Pesquisador da USP participa de estudo nacional sobre uso de antiplaquetários

Estudo de grupo de pesquisadores brasileiros revela que o uso dos antiplaquetários em pacientes que recebem stents farmacológicos, para diminuir a possibilidade de nova obstrução coronariana por trombose do stent, é eficaz com somente três meses de uso.

Rosemeire Soares Talamone/Serviço de Comunicação Social da CCRP

Estudo de um grupo de pesquisadores brasileiros, com a participação do professor José Antonio Marin Neto, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, revela que o uso dos antiplaquetários (acetil-salicílico e clopidogrel) em pacientes que recebem stents farmacológicos, para diminuir a possibilidade de nova obstrução coronariana por trombose do stent, é eficaz com somente três meses de uso.

Esse resultado foi comemorado pela comunidade científica, uma vez que o uso prolongado desses antiplaquetários, normalmente prescrito por 12 meses, traz elevado risco de hemorragias aos pacientes, principalmente em idosos, que se submetem a uma angioplastia coronariana. O estudo foi conduzido por pesquisadores de 33 centros institucionais nacionais, durante cerca de três anos, e revelou, ainda, que esse resultado pode ser conseguido sem o aumento do risco de trombose do próprio stent implantado durante a angioplastia.

No estudo, os pesquisadores utilizaram os mesmos antiplaquetários (ácido acetil-salicílico e clopidogrel), apenas pelo período de três meses, em um grupo de mais de 1.550 pacientes. Os resultados nesse grupo foram comparados aos de um outro grupo também de mais de 1.550 pacientes, em que o tratamento foi mantido pelo período padrão de 12 meses. “As análises estatísticas mostraram que o uso combinado dos dois remédios antiplaquetários pode ser interrompido, com segurança, após os três meses decorridos do implante desses stents farmacológicos”, afirma Marin Neto.

Para o professor Marin Neto, esses resultados abrem perspectivas imediatas de alteração do protocolo de implante dos stents farmacológicos. “Isso, por reduzir o período de exposição a risco elevado de hemorragia nesses pacientes. Será especialmente relevante para os idosos, que compõem hoje predominantemente a população tratada com os métodos intervencionistas”.

O estudo foi planejado em 2008 e realizado de abril de 2010 a março de 2012. De Ribeirão Preto participaram 100 pacientes da Unidade de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do Hospital das Clínicas da FMRP, que foram seguidos evolutivamente por até 360 dias a partir da data do implante do stent.

Segundo o professor Marin Neto, os resultados são parte de uma pesquisa original e inédita, apresentada à comunidade científica no final de outubro, durante congresso internacional em San Francisco, na Califórnia, pelo médico Fausto Feres, do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.

O artigo Three vs Twelve Months of Dual Antiplatelet Therapy After Zotarolimus-Eluting Stents: The OPTIMIZE Randomized Trial foi publicado na revista norte-americana “Journal of the American Medical Association (JAMA)”do dia 31 de outubro deste ano.

Marin Neto lembra que esse tipo de estudo se insere no paradigma da medicina embasada em evidências. “Condutas médicas terapêuticas necessitam ser respaldadas pela evidência científica de que produzem benefício real, em condições também concretas de segurança, isto é, com efeitos colaterais aceitáveis”. Ele diz que nesse tipo de estudo o método científico consiste na comparação de dois grupos constituídos de forma aleatorizada, isto é, os pacientes sucessivos são alocados a cada grupo por uma forma de sorteio, portanto, independente da vontade individual do médico e do próprio paciente.

“Como as taxas de benefício são em geral de pequena magnitude, torna-se necessário trabalhar com grupos numerosos de pacientes, e de envolver muitos pesquisadores, que devem trabalhar, durante as diversas fases da investigação, de forma coordenada e análises estatísticas complexas são quase sempre necessárias, desde os passos iniciais de concepção do estudo — quando se determina a dimensão amostral de cada grupo de pacientes — até a interpretação dos resultados finais”, conclui.

Stents

Os stens começaram a ser utilizados em larga escala a partir de meados da década de 1990. O uso de stents é necessário hoje em mais de 90% das angioplastias executadas para desentupir as artérias do coração, e também tem aplicações para tratar obstruções em artérias do cérebro, rins e outros vasos sanguíneos.

Os stents farmacológicos são utilizados para o tratamento de doença arterial coronariana, principalmente em pacientes diabéticos. É um dispositivo semelhante a uma mola expansível por um pequeno balão, embebido de medicamentos anti-inflamatórios e imunossupressores, que são liberados nos primeiros seis meses de implante, para evitar uma espécie de rejeição ao material do próprio stent.

Em stents convencionais, que apresentam apenas a estrutura metálica, sem medicações, ocorre maior risco de, nos primeiros seis meses de implante, o vaso fechar novamente, o que ocorre, em cerca de 30% dos pacientes.

Doença arterial coronariana

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), atualmente vive-se uma verdadeira “epidemia” de mortes súbitas, infartos, angina incapacitante e insuficiência cardíaca causadas por obstruções coronarianas. Isso decorre fundamentalmente de muitos fatores sociais, entre os quais o aumento do sedentarismo, hábitos pouco saudáveis de vida em geral, e em especial de alimentação inadequada, tabagismo e excessivo estresse emocional.

Colaborou: Tauana Boemer

Mais informações: (16) 3633.4010

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