Guia de turismo de luxo mostra as múltiplas faces de São Paulo

Formada na FFLCH da USP, Flávia Liz trabalha como guia de turismo de luxo trazendo estrangeiros para conhecer São Paulo.

Na vanguarda do chamado turismo vivencial, formada em Letras é especialista em São Paulo e atende clientes como guia pessoal do mundo inteiro em seis idiomas.

A habilitação no curso de Letras frequentemente capacita os profissionais formados nessa área para trabalhar em sala de aula, como revisor ou tradutor. Não foi o caminho trilhado por Flavia Liz Di Paolo, ex-aluna de literatura alemã da USP, que há dez anos viu no segmento de turismo de luxo uma oportunidade profissional.

Formada pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, Flavia Liz não teve dificuldade para decidir o que queria fazer profissionalmente. Ela afirma que a opção pelo turismo vip surgiu naturalmente, em muito devido à sua longa vivência no exterior. Finlândia, França, Alemanha, Itália e Estados Unidos estão entre os países nos quais ela morou e estabeleceu sua rede de contatos.

Já durante a graduação, com residência fixa no Brasil, Flavia Liz fez diversas viagens de intercâmbios, quando preparava roteiros para colegas que desejavam conhecer a a cosmopolitana cidade de São Paulo. Nessa época, desempenhava o papel de anfitriã da cidade, apresentando o melhor que a metrópole tinha a oferecer aos amigos e visitantes estrangeiros. Em 2013, o suplemento especial The Experts, da Condé Nast Traveller Magazine, do Reino Unido, definiu Flavia Liz como “uma lenda urbana”.

Foto: Cecília Bastos
Flavia Liz Di Paolo, especialista em São Paulo | Foto: Cecília Bastos

Personal guide

Na vanguarda do chamado turismo vivencial, atualmente Flavia Liz é especialista em São Paulo e atende clientes como guia pessoal do mundo inteiro em seis idiomas: alemão, italiano, inglês, francês, espanhol e português.

O roteiro é multicultural e vai desde lugares tradicionais, como parques, prédios históricos, restaurantes, galerias de artes e museus, aos mais inusitados, como os tours às comunidades da periferia. É o caso de Paraisópolis, que volta e meia recebe a visita de estrangeiros que vão ao bairro para conhecer o cotidiano das pessoas que moram por lá e suas expressões culturais e artísticas.

Personal guide, como prefere se definir, Flavia Liz explora todos os pontos turísticos da cidade, mas destaca o Pateo do Collegio, no Centro de São Paulo, como lugar que não pode faltar no roteiro dos estrangeiros. A guia considera o complexo um marco da história paulista, já que lá foi erguida a primeira construção da atual cidade de São Paulo. Com arquitetura colonial portuguesa, restando ainda algumas paredes em taipa de pilão, os visitantes que vão ao Collegio têm a oportunidade de conhecer um acervo histórico e religioso: o museu de arte sacra, a pinacoteca, a estátua do padre jesuíta José de Anchieta, um dos fundadores de São Paulo, além objetos indígenas e outros que faziam parte do cotidiano de Anchieta. Para finalizar o percurso, podem passear pelo jardim interno e saborear algum petisco no café-restaurante.

Turismo de luxo, turismo de favela

Foto: Marcelo Navarro
Detalhe da Casa de Pedra, feita pelo “Gaudi brasileiro”, Estevão da Silva Conceição | Foto: Marcelo Navarro

Graças a uma excursão de arquitetura e urbanismo, na qual Flavia Liz incluiu uma passagem por Paraisópolis, no bairro do Morumbi, São Paulo ganhou destaque no livro Vertical City: a Solution for Sustainable Living, publicação de referência da área de arquitetura, editada em Nova York, EUA. Kellongg H. Wong, turista que veio à São Paulo e um dos autores do livro, ficou encantado com o que viu na capital paulistana, sobretudo com a Casa de Pedra. Trata-se casa do pedreiro Estevão da Silva Conceição, que vem sendo construída há mais de vinte anos com características que remetem ao estilo da obra do famoso arquiteto catalão Antoni Gaudí.

Mesmo sem conhecer o trabalho do arquiteto espanhol, o imigrante baiano que está em São Paulo desde 1977 começou a construir espontaneamente sua moradia neste estilo com objetos que ganhava ou comprava em brechós: pedras, tampinhas de refrigerantes, telefones antigos, pratos, bolinhas de gude e outros materiais que foram sendo incorporados à decoração, surgindo, assim, um mosaico infindável. Visto como Gaudí brasileiro, o trabalho de Conceição ganhou projeção nacional, e ele foi levado à Espanha pela Fundação Gaudí para conhecer as edificações do mestre catalão.

Atualmente, a Casa de Pedra, como é conhecida em Paraisópolis, recebe muitas visitas turísticas de estudantes de arquitetura, pesquisadores e arquitetos do mundo inteiro. Há tanto interesse pela obra arquitetônica de Conceição que as visitas precisam ser agendadas com antecedência.

Além de Conceição, Flavia Liz procura promover outros artistas, como Berbela, que transforma sucata mecânica em peças de arte, Antenor Clodoaldo, que construiu sua casa com garrafas pet. Para a guia de turismo, o importante de mostrar a favela para os estrangeiros é desconstruir estereótipos e revelar novos talentos.

Mais informações: www.flavializ.com

 

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