Jornalismo Poli/USP
Uma das grandes demandas dos alunos de engenharia da Escola Politécnica (Poli) da USP é a utilização prática dos conceitos aprendidos. Além da participação em projetos e estágios, os alunos têm também a possibilidade de entrar em contato com o aspecto prático da profissão durante as aulas.
Em uma disciplina oferecida pelo Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos (PSI), a “PSI2327 – Eletrônica Experimental II”, os alunos do terceiro ano de curso de Engenharia Elétrica com habilitação em Sistemas Eletrônicos utilizam seus conhecimentos para construir um carrinho autoguiado, ou seja, um carrinho capaz de seguir a linha que demarca a pista sem comandos externos durante a corrida.
Para incentivar o aluno a fazer um projeto que utilize os conceitos aprendidos durante o curso, algumas limitações são impostas. Não é possível, por exemplo, fazer uso de microcontroladores já que trata-se de um componente que será aprendido de forma mais completa apenas posteriormente. Desta forma, o aluno é obrigado a fazer um carrinho que faça uso apenas de componentes discretos, aumentando ainda mais o desafio do projeto.
O objetivo da disciplina, criada em 2006, era trazer uma atividade prática para os alunos, como explica o professor Marco Alayo, coordenador do curso de graduação em Engenharia Elétrica com habilitação em Sistemas Eletrônicos: “Há cinco anos tentamos criar uma disciplina de projetos que envolvesse a montagem de um equipamento e demonstração de seu funcionamento utilizando todos os conhecimentos adquiridos pelo aluno. Queríamos ter uma disciplina de projetos em todos os anos do curso, culminando no projeto de formatura”.
O terceiro e quarto anos não tinham uma disciplina assim. Então foram criadas duas disciplinas de projetos para o quarto ano, uma relacionada a sensores e atuadores (PSI2662) e uma com transceptores (PSI2661), das quais os alunos escolheriam uma e produziriam um pequeno produto a ser apresentado. E para o terceiro ano, foi adaptada a ementa de uma disciplina já existente.
“Junto ao professor João Antonio Martino, atual chefe do departamento, optamos por propor o desenvolvimento de um carrinho autoguiado, com a grande vantagem de ser uma atividade competitiva, que incentivaria ainda mais os alunos a se envolverem e se esforçarem na produção do produto”, completa Alayo. A partir da proposta da disciplina, um campeonato interno entre os carrinhos desenvolvidos foi criado, e tem sido realizado nos último cinco anos, o PSI Race.
Em 2010, o Departamento recebeu contato da Freescale, empresa desenvolvedora de hardware, a segunda maior fabricante de microcontroladores do mundo, e que tem um programa que envolve competições entre carrinhos autoguiados em universidades de todo o mundo. O objetivo da Freescale era realizar a primeira competição universitária no Brasil. Assim, a primeira edição nacional contou com a participação de 40 equipes de diferentes universidades.
Os alunos da Poli conseguiram o primeiro e o segundo lugar na Freescale Cup de 2011. A equipe que ficou em primeiro lugar era composta pelos alunos Halph Macedo Fraulob, Marcos Cesar Voltoni e Daniel Cavallari, orientada pelo professor Marco Alayo com a colaboração de Gustavo Rehder, e dos técnicos Luiz Medaglia e Adriano. Já o segundo lugar ficou com os alunos Diego Faleiros e David Nissimoff, orientados pelo professor Vitor Nascimento.
Os primeiros colocados estarão na edição internacional da competição, em 2012, em San Antonio, no Texas, onde também participarão os ganhadores de México, Índia, China e Estados Unidos.
Programa internacional apoia ensino da engenharia
Outra disciplina que se utiliza do desenvolvimento de carrinhos para incrementar o processo de aprendizagem é oferecida pelo Departamento de Engenharia de Construção Civil (PCC). A disciplina “PCC2122 – Representação Gráfica para Engenharia”, oferecida para todos os alunos da Poli no segundo semestre do primeiro ano, propõe que os alunos desenvolvam uma representação gráfica de um carrinho, utilizando as técnicas apreendidas em aula. Ao final do curso, uma competição analisa o design e o desempenho dos carrinhos.
Para desenvolver o projeto, os alunos têm acesso a dois laboratórios de ponta equipados com diferentes tipos de softwares de CAD (Computer Aided Design), que são, inclusive os mesmos softwares utilizados para fazer veículos nas indústrias. Essa estrutura de laboratórios foi obtida devido à participação da Poli no programa Partners for the Advancement of Collaborative Engineering Education (PACE).
A Escola é a única instituição sul-americana a participar do programa que liga empresas como GM, Autodesk, HP, Oracle, e Siemens e suas operações globais, para fornecer suporte para instituições de ensino estrategicamente selecionadas para desenvolver mão-de-obra qualificada.
Segundo o professor João Roberto Diego Petreche, que está envolvido com a disciplina desde 1995, o objetivo do projeto é capacitar os alunos para desenvolver representações gráficas utilizando softwares de CAD. A análise do desempenho não tem grande participação na nota, mas as empresas que apoiam o programa PACE premiam os projetos de melhores designs com brindes e certificados.