Pesquisa da FAU aponta série de interrupções em projetos do Metrô e da CPTM

Estudo da FAU indica que capacidade das linhas de trêm e metrô está, há décadas, defasada em relação à demanda.

Fernando Pivetti / Agência USP de Notícias

Os planos de desenvolvimento estrutural das linhas e estações do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) apresentaram nas últimas décadas uma grande sequência de interrupções. É o que mostra uma pesquisa desenvolvida na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, que realizou levantamentos sobre os sistemas de transporte coletivo de alta capacidade na Região Metropolitana de São Paulo.

Marcos Kiyoto, arquiteto e autor do estudo, apontou em seu estudo de mestrado que os prazos de atualização dos projetos de linhas e estações do metrô e da CPTM são muito mais ágeis do que a execução das obras e efetivação do plano. Dessa forma, segundo o pesquisador, os planos sofrem com uma sequência de sobreposições, de modo que os projetos anteriores são descartados antes mesmo de terem sido efetivamente iniciados.

O estudo abordou planos de estruturação da malha desde a década de 1990 até os dias atuais. O levantamento incluiu projetos como o “Plano Integrado de Transportes Urbanos para o ano de 2020” (PITU 2020), da Secretaria dos Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo (STM), o “Rede Essencial: Trechos Prioritários”, do Metrô, o “Projeto Funcional: Modernização da Malha”, da CPTM, o PITU 2025 e o “Plano de Expansão” ambos também da STM. “Buscamos entender a relação entre o que está posto nos planos e o que é efetivamente implantado”, afirma Kiyoto.

Durante o projeto de pesquisa, o pesquisador realizou leituras de publicações oficiais que abordavam os planejamentos estruturais como um plano estatal. “Nesse sentido, nos atemos àquilo que já estava oficializado, em detrimento da utilização de entrevistas”. Cada projeto foi lido sob as óticas da escolha de cenários socioeconômicos futuros e de tecnologias e sistemas para diferentes modos de transporte, bem como o desenho das redes de transporte propostas e a coerência entre o discurso dos diversos planos. “Também foi feito um estudo histórico sobre o desenvolvimento da metrópole, suas redes de transporte, e os planos de transporte anteriores ao período escolhido”, completa.

Um dos principais apontamentos do estudo se relaciona ao fato de que a existência ou não de um plano não tem relação alguma com o que é efetivamente implantado. Kiyoto afirma que as linhas entregues nos últimos vinte anos já constavam como diretrizes nos planos da década de 1980. “É o caso da Linha 5 – Lilás, Linha 4 – Amarela, extensões das linhas 1 – Azul e 2 – Verde, e a modernização dos trens da CPTM”. Ele ressalta também que “as etapas que estão em obras hoje e que não constavam nestes planos mais antigos, basicamente as linhas de monotrilhos, também não constam nas propostas dos planos recentes. O que se realiza, de fato, infelizmente independe do planejamento”.

Demandas atuais

Segundo o arquiteto, as estações e linhas entregues nos últimos anos e a somatória das obras futuras não são suficientes para atender as demandas atuais. “O que temos hoje é praticamente a rede proposta em 1985”. Nos relatórios técnicos analisados durante o levantamento, algumas conclusões já apontavam para esse estado de saturação das linhas. Um dos documentos afirmava que a demanda da Linha 3 – Vermelha, então Linha Leste-Oeste, prevista para 1987, permite concluir que a linha iniciou sua operação plena já em estado de saturação. “Isso foi escrito em 1985, antes da inauguração da Linha Leste-Oeste e, no entanto, nenhuma medida efetiva nesse sentido foi tomada. Fica claro que a questão é puramente política, a questão técnica é há muito tempo conhecida”.

Mais informações: email marcos.isoda@usp.br, com Marcos Kiyoto

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