Acampamentos de diabetes são eficazes, mas há limitações

As atividades auxiliam no melhor conhecimento da diabetes, controle e trocas de experiências sobre a doença.

O controle de diabetes exige mudanças de hábito de vida e podem envolver a família toda, principalmente, se o portador da doença é uma criança ou jovem. Aprender o autocuidado, manter alimentação adequada e realizar atividade física são algumas das rotinas para quem tem diabetes. Uma das estratégias para desenvolver autonomia e independência de vida é o acampamento educativo para crianças e jovens com diabetes.

Em todo o mundo, existem cerca de 400 acampamentos educativos, segundo pesquisadores do Brasil e Estados Unidos que analisaram diferentes aspectos dos acampamentos e sua eficácia a partir do levantamento de estudos e publicações em nível mundial.

Os resultados constam no artigo Are diabetes camps effective?, publicado na edição de março da revista científica Diabetes Research and Clinical Practice. Um dos apontamentos é que, de maneira geral, o impacto dos acampamentos é positivo para aquisição de conhecimento e alterações psicossociais e fisiológicos. Entretanto, essa atividade possui limitações. Mas há formas de superá-las.

“No pós-acampamento, a família também deve ser contemplada com ações educativas. Uma dificuldade é a criança aprender sobre o controle do diabetes no acampamento, mas quando chega em casa a família não está preparada para colocar em prática”, explica o educador em diabetes Mark Thomaz Ugliara Barone, do Grupo Multidisciplinar de Desenvolvimento e Ritmos Biológicos, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, e um dos autores do estudo. Ele também é vice-presidente da Associação de Diabetes Juvenil (ADJ).

A eficácia do acampamento também depende da assistência oferecida com o fim da atividade. O jovem e a criança devem continuar a receber tratamento do diabetes, com fornecimento de insulina e testes de glicemia, além de orientação profissional e alimentação adequada, segundo Barone.

“Um estudo argentino mostra que, se após a saída das crianças doacampamento elas deixam de ter acesso aos recursos disponíveis nas atividades. Com o tempo se perde o efeito dessa estratégia educativa”, adverte o educador.

Acampamentos eficazes

Entre as vantagens dos acampamentos educativos estão o maior conhecimento sobre o diabetes e as formas de tratamento, e na melhora do aspecto fisiológico com o controle da glicemia e da pressão arterial.

O estudo também destaca o aspecto social e psicológico obtido por meio das vivências entre as crianças e adolescentes. “A atividade do acampamento é extremamente marcante. Ela sensibiliza esses jovens não só porque a informação é passada de profissionais para o jovem, mas, principalmente, pela troca de experiência entre os próprios jovens”, destaca o médico endocrinologista Marco Antonio Vivolo, outro autor do estudo e coordenador do acampamento ADJ-Unifesp, uma parceria da Associação de Diabetes Juvenil com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

O ADJ-Unifesp ocorre anualmente entre o final de janeiro e início de fevereiro em Sapucaí Mirim, Minas Gerais, e reúne cerca de 80 jovens com diabetes e idade de 9 a 15 anos. Durante seis dias de atividades recreativas e educativas, os participantes são acompanhados por médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, dentistas, professores de educação física, jovens líderes de diabetes, e recreacionistas, totalizando 180 pessoas.

De acordo com sua experiência pessoal de 36 anos à frente do acampamento e com a análise dos estudos, Vivolo coloca que apesar da eficácia dessa atividade também depender de ações posteriores, “o acampamento tem papel relevante para esses jovens para se tornarem indivíduos mais capazes, com maior autonomia, convivendo com diabetes tipo 1”.

“Se faz muito acampamento educativo de diabetes no mundo, mas se analisa pouco os efeitos deles. Neste artigo, levantamos uma série de pontos e contrapontos. Esperamos que esse estudo possa ser utilizado como referência tanto pra quem já faz acampamento educativo como para grupos que pretendem começar a fazê-lo”, disse Barone,

Diabetes

A Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) estima que 13 milhões de pessoas convivam com a doença no País. Segundo definição da SBD, o diabetes é uma doença crônica na qual o corpo não produz insulina ou não consegue empregar adequadamente a insulina que produz. A insulina é um hormônio que controla a quantidade de glicose no sangue. O corpo precisa desse hormônio para utilizar a glicose, obtida por meio dos alimentos, como fonte de energia para as células.

Quando a pessoa tem diabetes, o organismo não fabrica insulina e não consegue utilizar a glicose adequadamente. O nível de glicose no sangue fica alto — a hiperglicemia. Se esse quadro permanecer por longos períodos, pode ocorrer danos em órgãos, vasos sanguíneos e nervos.

Entre os tipos de diabetes, há o tipo 1, no qual são necessárias aplicação de injeções diárias de insulina, já que o organismo não produz mais insulina ou a produção é mínima.

No tipo 2, o organismo produz insulina, mas o corpo se torna resistente à ação do hormônio e as taxas de açúcar no sangue se elevam. Outro tipo comum é o gestacional, em que as taxas de glicose do sangue durante a gravidez são elevadas, principalmente quando há um aumento efetivo de peso, mas os níveis de glicose voltam ao normal após o parto.

Hérika Dias / Agência USP de Notícias

Mais informações: email markbarone17@hotmail.com

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