“Assim que recebemos o telefonema avisando que o Alexandre estava preso, meu pai empreendeu uma verdadeira via-sacra em busca de seu paradeiro ou de informações verídicas. Mas o buscávamos vivo. Jamais passou pela nossa cabeça que ele estivesse morto e enterrado”, conta Maria Cristina Vannucchi Leme, irmã do Lê. Ela completou 16 anos um dia depois da publicação da farsa do atropelamento nos jornais. Até hoje não são conhecidas as circunstâncias da prisão do estudante – um sequestro praticado pelo Estado – naquele março.
No Dops, após amargar horas de espera, seu José foi recebido pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, que disse não ter nada a ver com a prisão de Alexandre. “Depois ele arrematou: ‘Esse filho o senhor já perdeu. Agora, cuide dos restantes. O senhor tem duas filhas que acabaram de entrar na universidade. Com mulher acontece coisa pior’”, lembra Maria Cristina.
A referência de Fleury era óbvia: a família estava sendo vigiada. A primeira pessoa que a irmã do Lê via todos os dias, ao sair de casa para ir à escola, era um homem de bigode que passava o dia inteiro vigiando da esquina a “perigosa” residência em que viviam um casal de professores aposentados e seus três filhos menores (as duas irmãs mais velhas já não moravam mais com os pais).