Como em qualquer área do conhecimento, são inúmeras as visões sobre a pedagogia, e que muitas vezes advogam para si o lugar de melhor abordagem ou método de ensino. Atuais e futuros professores precisam lidar com todas estas escolas de pensamento, compreendendo as concepções de educação desenvolvidas através da história – capacitando-se para formar seu próprio juízo sobre cada uma delas.
Uma das estratégias possíveis é refletir sobre a retórica embutida no que as diversas abordagens da educação têm a nos dizer. Essa é a opção dos pesquisadores do grupo Retórica e Argumentação na Pedagogia, fundado na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP. Com cerca de 20 integrantes, incluindo a USP e as universidades UFJF, UFRJ, IFESRJ, UNIRIO e UNESA, o grupo já produziu trabalhos analisando o discursos e a argumentação utilizada por autores da área de educação.
O que é necessário para convencer um futuro professor de uma ideia no campo do ensino? Como esse professor pode identificar o que está sendo usado para convencê-lo? Baseando-se em perguntas como estas, há mais de uma década o grupo voltou seus esforços de pesquisa a duas frentes: o discurso pedagógico dos autores brasileiros dos anos 1920 à 1960; e o do filósofo e pedagogo norte-americano John Dewey, que escreveu do final do século XIX até o início dos anos 50.
“O período da pedagogia brasileira que nós estudamos foi de grande renovação educacional”, explica Marcos Cunha, professor da USP e líder do grupo, ao lado de Tarso Mazzotti, docente da UFRJ e da UNESA. “Além disso, boa parte destes autores foi justamente influenciada por Dewey”, completa Cunha.
O discurso argumentativo disposto pelos autores nestas obras pedagógicas é, por assim dizer, o objeto dos estudos. “Nossa análise considera dois tipos de discurso: os dedutivos e os retóricos”, explica o docente. “O dedutivo parte de uma premissa buscando uma conclusão; o retórico é realizado para convencer um determinado auditório por algum motivo”. Segundo o docente, a maior parte dos discursos publicados na área da pedagogia são retóricos. “Um autor apresenta suas propostas para uma escola e para quem o lê visando persuadi-los de sua idéia”, declara.
Um dos recursos argumentativos mais utilizados pelos autores da pedagogia, de acordo com Cunha, é a metáfora, já que ela condensa significados. “Quando um autor se refere à educação infantil (até os cinco anos de idade) como ‘jardim da infância’, isso traz uma imagem agradável. É como se ele estivesse dizendo que a escola está para a criança como o jardim para as flores, mas com uma frase simples se passa toda essa ideia”, explica o professor, que também cita um exemplo do educador brasileiro Paulo Freire. “Ele dizia que o modelo de educação tradicional era bancário, isso traz uma idéia de finanças, de mercantilização, um sentido pejorativo”, define.
Paulo Freire dizia que o modelo de educação
tradicional era bancário. Isso traz uma idéia de
finanças, de mercantilização, um sentido pejorativo.
As pesquisas buscam, principalmente, levar o conhecimento das técnicas de argumentação e persuasão para os profissionais da educação. “O público-alvo dos textos pedagógicos são professores ou futuros professores, então é necessário que esse público conheça os métodos de persuasão utilizados pelos autores que eles leem”, ressalta. “Essa consciência ajudará a formar um profissional melhor, pois toda persuasão torna-se uma ação, e uma argumentação convincente influi na prática dos professores em sala de aula”.
Essa consciência ajudará a formar um profissional
melhor, pois uma argumentação convincente influi
na prática dos professores em sala de aula.
A busca para o futuro, segundo o docente, é aprimorar a linha de pesquisa e refinar a metodologia, nascida no Grupo. “Nós queremos desvendar melhor as estratégias argumentativas e aumentar a gama de autores”, declara. “Nossos alunos devem entender a estratégia retórica destes discursos para serem capazes de julgá-los cada vez melhor”, conclui.