Diagnóstico da tuberculose pode demorar 30 dias, mostra pesquisa feita em Ribeirão Preto

Entre 100 entrevistados, 62% não tiveram a tuberculose como hipótese de diagnóstico no primeiro serviço de saúde visitado.

Camila Ruiz / Assessoria de Comunicação do Campus de Ribeirão Preto

Em Ribeirão Preto, um paciente pode esperar até 30 dias para obter o diagnóstico de tuberculose no sistema de saúde da cidade. É o que mostra pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP. Entre 100 entrevistados, 62% não tiveram a tuberculose como hipótese de diagnóstico no primeiro serviço de saúde visitado, ou então, não foram informados sobre o que poderia ser a queixa apresentada.

Segundo a autora do estudo, a enfermeira Maria Eugênia Firmino Brunello, em 58% dos casos, foi solicitado algum tipo de exame no primeiro serviço, embora esse fator não tenha sido determinante para que o diagnóstico fosse esclarecido já na primeira visita. “Os pacientes que procuraram a UAB [Unidades Básicas de Saúde] e o PA [Pronto-Atendimentos] tiveram que passar por três ou mais serviços de saúde para obter o diagnóstico”.

O diagnóstico só foi detectado, em 90% dos casos, nos Serviços Especializados. “O tempo de diagnóstico foi semelhante dentre os que procuraram primeiro as UABs e os PAs, sendo respectivamente de 33,5 e 33 dias” afirma Maria Eugênia. A pesquisadora resgatou, por meio de entrevista, o percurso de 100 pacientes desde o momento em que se sentiu doente até a procura pelo primeiro serviço de saúde e o diagnóstico da doença.

A enfermeira conta que dos 100 pacientes entrevistados, 63% tiveram ao longo do percurso nos serviços de saúde a solicitação de baciloscopia de escarro e 59% solicitação de Raio-X. “A solicitação desses exames específicos para o esclarecimento do caso poderia ter sido maior, mas o fato de o paciente, por vezes, ser inespecífico no relato dos sintomas aos profissionais também pode retardar o tempo de diagnóstico”.

A enfermeira obteve registros relativos aos dados clínicos dos doentes, e informações sobre os serviços de saúde e profissionais que atenderam o paciente, além dos exames solicitados por intermédio dos sistemas de informação TB-WEB, sistema de registros para tuberculose exclusivo do Estado de São Paulo, e Hygia-WEB, sistema de prontuários eletrônicos do município de Ribeirão Preto.

Considerada pelo Ministério da Saúde uma das linhas prioritárias na política nacional de Atenção Básica brasileira, a tuberculose leva a óbito cerca de seis mil pessoas ao ano no País. Segundo o professor Antonio Ruffino Netto, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, tosse com expectoração; febre; falta de apetite; fraqueza; perda de peso; escarro com raias de sangue; e dor no peito são sintomas da doença. “Se tratada adequadamente, quase todos os pacientes evoluem para a cura. Caso haja abandono no tratamento, a doença poderá evoluir para uma tuberculose crônica, com dificuldade maior para cura. Se não houver tratamento, cerca de 50% evoluem para o óbito em um período de cinco anos”, esclarece Ruffino Netto.

Indicadores de desempenho

A pesquisadora elaborou indicadores relacionados ao desempenho dos serviços de saúde para o diagnóstico da tuberculose, considerando as categorias: ofertas de ações; fluxo de atendimento desde o primeiro serviço de saúde até o diagnóstico; resolubilidade dos casos. Os resultados mostraram que 69% dos doentes de tuberculose buscaram o Pronto-atendimento (PA) como primeiro serviço de saúde, seguido pela Unidade de Atenção Básica (UAB) e os Serviços Especializados (SE).

Seria importante um ordenamento do sistema de saúde local, com adequado apoio da rede para a realização de exames laboratoriais, serviços de apoio ao diagnóstico, e equipe capacitada para determinar o menor tempo possível para o diagnóstico da doença. “É necessário implementação da comunicação e integração entre os serviços de saúde para aprimorar o atendimento dos usuários e evitar a repetição desnecessária de procedimentos”, destaca.

A enfermeira comenta que, devido à alta proporção de usuários que utilizam os PAs, é de extrema importância que os profissionais que atuam nesses serviços sejam capacitados para reconhecer rapidamente o paciente com suspeita de tuberculose, o que poderia trazer um impacto positivo na detecção de casos da doença.

A pesquisa foi realizada entre junho e dezembro de 2009. Apesar disso, a situação em 2013 continua a mesma: Maria Eugênia explica que ainda há dificuldades da Atenção Básica no município em diagnosticar a doença, e a intensa busca e preferência dos pacientes pelas Unidades de Pronto-Atendimento. “A coordenação do Programa de Controle da Tuberculose em Ribeirão faz capacitações constantes com agentes comunitários de saúde e equipe de enfermagem, tentando conscientizar e incentivar este nível assistencial a buscar por sintomáticos respiratórios na comunidade”, diz.

A tese Percurso do usuário no sistema de saúde: desempenho dos serviços de saúde para o diagnóstico da tuberculose em Ribeirão Preto (2009) foi orientada pela professora Tereza Cristina Scatena Villa, da EERP, e defendida em fevereiro de 2013.

Mais informações: (16) 3602-3407, email mefb_usp@yahoo.com.br

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