A exposição dos formandos do Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP marca o início de uma nova trajetória na vida dos alunos.
Em uma alusão a essa transformação, a mostra “Transformandos” traz obras como esculturas, gravuras, esculturas e litografias, que versam sobre diversas questões sociais e políticas, além de abordar também os dilemas que permeiam a relação do artista com a sua criação. Nesta edição, pela primeira vez o Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP cederá seu espaço expositivo para ser o anfitrião desses trabalhos.
A mostra possui 22 artistas e tem como curadores os professores Mario Ramiro e Claudio Mubarac. Segundo Ramiro, estrear a vida artística expondo suas obras em uma instituição prestigiada como o MAC é uma experiência muito importante para os alunos. Como o departamento não possui um espaço expositivo, para muitos é a primeira mostra pública que participam. A parceria com o museu foi possível devido à transferência de seus pesquisadores e parte do seu acervo para as instalações no Ibirapuera. Assim, de acordo com o professor, esse espaço ficou sendo chamado de “MAC Acadêmico”.
Para o curador, essa associação tem um caráter simbólico importante, já que tanto o Departamento de Artes Plásticas como o MAC são criações do professor Walter Zanini. “O vínculo entre um museu pertencente à Universidade e a sua escola de arte é genético”, ressalta Ramiro. A realização da exposição no MAC celebra o estreitamento das relações dessas duas unidades pertencentes à USP.
O vínculo entre um museu pertencente à Universidade e a sua escola de arte é genético.
A ideia é que a parceria extrapole a exposição e os docentes possam usar o museu como um espaço pedagógico. Ramiro, por exemplo, é professor de escultura, assim, tem grande interesse em trabalhar com a coleção que o MAC abriga dessas obras. “O curso de Artes Plásticas não possui uma disciplina de restauro. Seria interessante ter uma negociação com os técnicos do museu para propiciar o contato dos alunos com essa prática”, exemplifica o curador.
Os primeiros passos
O ano do Trabalho de Conclusão de Curso é o ponto inicial para os primeiros preparativos da exposição. Começam as reuniões entre os alunos e orientadores para um olhar primordial sobre as futuras obras. São analisadas as possibilidades das produções e quais precisarão de equipamentos e instalações ambientais. A partir da curadoria são decididos quais trabalhos devem ser apresentados. Os alunos têm a expectativa de colocar todos, mas como é uma mostra coletiva, é necessário equalizar a quantidade de obras e as relações que elas possuem entre si, como destaca o professor: “o desenho de uma exposição é tão importante quanto os próprios trabalhos em exposição”.
Assim, a arte de montar uma mostra é uma ciência e deve-se estar atento a todos os detalhes para fazer uma boa apresentação. Uma obra de quando qualidade artística, por exemplo, deve estar bem posicionada, para não perder sua força.
Inicialmente é realizado um pré-estudo com as imagens dos projetos enviados pelos alunos. Com base nisso, é feita uma maquete para se ter uma visão das coleções no espaço expositivo. Nesta etapa, é organizada a disposição dos trabalhos para que obras parecidas não estejam concentradas em um lugar só e também que as pinturas não sejam colocadas próximas de produções multimídias que necessitam de um ambiente com pouca luz.
Uma das dificuldades de montar um projeto é saber adequá-lo à realidade, explica Ramiro. O formando que busca produzir uma pintura de cinco metros precisa pensar no espaço para colocá-la e nos materiais que vai precisar comprar, como tinta e lona. O ano do TCC é um momento de muitas negociações e mudanças, desse modo os orientadores têm um papel fundamental para guiar os alunos.
De aluno a artista
A abertura da exposição contou com uma performance do artista Wal Braz, que fez um trabalho envolvendo sexualidade. Uma cadeira com balões de gás em forma de coração centraliza a apresentação, em que o artista entra no museu, senta na cadeira com uma faca na boca e aperta os corações sobre o peito, provocando uma explosão de pétalas sobre o chão. Complementando a obra, em outro espaço expositivo, o artista produziu vídeos abordando questões homoafetivas e homoeróticas.
Nesta edição, pela primeira vez o audiovisual marcou presença na mostra. A aluna Bruna Mass, do Departamento de Rádio Televisão da ECA, é uma das expositoras. Sua obra trabalha os diversos pontos de vistas que a dinâmica da cidade proporciona.
Os dilemas do artista com a sua criação são explorados pela aluna Catharine Rodrigues. Ela conheceu uma travesti e elaborou um projeto para gravar um vídeo em torno da vida dela. No entanto, ao longo do processo a artista entrou em crise com o fato de utilizar alguém para fazer um trabalho de arte. Com intuito de minimizar essa culpa, ela optou por escrever um livro. Conforme o professor, a obra de Catharine concentra uma reflexão sobre a problemática de artistas que vão sempre usar outras pessoas como objetos de sua obra.
A pintura do formando Frederico Heer, um dos poucos alunos negros do Departamento, retrata jovens negros e mulatos em um bar. Abaixo da obra há uma televisão, em que se passam cenas relacionadas ao cotidiano dos moradores de rua e jovens pobres. Já a artista Yuli Diana fez uma citação às exposições na área de ciências. Ela criou uma montanha de argila onde musgos estão surgindo. Uma luz ultravioleta e a ocasional vaporização permite a sobrevivência desse organismo.
A ocupação das escolas pelos secundaristas no ano passado também encontrou espaço na exposição. O artista Pedro Andrada buscou em um depósito algumas carteiras inutilizadas. A obra “Mesas escolares Amassadas” é complementada por desenhos de carteiras que propõem uma nova organização geométrica para a sala de aula. De acordo com o professor, a partir desse trabalho o formando faz um jogo sobre as possibilidades de reorganização do espaço de ensino.
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Serviço
A exposição gratuita está aberta ao público até 15 de março, de terça as sextas-feiras das 10 às 17 horas no Museu de Arte Contemporânea da USP, na Cidade Universitária, em São Paulo.