Letras na FFLCH: eu faria tudo de novo!

Clara Jorgewich, egressa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP

 

 

Infeliz com a minha vida profissional, aos 40 anos de idade, graduada em Administração de Empresas e trabalhando por mais de 20 anos em companhias de perfil variado (desde familiares até multinacional gigante), segui o conselho de um colega de trabalho que ouviu minhas queixas: “vai prestar Letras”.

Gostei da ideia e prestei meu segundo vestibular: Letras na USP.

Naquela época, meus dois filhos – Gabriel estava com 9 anos e Lígia 7 – ainda dependiam muito de mim. No entanto, encontrei coragem e prestei a Fuvest.

Na verdade, achei que não seria aprovada; afinal, minha época de ensino médio já ia longe. Mas um bom amigo me disse: “a tua experiência de vida vai contar muitos pontos”.

Animada, me preparei como pude, estudando em apostilas de cursinho emprestadas de uma sobrinha.

Para minha alegria, fui aprovada e senti que aquele era o meu lugar, que havia tomado o rumo certo.

A repercussão da minha empreitada pela USP, que durou 6 anos (Letras FFLCH e Licenciatura FE português e espanhol), não foi apenas a transição para uma carreira mais feliz, mas o alcance de uma visão de mundo cada vez mais dilatada, mais ampliada, graças aos professores e professoras que me guiaram de começo a fim do curso e, claro, muito estudo.

Graças aos meus professores, adquiri noções que nunca havia imaginado sobre a nossa língua falada e escrita (assunto que, aliás, tem provocado discussões acaloradas entre portugueses e brasileiros). Aprendi que língua é a identidade de um povo, que ela é motivadora de preconceito, de exclusão e até de violência.

Graças aos meus professores, entendi a importância de ler os clássicos da antiguidade para compreender quem somos.

Graças aos meus professores, aprendi a amar Cervantes.

Graças aos meus professores, ouvi os tiros da Guerra Civil Espanhola em Max Aub… e chorei.

Graças aos meus professores, viajei pela fantástica literatura hispano-americana do argentino Jorge Luís Borges, do mexicano Juan Rulfo, do cubano Severo Sarduy, do uruguaio Horacio Quiroga e tantos outros.

Graças aos meus professores, naveguei pelo mar salgado da literatura portuguesa.

Graças aos meus professores de literatura brasileira, interpretei o País onde nasci.

Graças aos meus professores, adquiri a língua espanhola e a transmito aos meus alunos.

Entendi que saber interpretar um texto é captar diversos níveis de informação no noticiário, em museus, no cinema, no teatro, em cenas da vida cotidiana. Até criei o canal ClaraMostraLíngua onde interpreto músicas, estátuas públicas, efemérides como os 200 anos da Libertação do Brasil.

Graças à minha passagem pela USP, mudei de carreira empreendendo na área da Comunicação Escrita Empresarial. Publiquei um livro, criei um curso EAD, ministro cursos ao vivo em empresas. Por isso tudo, ganhei o valioso selo DNA USP, indicador de confiabilidade a quem envio orçamentos e outros comunicados.

Para sempre, ganhei 3 amigas queridas nos bancos da faculdade; um raro presente na nossa faixa etária. Nosso grupo tem nome: FILHAS DA USP.

Tudo isso aconteceu dentro da USP, a melhor universidade da América Latina (2023). Parabéns pelos seus 90 anos e obrigada pelo bem que você me fez, pelo bem que você me faz.

Eu faria tudo de novo!

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