Estudo da FFLCH analisa difusão do movimento antifascista na imprensa

Estudo apontou que os grupos antifascistas da América Latina não eram exclusivamente comunistas e trocavam ideias internacionalmente.

Lara Deus / Agência USP de Notícias

Mesmo que nenhum país do cone sul tenha tido um governo fascista, intelectuais argentinos, brasileiros e uruguaios se articularam na forma de grupos de resistência a esta tendência política durante a década de 1930. Estas associações tinham as mais variadas influências, não sendo apenas compostas por membros dos Partidos Comunistas. Em pesquisa de doutorado apresentada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, a historiadora Ângela Meirelles de Oliveira estudou a imprensa como ferramenta para disseminar o antifascismo nestes países.

Governos autoritários do Brasil, Argentina e Uruguai eram um dos principais opositores dos grupos antifascistas, apesar de os presidentes não dirigirem regimes considerados desta ideologia. Isto porque, segundo Ângela, “eles poderiam não ter métodos exclusivamente fascistas, mas tinham muitos fascistas no seu gabinete, no seu entorno”. Mesmo que “grande parte da historiografia sobre o antifascismo o entende como uma ação exclusiva de comunistas”, a historiadora assegura que o diálogo internacional sobre o tema não foi mediado pela União Soviética. Entre os membros das associações estudadas, havia comunistas e militantes provindos de variadas tradições, sem uniformidade de vozes e tendências.

Sob a perspectiva da circulação de ideias a nível transnacional, Ângela estudou as relações entre os grupos antifascistas dos três países tendo como base as publicações da época. “Grande parte deste diálogo se deu pela imprensa”, afirma. Durante a pesquisa, incluiu a França neste estudo, já que o país era um centro em que pensadores europeus antifascistas se reuniam, influenciando muito as ideias dos grupos latino-americanos. Apesar disto, a resistência criada nos países do cone sul não foi uma mera cópia do que era disseminado na Europa. Em uma das conclusões da pesquisa, a historiadora conseguiu comprovar que o antifascismo na América Latina “tinha sua própria cara”, se adaptando a cada local.

A pesquisa Palavras como balas: imprensa e intelectuais antifascistas no cone sul, orientada por Maria Helena Rolim Capelato, abordou a atividade destes intelectuais de 1933 a 1939. O marco inicial foi o ano em que Adolf Hitler ascendeu ao poder na Alemanha, tornando-a o segundo país a adotar o regime fascista, depois da Itália de Benito Mussolini. Este episódio foi importante pois instaurou o medo de que a ideologia se espalhasse pelo mundo. Em 1939, o recorte final, a comunista União Soviética fez um pacto com a Alemanha nazista. Apesar de ser apenas um acordo de não agressão, muitos enxergaram como um apoio do comunismo ao fascismo e algumas associações foram esvaziadas.

Devido ao crescimento da tendência fascista na Europa, grupos alinhados a estas ideias também surgiram nos países latinos, configurando como outro foco de combate dos intelectuais estudados. É o caso da Ação Integralista Brasileira, liderada por Plínio Salgado, da União Nacional do Uruguai e da Legião Cívica Argentina.

Educação e cultura

Os antifascistas no cone sul também representaram uma resistência cultural, tanto disseminando a própria, quanto lutando para conter o avanço dos costumes e ideias fascistas. Segundo a historiadora, o fascismo “representava, por si só, a destruição da inteligência”. Ângela constatou, então, que os grupos estudados tinham medo da influência dos governos da Alemanha e da Itália nas comunidades imigrantes daqui. Isto porque, durante a Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918), o Brasil, a Argentina e o Uruguai receberam muitos imigrantes alemães e italianos. “Houve um temor de nazificação das escolas, de infiltração no país, que não foi um temor de todo errado”, ela explica.

Mais informações: email angelamo@usp.br, com Ângela Meirelles de Oliveira

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