Costura inadequada pode comprometer vestimenta antichamas, revela estudo da EACH

O uso de linhas inadequadas para a costura de peças de vestuário de proteção ao calor e ao fogo pode comprometer a função desses produtos.

Bruna Romão / Da Agência USP de Notícias

O uso de linhas inadequadas para a costura de peças de vestuário de proteção ao calor e ao fogo pode comprometer a função desses produtos. Ao observar certas peças disponíveis no mercado, a engenheira têxtil Sandra Monteiro de Albuquerque notou que algumas delas possuíam costuras que não se enquadram nas normas e padrões de segurança exigidos para esse tipo de roupa. “Não só o tecido, mas a linha correta também deve ser a retardante de chama”, explica.

Em pesquisa de mestrado desenvolvida na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, ela investigou o comportamento de uma série de combinações de tecidos anti-inflamáveis e diferentes tipos de linha ao serem submetidas a testes de inflamabilidade. “Simulei algumas costuras com a linha recomendada e outros com linha comum, de poliéster”, comenta a pesquisadora. Sandra reproduziu, com retalhos de tecidos anti-inflamáveis, costuras similares às observadas nas vestimentas encontradas, submetendo-as a simulações de propagação de fogo. Foram testadas, ao todo, quatro combinações de linha em quatro tecidos especializados. O trabalho Estudo comparativo do comportamento da costura em tecido que retarda a chama submetida ao calor e à chama foi orientado pela professora Regina Aparecida Sanches.

Inflamabilidade

Os experimentos que continham a linha específica para a vestimenta antichamas, de fibra de meta-aramida, foram, como esperado, os de melhor resultado, com autoextinção da chama, bem como sem derretimento ou gotejamento do material. “Se colocamos fogo, a linha queima e se apaga, não continua queimando, não dá continuidade ao fogo”, relata.

Por sua vez, nos testes com costuras que continham fibra de poliéster na composição combinadas a tecidos 100% de algodão com acabamento retardante de chama, as linhas apresentaram derretimento e foi desfeita a amarração do ponto de costura, embora também tenham atendido ao quesito de autoextinção da chama. No entanto, o pior resultado, segundo Sandra, foi o obtido a partir da combinação de tecido de meta-aramida com linhas de poliéster. “Apesar de o tecido não propagar a chama, nesse caso o calor se propagou na costura e a linha pegou fogo”, conta.

A pesquisadora também fez testes com bordados feitos com linhas inadequadas nas roupas. Os resultados mostram que, com a costura inadequada, o bordado também mantém a chama, apresentando ainda o agravante de possuir maior concentração de linha, favorecendo a continuidade do fogo, mesmo após a remoção da fonte de calor.

“Isso é algo que não pode acontecer em vestimentas usadas para proteger de acidentes”, diz a pesquisadora. “Não se pode concentrar apenas na pesquisa e compra do tecido e negligenciar o momento da costura”. No Brasil, a comercialização das roupas de proteção ao calor e ao fogo é permitida a empresas que contem com uma licença e certificado obtidos após rigídos testes, alguns inclusive no exterior, em suas peças. No entanto, o controle do cumprimento das normas pode ser dificultado pela maneira como é distribuída a cadeia de produção no País. “No Brasil, a prática da terceirização da confecção é bastante acentuada. Se não houver um bom controle sobre o terceirizado, para que sejam cumpridas todas as normas, o produto pode ser colocado a perder”, comenta Sandra.

Mais informações: email sandramdealbuquerque@gmail.com, com Sandra Monteiro de Albuquerque

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