Foi inaugurada no Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC) da USP, em São Carlos, a exposição Marcos da Televisão Brasileira, organizada pela Associação dos Pioneiros, Profissionais e Incentivadores da Televisão Brasileira (Pró-TV), em parceria com a Associação Cultural de Apoio ao Museu Casa de Portinari (Acam Portinari) e a Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, através do Sistema Estadual de
Museus (Sisem).
A mostra, que começou a ser realizada em 2009 de forma itinerante, conta com 30 painéis trazendo momentos históricos do início das transmissões televisivas no país, como as primeiras novelas, programas humorísticos e infantis, a exemplo de Vila Sésamo (1972-77).
“É uma exposição bem simples, até pelo pouco espaço e também pelo custo zero que teve, mas chama a atenção”, diz a coordenadora da área de exposições e ciência do CDCC, Adriana Rinaldi Martins. Ela diz que se interessou em particular pelo formato e pelo assunto abordado pelo evento. “É uma mostra à ‘moda antiga’, com os painéis e objetos como uma máquina de escrever e um televisor em preto e branco, mas as pessoas adoram, porque elas veem essas imagens e se lembram do que assistiam na infância”.
Resgate ao pioneirismo
O assessor da diretoria da Pró-TV e curador do evento, Elmo Francfort, explicou mais a respeito das primeiras edições da exposição. “Durante as comemorações dos 59 anos da TV brasileira, montamos a exposição no auditório do Memorial da América Latina, já em parceria com a Secretaria da Cultura”. A adaptação do evento para percorrer as cidades do interior paulista se deu, segundo ele, por conta do grande sucesso de público ocorrido na capital. “Marcos da Televisão Brasileira é até hoje a exposição mais visitada da história do auditório do Memorial”.
Apesar do grande valor histórico contido no material exibido, Francfort afirma que não é tão simples trazê-lo ao conhecimento do público. “É uma luta trazer esse rico conteúdo para as pessoas, estamos sempre buscando apoios e parcerias, para que seja levado adiante o trabalho da presidente da Pró-TV, Vida Alves”. Além de presidente, Vida Alves é uma das personalidades fundadoras da associação, e uma das principais atrizes do Brasil na década de 1950, durante o surgimento das transmissões televisivas por radiodifusão.
Vida, que palestrou na abertura do evento, interpretou a personagem principal da primeira telenovela do país, Sua Vida Me Pertence (TV Tupi, 1951), na qual também protagonizou, ao lado do ator Walter Forster, o primeiro beijo da história da TV nacional.
O curador comentou, ainda, o formato itinerante da mostra. “A ideia era justamente fazer com que essas imagens e informações atingissem o maior número de pessoas, dentro do estado de São Paulo, dar a oportunidade de acesso a todo este material”. De acordo com ele, a sensação é de satisfação. “O retorno tem sido muito positivo, centenas de pessoas nos visitam em todas as cidades às quais vamos, e isso é muito gratificante. É sinal de que o conhecimento está sendo repassado”.
Museu: projeto e sonho de Vida
Como participante ativa do início da caminhada da TV brasileira como um todo, Vida Alves defende firmemente que esta história seja preservada e difundida. “Na minha opinião, a história está sendo contada de uma forma falha. As pessoas que lá estiveram vêm falecendo, e minha intenção é não deixar que essa riqueza do passado também morra”. Para preservar este tesouro nacional, existem algumas dificuldades, segundo lembra. “Não havia tantas formas de registro naquela época, as próprias programações do início da TV eram feitas exclusivamente ao vivo, porque o videotape só apareceu uns 10 ou 12 anos depois”.
Minha intenção é não deixar que essa riqueza do passado também morra.
Após a saída da TV, no final dos anos 1960, Vida se dedicou ao ensino de seu ofício por muitos anos, até que, em 1993, um outro fato marcante para a TV nacional fez com que mudasse seu foco. “Foi durante o funeral do Cassiano Gabus Mendes [ator, produtor e autor de telenovelas], que tivemos a ideia de preservar essa história”. Entre os fundadores da Pró-TV, em 1995, estão Walter Forster, Luiz Gallon, Lia de Aguiar e Blota Jr., além da própria Vida.
Desde aquela época, o principal projeto da atriz é a fundação de um Museu da TV. “Hoje já mantemos um, muito pequeno, e praticamente estivemos batendo de porta em porta para buscar apoio e abrir um espaço maior, com mais estrutura e visibilidade, mas está difícil. Depois de muita procura sem sucesso, agora estou aguardando”, desabafa. Para ela, existe uma motivação a mais para esta empreitada, e que inclusive inspirou a exposição que está no CDCC. “Quero que os jovens tenham acesso a essa história que não conhecem, senão, quando todos nós, pioneiros, morrermos, esse pedaço da cultura nacional vai morrer junto”, comenta.
Fatos e fotos históricos
Entre as atrações disponíveis ao público de São Carlos, estão depoimentos em vídeo e também curiosidades sobre célebres participantes das primeiras transmissões originadas em solo brasileiro. “O acervo contém imagens surpreendentes, como o ator Lima Duarte trabalhando como técnico de filmagem, antes de ser conhecido na frente das câmeras”, revela Adriana.
A exposição Marcos da Televisão Brasileira ficará aberta no CDCC até o dia 5 de maio, já tendo agendamento posterior para ser aberta na Praia Grande e em Descalvado, respectivamente litoral e interior paulistas. O evento é gratuito, aberto ao público e conta com um monitor no atendimento aos visitantes. O horário para visitações é de terça a sexta-feira, das 8 às 18 horas; e aos sábados, das 9 às 12 horas.
Mais informações: (16) 3373-8823, com Adriana Rinaldi Martins ou (11) 3872-7743, com Elmo Francfort