Rui Sintra / Assessoria de Comunicação do IFSC
No segundo semestre de 2014, um artigo do professor José Fernando Fontanari, do Grupo de Física Teórica do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, intitulado Imitative Learning as a Connector of Collective Brains, foi publicado no site da revista científica PlosOne. O objetivo principal da pesquisa, que originou o artigo, é verificar se a forma mais elementar de cooperação que podemos imaginar – a imitação, observada até em polvos e algumas espécies de peixes – é capaz de melhorar a eficiência de um grupo de indivíduos em resolver problemas. A marca de um grupo de trabalho cooperativo é a troca de mensagens, mesmo que involuntária, entre os membros do grupo relatando o progresso parcial de cada pessoa na busca da solução de um problema comum.
Para realizar esta pesquisa, o pesquisador do IFSC utiliza indivíduos virtuais ou agentes – ao invés de pessoas – para solucionar uma charada cripto-aritmética, que consiste em encontrar uma correspondência biunívoca entre letras e dígitos que tornam uma adição de palavras algebricamente correta. Por exemplo, a solução da charada SEND + MORE = MONEY é a correspondência O = 0, M = 1, Y = 2, E = 5, N = 6, D = 7, R = 8, e S = 9.
Todos os agentes utilizam o mesmo método de busca da solução, que é a geração de associações dígito-letra aleatórias. “Eu tenho um certo número de agentes gerando essas associações de forma aleatória, analisando se resolveram ou não a charada e exibindo aos seus pares a qualidade da solução proposta”, explica o professor.
Quando os agentes observam algum companheiro com uma solução de alta qualidade, eles copiam uma das associações dígito-letra usadas por ele, que passa a ser o agente modelo, devido a seu destaque no grupo. “Esse processo é muito interessante, porque introduz o elemento de imitação, bastante comum na natureza”, conta Fontanari.
Ele ressalta que o resultado importante é que, fixada a frequência de imitação, a velocidade com que o grupo de imitadores encontra a solução da charada aumenta com o número de agentes podendo chegar a ser trinta vezes maior do que quando os mesmos agentes trabalham de forma independente. Porém, se o número de agentes ultrapassa um certo número crítico, observa-se uma rápida deterioração do desempenho do grupo que passa a ser muito pior do que no caso do trabalho independente.
Segundo o pesquisador, dada a ubiquidade do aprendizado por imitação, talvez essa seja uma explicação alternativa para o tamanho bem definido dos grupos de animais sociais na natureza.
Problema e solução
O baixo desempenho do grupo de imitadores deve-se ao fato de que, em geral, o agente modelo está longe de resolver o problema, fazendo com que seus imitadores também se afastem da solução. “O indivíduo que está sendo copiado pode ser o melhor do grupo naquele momento, mas ele pode estar longe da solução real, o que é comum em problemas complexos com muitos ótimos locais. Assim, todos os agentes ficam próximos do modelo, não conseguindo explorar todo o espaço de soluções”, explica Fontanari.
De acordo com o pesquisador, existe um teorema provando que o trabalho de grupo é mais eficiente que o trabalho individual. A chave da prova está na diversidade dos membros do grupo: há mais chances de se resolver um problema se tentarmos abordagens diferentes em paralelo. Entretanto, a prova é válida para grupos de indivíduos trabalhando de forma independente. O atual desafio da pesquisa é descobrir como a introdução da colaboração, que diminui a diversidade, modifica a conclusão do teorema. “O objetivo é fazer com que os agentes imitadores usem métodos de busca distintos para que possamos analisar como isso afeta o desempenho do grupo”, conclui.
O que é mais eficiente – trabalhar em grupo ou individualmente? A resposta a essa pergunta é fundamental para a economia dos países desenvolvidos, cuja força de trabalho é formada hoje majoritariamente por pessoas que “resolvem” problemas (por exemplo, planejam novos fármacos, desenvolvem software, projetam foguetes, etc.) e processam informação. Embora seja quase senso comum que um grupo de pessoas trabalhando juntas na solução de um problema seja capaz de resolvê-lo de forma mais rápida que as mesmas pessoas trabalhando de forma independente, o fato é que sabemos muito pouco sobre o ganho quantitativo advindo da cooperação ou sobre os princípios básicos que fazem a cooperação ser mais eficiente que o trabalho independente.
Pense no cérebro humano. Seu imenso poder computacional origina-se da complexa rede de conexões entre os neurônios, que trocam mensagens através das sinapses. Agora, substitua os neurônios por pessoas: O que faria o papel das sinapses conectando cada um deles e possibilitando a emergência de um “cérebro global”, em que indivíduos trabalham juntos, provavelmente de forma involuntária, para a solução de problemas que afetam a humanidade? Para o professor José Fontanari, o análogo social das sinapses é o “aprendizado por imitação”, processo que consiste em copiar alguém ou o método de outra pessoa cujo desempenho seja superior ao do restante do grupo.
Até que esta pesquisa seja finalizada, Fontanari conta que precisará concluir outros dois trabalhos para que possa, de fato, compreender quando o fomento à cooperação entre funcionários passa a ser vantajoso para uma empresa – uma questão que reflete não apenas no setor econômico, mas também na sociedade em geral.
Mais informações: (16) 3373-9770