A mais ampla análise de genes e mecanismos controladores da célula feita até hoje em gliomas resultou em classificação mais precisa para esses tumores, atualmente incuráveis
Cerca de 9% dos pacientes que têm um glioma – o mais comum e mais agressivo tipo de tumor que surge no encéfalo – progridem de forma diferente do previsto no diagnóstico: ou sobrevivem por mais tempo, ou tinham um tumor mais grave que o estimado pelos médicos. A partir desta constatação, cientistas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP resolveram buscar uma nova forma de classificar esses cânceres, baseada na análise dos genes e dos mecanismos que controlam os genes dentro das células – a epigenética.
Foram usadas as ferramentas mais avançadas para estudos de cânceres atualmente, que são consideradas o futuro do diagnóstico e do tratamento em oncologia.
A nova classificação traz sete subtipos de gliomas, dois deles nunca antes descritos. O estudo, publicado nesta quinta-feira na revista científica Cell, também aponta novos caminhos para se buscar tratamentos. A Cell é o mais importante periódico na área de biologia molecular, segundo o índice JCR, feito pela Thomsom Reuters, que mede o impacto dos artigos das revistas científicas.
A pesquisa envolveu 46 cientistas, de 22 instituições, em seis países. Do Brasil, foi liderada por Houtan Noushmehr, coordenador do laboratório OMICs, da FMRP. Outros autores-sênior foram Antonio Iavarone, professor de neurologia da Universidade de Columbia, em Nova York (EUA) e Roel Verhaak, professor de bioinformática do Instituto MD Anderson, no Texas (EUA).
Entre os autores principais estão Tathiane Malta, pós-doutoranda, e Thais Sabedot, mestre em bioinformática, ambas do laboratório Omics. Elas fizeram a análise da metilação de DNA desses tumores – um dos mecanismos que “liga” ou “desliga” os genes das nossas células. Foi justamente a metilação de DNA que permitiu reclassificar os gliomas.
O estudo foi feito a partir de 1.122 amostras de tumores reunidas pelo The Cancer Genome Atlas (TCGA). Parte delas veio do biobanco da FMRP, da USP, coordenado por Carlos Gilberto Carlotti, diretor da faculdade, e Daniela Tirapelli, professora do departamento de Cirurgia e Anatomia. Luciano Neder, professor do departamento de patologia, também é autor do artigo.
Assista à reportagem em vídeo do Núcleo de Divulgação Científica da USP: