Cientistas brasileiros atuam em satélite sino-brasileiro

Pesquisadores de empresa spin-off do Instituto de Física de São Carlos desenvolvem câmeras para o CBERS-4.

Rui Sintra / Assessoria de Comunicação do IFSC

No dia 7 de dezembro, os pesquisadores e técnicos envolvidos na cooperação espacial entre Brasil e China, uma parceria criada em 1988 com o título China-Brazil Earth Resources Satellite (CBERS), acompanharam o lançamento do foguete “Longa Marca 4B”, no Taiyuan Satellite Launch Center, na China, que teve o objetivo de colocar em órbita o Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres CBERS – 4,55% desenvolvido e produzido no Brasil.

Em especial, duas das quatro câmeras que compõem a carga útil do satélite foram desenvolvidas e produzidas pela empresa OPTO Eletrônica S/A — uma spin-off do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP. Em 2006, a OPTO ganhou a concorrência internacional promovida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e trabalha desde então na construção dessas câmeras.

A missão, que estava programada para o final de 2016, foi antecipada devido à falha registrada em um dos estágios finais do lançamento do foguete que levaria para órbita o CBERS-3, um acidente que destruiu todo o equipamento em dezembro do ano passado. Como há grandes chances de ocorrerem falhas em missões como esta, os cientistas brasileiros e chineses já tinham se precavido, tendo produzido outros dois conjuntos de equipamentos, o que possibilitou uma nova tentativa de lançamento, desta vez realizada com sucesso.

“Foi uma frustração enorme quando assisti ao acidente do CBERS-3, em dezembro de 2013, mas já prevíamos tais riscos e estávamos preparados para esse caso”, afirma o professor Jarbas Caiado de Castro Neto, do Grupo de Óptica do IFSC, um dos principais desenvolvedores do projeto, empreendedor e acionista da OPTO.

O CBERS-4, que pesa aproximadamente duas toneladas, é constituído por quatro câmeras, sendo as duas principais, a Câmera Multispectral — totalmente construída pela empresa são-carlense — e a Câmera Imageadora de Amplo Campo de Visada —, igualmente desenvolvida e construída pela OPTO em parceria com outra empresa nacional.

Entre os diversos objetivos do CBERS-4, destacam-se o monitoramento de áreas de desmatamento da Amazônia, expansão de regiões agrícolas, aplicações em mapas de queimadas e, inclusive, pesquisas de desenvolvimento urbano e bacias hidrográficas. As câmeras produzidas pela spin-off do IFSC possuem sensores CCD visíveis e infravermelhos que destacam, por meio de imagens de cores distintas, as áreas de desmatamentos.

O processo de desenvolvimento das duas câmeras englobou aproximadamente os 450 funcionários da OPTO, em especial os 75 membros do Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), que contam com diversos pesquisadores, ex-alunos de graduação e pós-graduação do IFSC e engenheiros.

“Desenvolver as câmeras foi um trabalho que exigiu muita capacidade de projetar, construir, alinhar e testar esses equipamentos de alta tecnologia e complexidade. Um projeto de grande importância como este traz diversos desafios que nos empolgam”, diz Jarbas Caiado, sublinhando que esse projeto, que durou aproximadamente oito anos, começou quando o professor Luiz Carlos Miranda, presidente do INPE em 2006 e pai do professor Paulo Barbeitas Miranda (IFSC), o procurou e, posteriormente, contratou a OPTO para realizar esse trabalho.

Satélite Amazônia

Após essa missão, a empresa brasileira já está desenvolvendo outro grande projeto: o satélite Amazônia, 100% nacional, cuja câmera inovadora — uma versão entre a WFI e a MUX — está sendo desenvolvida pelos pesquisadores da OPTO. Este novo satélite, desta vez produzido inteiramente no Brasil, deverá ser lançado em 2018.

“O tempo de revisita [que é a imagem completa da terra] da câmera MUX é de vinte e sete dias. A WFI possui uma largura de imagem maior, o que permite que ela faça uma imagem completa da Terra a cada cinco dias, compondo as imagens obtidas a cada uma das cinco voltas que o satélite faz por dia”, explica Jarbas Caiado.

A Câmera Multispectral (MUX), que possui alta resolução no solo (20 metros) e largura de imagem de 120 Km, é formada por quatro equipamentos, sendo eles o MOB, conjunto ótico constituído por 11 lentes e um espelho; o RBNA, módulo que faz a aquisição de imagem; RBNB, eletrônica responsável pelo controle térmico, ajuste de foco e controle interno do sistema de calibração; e o RBNC, responsável por gerar os relógios de leitura do sensor CCD, e pelo processamento das saídas CCD analógicas em sinais digitais e de codificação de dados.

Já a Câmera Imageadora de Amplo Campo de Visada (WFI), que fornece imagens de média resolução (64 metros) no solo e largura da imagem de 866 Km, teve como grande desafio a melhora por um fator de 2X da resolução espacial, em comparação com os sensores presentes no CBERS-1 e CBERS-2, alem da inclusão de quatro bandas espectrais não presentes nos modelos anteriores.

Para o docente, esse projeto, assim como a missão do CBERS-4, é prova de que o país tem profissionais com grande capacidade para superar dificuldades, bem como um total controle nas produções ópticas de satélites.

“O Brasil necessita de grandes desafios. A OPTO, que está ligada a instituições como o INPE e o IFSC, é um grande exemplo de que somos capazes de reagir aos desafios tecnológicos apresentados. O segredo está em ter uma equipe de pesquisadores e técnicos de alta competência como a equipe que o diretor de P&D da Opto, Mario Stefani, doutor em física pelo IFSC, montou para esse projeto. O sucesso do CBERS-4 deverá abrir novas portas internacionais para a empresa, no restrito clube de países que dominam essa tecnologia”, conclui Jarbas Caiado, que acrescenta: “Tanto o CBERS-4, quanto seus antecessores, como, inclusive, o próximo satélite brasileiro, tem a assinatura do Instituto de Física de São Carlos e, por consequência, o fingerprint da Universidade de São Paulo, o que muito nos orgulha e incentiva.

OPTO Eletrônica

Sediada em São Carlos, a OPTO Eletrônica S/A foi fundada em 1985 por pesquisadores e ex-alunos do IFSC. Com atuação nas áreas médica, industrial, de componentes ópticos, aeroespacial e de defesa, a companhia recebeu o primeiro lugar no “Prêmio FINEP de Inovação” na categoria Empresa Média, em dezembro de 2009.

Sempre na vanguarda das novas tecnologias optoeletrônicas, essa indústria foi a primeira empresa do hemisfério sul a produzir um laser, tendo, também, fabricado o primeiro leitor de códigos de barra para supermercados. Além de ter fabricado aproximadamente um milhão de refletores odontológicos, a OPTO também nacionalizou a produção de componentes óticos de alta precisão. Na área médica a Opto se destaca no desenvolvimento e produção de equipamentos para diagnóstico e tratamento de doenças do olho humano.

Mais informações: (16) 3373-9770

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