Das histórias que vivi na USP

Beth Brait Alvim, mestre pelo Programa de Integração da América Latina (Prolam) da USP

 

Sempre caminhei na direção da educação gratuita.

Nunca paguei escola.

Questão de necessidade, em primeiro lugar. Em segundo, porque defendo educação gratuita e de qualidade para todos.

A USP era um sonho. Desde antes do curso clássico, no colégio onde eu era bolsista, eu já tinha consciência de que não poderia pagar universidade.

Em 1973, ingressei na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e cursei Neolatinas: Português, Latim e Francês. Durante aqueles anos, estudei prioritariamente Latim e Francês, línguas que eu desconhecia e pelas quais me apaixonei.

Entre tantas histórias que vivi na USP, alguns destaques são ter assistido ao Galileu Galilei encenado por alunos da Politécnica e ao Encouraçado Potenkim, do Eisenstein, escondida numa das colmeias onde ficava a Letras. Era ditadura. Tive meu telefone grampeado, recebi ameaças, não pude ir à missa do Wladimir Herzog na Sé. Os agentes do DOPS eram implacáveis.

Ao mesmo tempo, estudei obras icônicas. De Mário de Andrade a Petrarca e Ovídio, até Sartre e Nelson Rodrigues. Os tempos eram duros, mas tive professores fabulosos: Alfredo Bosi, Massaud Moisés, Leyla Perrone, Philippe Willemart, Alcides Vilaça, Décio de Almeida Prado.

Como sempre quis (e quero) voltar à USP, nos anos de 1980 cursei Ação cultural na Escola de Comunicações e Artes (ECA), uma pós latu sensu que mudou a minha vida. Teixeira Coelho, responsável pelo curso, revolucionava. Na sequência, nos anos de 1990, ele foi um parceiro determinante durante minha gestão como diretora cultural da Fundação Cultural Cassiano Ricardo de São José dos Campos. Ao término da gestão, escrevi um livro sobre a história de São José e a construção da esfera pública da cultura da cidade. Teixeira Coelho fez a apresentação.

O livro Ciranda dos tempos – espaços do desejo foi publicado em 2005 e este ano ele será reeditado, pois os temas abordados nele, frutos da minha pós, estão em pauta mais do que nunca.
Nesta nova edição, haverá um capítulo homenageando Teixeira Coelho, que conta com textos de professores e mestres da USP.

Mais tarde, em 2010-2012, me torno mestre pelo Programa de Integração da América Latina (Prolam), sob a orientação da professora Dilma Melo Silva.

O tema da minha dissertação foi Desvelando uma atitude poética para o mundo contemporâneo: experiências com poesia em Diadema (Br) e Catamarca (Arg).

É certo que há muitos recortes a serem relembrados quando falo de USP. Estes são apenas uns poucos.

Ainda hoje, aos 71 anos, sinto forte desejo de voltar e voltar a estudar nesta Universidade maravilhosa, formadora de vidas intensas e ímpares.

 

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