Júlio Bernardes/ Agência USP de Notícias
No Instituto de Biociências (IB) da USP, pesquisa mostra que o nitrogênio do solo, ao estimular o crescimento das plantas, reduz o acúmulo de açucares nas folhas, fazendo com que permaneçam no estado de maturidade por mais tempo. A mudança verificada no trabalho do biólogo Mauro Marabesi permite que as árvores realizem mais fotossíntese e absorvam mais carbono em suas copas, além de poder aumentar a produtividade de espécies agrícolas.
O objetivo do estudo foi entender os fatores que determinam a longevidade das folhas. “Verificou-se que a quantidade de açúcares na folha, que é o resultado de sua produção na fotossíntese menos as quantidades que são utilizadas na respiração e no crescimento das plantas, determinam a longevidade e o desenvolvimento foliar”, conta Marabesi. Os experimentos foram realizados com a Senna alata, leguminosa conhecida popularmente como “mata-pasto”, que por ser uma planta invasora, tem altas taxas de fotossíntese e crescimento. “Também foi averiguado se o nível de nitrogênio do solo pode modificar a intensidade do crescimento”.
Ao determinar a melhor fonte de nitrogênio, a pesquisa verificou que os melhores resultados de crescimento foram obtidos com o amônio, em relação ao uso de nitrato. As concentrações testadas variaram entre 0 e 64 milimolar (cada milimolar equivale a um volume aproximado de 18 miligramas). “Conforme se amplia a dosagem de nitrogênio, aumenta a biomassa e a produção de folhas, o que também leva a uma maior taxa de fotossíntese”, aponta o cientista.
As maiores taxas de crescimento levam a maior utilização dos carbohidratos pela planta, reduzindo seu acúmulo nas folhas. “Acredita-se que o acúmulo de açúcares acelera o envelhecimento, fazendo com que as folhas morram mais depressa”, diz o biólogo.
Longevidade
Marabesi explica que a longevidade das plantas é dividida em três ciclos: expansão, maturidade e senescência. “Na maturidade há uma maior produção de carbohidratos, enquanto na senescência as folhas verdes vão adquirindo uma coloração amarelada até morrerem”, conta.
A adubação nitrogenada fez com que a quantidade de carbohidratos acumulados nas folhas se reduzisse. “A redução permitiu que elas permanecessem no estado de maturidade durante mais tempo”, ressalta o pesquisador. O estudo foi orientado pelo professor Marcos Buckeridge, do IB.
De acordo com o biólogo, o maior número de folhas produtivas na copa das árvores poderá aumentar a absorção de carbono. “Isso permitiria uma maior retenção de dióxido de carbono (CO2), o que seria benéfico em um contexto de mudanças climáticas”, aponta.
Ao mesmo tempo, nas espécies agrícolas, o aumento da taxa de fotossíntese pode direcionar a maior quantidade de carbohidratos para ampliar a produtividade. “Na cana-de-açúcar, por exemplo, haveria maior disponbilidade de açúcar, na soja aumentaria a quantidade de grãos, outras espécies elevariam a produção de frutos, e assim por diante”, conclui Marabesi.
Mais informações: email mauromarabesi@usp.br