suas funções são duas estruturas impactadas pela mutação dessas mesmas estruturas. Tais mudanças, que acabaram favorecendo uma relação mais íntima entre família e trabalho, levaram a mulher a assumir responsabilidades e atividades antes consideradas somente dos homens, como o desenvolvimento e comprometimento com sua própria carreira. Dessa forma, a fim de conhecer como essas relações estão se estabelecendo, propôs-se como objetivo geral do estudo investigar quais os fatores determinantes que constituem o fenômeno da dual career no contexto brasileiro.
Inicialmente, foi conduzida uma pesquisa bibliográfica sobre carreira, visando a construção do referencial teórico, seguida de uma discussão de gênero, a fim de entender as mudanças nessa área e seus impactos na dupla carreira. A pesquisa contou com 340 participantes, todos ex-alunos da FEA, que deveriam ser casados ou viver maritalmente. Os resultados permitiram caracterizar, por meio de estatísticas descritivas, o perfil dos casais de dupla carreira no cenário brasileiro. Observou-se na amostra predominância de pessoas do gênero masculino. Há maior frequência de casais legalmente unidos, escolaridade maior do que a graduação e atuação em empresas de grande porte. Alguns desses resultados corroboram estudos anteriores, e outros contribuem com novas informações sobre as características desses casais.
Tipos
Com base nos estudos sobre tipologias, aplicou-se a análise de cluster com o objetivo de agrupar os indivíduos com comportamentos próximos nas questões que indicam a postura diante da família e do trabalho. Obtiveram-se cinco tipos de dual career: familista coordenada, familista convencional, carreirista coordenada, carreirista convencional e acrobata.
Os familistas são aqueles que priorizam a família, os carreiristas priorizam a carreira e os acrobatas atribuem importância similar a ambas as esferas. Verificou-se na amostra que há uma maior adesão ao tipo acrobata, ou seja, os casais estão dispostos a atuar simultaneamente nas esferas família e carreira.
Considerando-se essas tipologias, foram identificadas as percepções que os participantes desenvolvem sobre os benefícios e conflitos que a prática da dual career pode originar. Dessa forma, aplicou-se a análise fatorial, para identificar os diferentes tipos de benefícios e conflitos advindos da dual career. Foram obtidos sete fatores e observou-se predominância dos benefícios sobre os conflitos, ou seja, os respondentes perceberam com maior relevância os benefícios do que os conflitos da dupla carreira.
As possíveis contribuições deste estudo envolvem a perspectiva individual e também organizacional. Na perspectiva individual, ajuda a delinear quais são as prioridades desse casal, seus anseios em relação à carreira e à família, o que favorece a perspectiva organizacional, já que traz informações sobre o colaborador que a empresa possui, possibilitando a esta definir estratégias direcionadas a adequar as políticas de trabalho ao perfil no qual o seu funcionário dual career se adequa.
Mais informações: email hberlato@usp.br