A realização de um estudo científico envolve o uso de técnicas e métodos que possibilitem verificar como o pesquisador atingiu seu resultado. Esse caminho determinado por uma metodologia é o que diferencia o conhecimento oriundo da ciência. No entanto, são várias as possibilidades de métodos que podem ser aplicados em uma pesquisa, escolhê-los é um dos desafios do cientista. Para proporcionar o acesso e melhorar a formação dos pesquisadores na escolha de suas técnicas científicas, a USP promove anualmente a IPSA-USP Summer School, uma Escola de Verão em Conceitos, Métodos e Técnicas em Ciências Políticas e Relações Internacionais.
A escola é uma parceria entre a International Political Science Association (IPSA), o Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP e a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. A IPSA-USP Summer School faz parte de uma rede de escolas de métodos, ela é a maior e foi a primeira a ser fundada, em 2010. Há outras em Cingapura, África do Sul e Turquia.
“A escola é um evento intensivo de três semanas, no qual trazemos professores que estão na ponta da fronteira do ensino e também do trabalho empírico com métodos em ciências políticas e relações internacionais para ministrar cursos em inglês na USP para estudantes de pós-graduação e docentes”, explica Lorena Barberia, professora da FFLCH e coordenadora da IPSA-USP.
“O mais interessante da escola é trazer a experiência de profissionais de outros países para o Brasil, além disso, possibilita o contato com pesquisadores de universidades estrangeiras”, ressalta Danilo Praxedes Barboza, doutorando em Ciências Políticas na USP e participante de três edições da Escola de Verão.
Um encontro plural
Neste ano, a IPSA-USP reuniu 220 alunos do Brasil e de 20 outros países, os cursos foram realizados entre 18 de janeiro e 5 de fevereiro nos prédios da FFLCH e do IRI. “Como é uma escola de métodos, atrai um público muito grande de outras áreas, como economistas, administradores, médicos, entre outros. A ideia é sempre oferecer uma visão pluralista de métodos. É uma escola forte em métodos quantitativos e qualitativos, e também nos métodos mistos”, destaca a professora Lorena.
A programação é dividida em três cursos de uma semana. No mínimo, são seis horas diárias de atividades. Alguns cursos incluem duas horas adicionais de trabalhos laboratoriais. Para outros, os alunos participam de sessões de discussão, trabalhos de grupo e outras atividades, além de palestras.
“A metodologia de pesquisa que apliquei no mestrado e, agora, no doutorado, aprendi na escola. Nos cursos regulares de metodologia científica, não há uma formação tão abrangente”, disse o doutorando Rodrigo Martins que participou de cinco edições do evento.
Martins conquistou o primeiro lugar na competição de posters, que ocorre no evento e é avaliada por um comitê de professores. O tema de seu trabalho foi a origem do partido político PSDB.
Nos cursos oferecidos pela IPSA-USP, os estudantes podem discutir suas pesquisas e quais são as melhores abordagens a ser adotadas de acordo com a área do estudo. “Você tem um problema de pesquisa, que é o seu tema, e a escola ajuda a resolvê-lo por meio da melhor escolha do método. É uma das poucas experiências acadêmicas de interação com professores de fora do país que pesquisam métodos de ponta”, destaca Matheus Soldi Hardt, doutorando em Relações Internacionais na USP.
O estudante ficou em segundo lugar na competição de posters. O tema de seu trabalho foi a relação entre a opinião pública e a política externa.
Entendendo os dados
A programação da Escola de Verão inclui uma série de encontros chamada Information Session (“sessões de informação” em tradução livre) que proporcionam aos participantes conselhos sobre a profissão e desenvolvimento profissional.
“A oportunidade de conhecer os métodos e sua aplicação facilita a análise de dados e mostra como você pode trabalhar no seu estudo.”
“O Information Session são palestras abertas ao público, em geral, sobre pesquisa e publicação em revistas científicas. Também há uma sessão sobre replicação, há uma corrente nas ciências sociais de que a pesquisa tem que ser replicável. Se você publica um artigo, é preciso garantir todos os dados e as técnicas para ser perfeitamente replicados em outros estudos”, conta Lorena.
A mestranda em Ciências Políticas Joyce Luz participa da Escola de Verão desde a época em que cursava a graduação. Conhecer os diferentes tipos de métodos de pesquisa contribuiu até mesmo para sua iniciação científica. “A oportunidade de conhecer os métodos e sua aplicação facilita a análise de dados e mostra como você pode trabalhar no seu estudo. Às vezes, você interpreta um dado errado porque utilizou o método errado”.
Outra atividade oferecida pela IPSA-USP são os seminários com oportunidades de examinar o impacto de várias metodologias sobre questões específicas. “Por exemplo, neste ano, tivemos um seminário sobre a opinião pública e corrupção no Brasil. Os professores participantes são especialistas em estudar opinião pública no mundo e eles queriam conhecer nossas metodologias em pesquisas para analisar como os escândalos de corrupção influenciam nas eleições e filiações partidárias”, relata a professora Lorena.
A próxima IPSA-USP Summer School já tem data marcada: será de 23 de janeiro a 10 de fevereiro de 2017. A programação ainda não está definida, mas os interessados podem acompanhar no site da escola. A participação nos cursos é paga.
Hérika Dias, especial para o USP Online