Quanto mais um profissional da educação infantil se sente valorizado, mais ele acredita que ser pode ser decisivo na educação e no desenvolvimento das crianças com que lida. Essa é uma das inspirações que guiam o grupo de pesquisa Contextos Integrados de Educação Infantil, da Faculdade de Educação (FE) da USP. “É muito importante que a Universidade não pense a escola olhando-a ‘de cima para baixo’, apenas colhendo dados, entrevistando os professores e indo embora”, diz Tizuko Morchida Kishimoto, uma das líderes do grupo.
O núcleo é parte do Laboratório de Brinquedos e Materiais Pedagógicos (Labrimp) e surgiu a partir da aproximação das professoras da FE, Tizuko Kishimoto e Mônica Appezzato Pinazza, com docentes da Universidade do Minho, em Portugal.
A intenção era que o grupo iniciasse uma pesquisa com crianças de 0 a 6 anos de idade, pensando na importância de estudar a educação infantil juntamente com os professores que atuam no dia-a-dia. Alunos de mestrado, doutorado e iniciação científica da FE têm acompanhado o trabalho desenvolvido pelos professores com crianças nas creches e Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEI). Mas o grupo vai além da pesquisa, contribuindo também na formação, ao discutir com os professores suas práticas em sala de aula. Estabelece-se, assim, um diálogo com os profissionais, a partir do referencial teórico que a Universidade tem.
Para aplicar essa filosofia, o grupo se divide em diferentes linhas de ação: além da equipe de pesquisadores, foram organizados o Contexto de Professores, coordenado por Tizuko Kishimoto, e o Contexto de Supervisores, coordenado por Mônica Pinazza.
Pesquisadores e professores
Por meio do Contexto de Professores, profissionais voluntários da rede pública, de creches e EMEIs participam de encontros mensais na FE. Nesses encontros, os professores discutem com os pesquisadores da FE as práticas realizadas em sala de aula. “Os professores nos contam como essas práticas são desenvolvidas, e qual a visão deles sobre isso. E a partir do nosso conhecimento acadêmico, fazemos um diálogo entre prática e teoria”, detalha Tizuko. A pesquisadora relata que essas reuniões, que vêm acontecendo há mais de uma década, têm surtido efeito na medida em que os professores vão se referenciando e escrevendo artigos sobre suas práticas.
Atualmente, umas das preocupações do grupo é dificuldade que as escolas têm de propor currículos de ensino contínuos para a educação infantil. As atividades são todas fragmentadas e não existe um projeto pedagógico que proponha uma continuidade entre berçário 1, 2 e 3. “Foi uma questão que as professoras trouxeram para nós e, como eu tenho dois alunos de doutorado que trabalham com a inserção da música na educação infantil, propus que esse fosse o eixo da integração dos currículos, a música”, conta a docente da FE.
Uma das atividades do grupo para colocar a proposta em prática foi o oferecimento, por parte de uma das alunas de Tizuko, de um curso de extensão para os profissionais da creche Suzana Campos e demais interessados, em que eles tiveram oportunidade de aprender como a música é uma ferramenta importante no desenvolvimento da criança sob o ponto de vista da cognição e da afetividade.
A pesquisadora faz uma ressalva: trabalhar a música com bebês é diferente de trabalhá-la com crianças entre 3 e 4 anos. “O desafio que nós temos colocado para as professoras é: como fazer uma programação sequencial pensando na música trabalhando com o berçário 1, que são aqueles bebês que mal sentam; o berçário 2, que são aqueles que já estão sentados e engatinhando; e o berçário 3, que já andam e correm?”, questiona Tizuko – e complementa: “para as pessoas que trabalham nas escolas municipais, com aquelas crianças maiorzinhas, de 4 a 5 anos, a pergunta é: como é que vocês continuariam o trabalho feito pela creche, do ponto de vista da musicalização?”.
Os professores passaram, então, a gravar as seções que faziam com os bebês e as crianças, e os pesquisadores da FE começaram a analisar esse material. Os vídeos se mostraram ferramentas importantes de divulgação do trabalho das professores e serão disponibilizados na página do grupo.
Gestores entram em cena
A outra frente de trabalho do grupo, o Contexto de Supervisores, surgiu a partir da iniciativa da professora Mônica Pinazza e de funcionários das Diretorias Regionais de Educação (DRE). “Fui convidada para um curso nas atuais DREs, da Secretaria Municipal de Educação. Eu estava na Penha, que era uma das Regionais, e algumas pessoas vieram me perguntar como fazer para participar do nosso grupo de pesquisa”, conta Mônica.
Segundo a professora, entretanto, as discussões do grupo de pesquisa são voltadas para teorias e metodologias – e não fazia muito sentido profissionais das DREs estarem naquele tipo de discussão. “O interesse delas era de outra natureza”, explica. Então, no ano seguinte, diretores de escolas, creches, pré-escolas, coordenadores e supervisores de ensino passaram a se reunir para discutir como é que pessoas ligadas à gestão das escolas podem agir para promover processos de formação dos professores dentro das unidades.
Um exemplo dessa integração vem acontecendo no CEI Suzana Campos. Professoras do CEI fazem parte do Contexto de Professores, pesquisadores da FE acompanham esses professores e a coordenadora do CEI faz parte do Contexto de Supervisores. “Ela discute aqui, os professores discutem lá e o trabalho é desenvolvido. Os saberes circulam entre esses grupos”, conclui Mônica. Atualmente, sete das 13 DREs estão representadas no grupo.
Outras atividade do Labrimp
O Labrimp foi criado em 1984 e pauta seus projetos na integração entre teoria e prática pedagógica. Além dos Contextos Integrados em Educação Infantil, outras ações do Laboratório estão sustentadas no tripé ensino, pesquisa e extensão. São elas: a Brinquedoteca, a Biblioteca Internacional do Lúdico (LudLib), o Museu da Educação e do Brinquedo e o Braile Virtual. Para conhecer mais sobre cada um desses esses projetos, acesse o site do Laboratório.