Antonio Carlos Quinto / Agência USP de Notícias
Interesses econômicos e ideológicos, e uma disputa de poder entre o Comitê Olímpico Internacional (COI) e a Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA), podem ser apontados como fatores fundamentais para a criação da Copa do Mundo. Afinal, o torneio que acontecerá este ano no Brasil, teve sua primeira edição em 1930, no Uruguai, como resultado de uma disputa pelo controle do futebol entre as duas entidades.
“Uma das principais discussões entre FIFA e COI surge em relação ao amadorismo no esporte”, conta o professor de educação física Sérgio Settani Giglio, que defendeu na Escola de Educação Física e Esportes (EEFE) da USP a tese de doutorado COI x FIFA: a história política do futebol nos jogos olímpicos.
Segundo ele, o objetivo inicial da pesquisa era entrevistar atletas brasileiros que participaram de edições dos jogos olímpicos, na modalidade futebol. “Busquei jogadores para saber de suas dificuldades, suas histórias e trajetórias, os que ficaram famosos e os desconhecidos que participaram dos Jogos Olímpicos entre os anos de 1952 e 2008”, conta. A ideia era traçar um perfil destes atletas para compor um estudo maior, coordenado pela professora Kátia Rubio, da EEFE, sua orientadora no doutorado.
No entanto, durante as entrevistas, que foram cerca de 90 com os atletas do futebol, Giglio percebeu um traço comum. “Muitos falaram da condição de ‘amadores’ como sendo um empecilho para ter um contrato com um clube profissional”, conta. Foi quando a questão da definição de “ser amador” lhe chamou a atenção, o que o fez mudar os rumos do estudo.
Embate histórico
Na busca de mais informações sobre a questão, o pesquisador consultou boletins olímpicos do COI. E já no primeiro, datado de 1894, quando da formação da entidade, Giglio encontrou as primeiras discussões sobre o que é ser ou não amador. Além de documentos da época, o pesquisador selecionou para seu doutorado 9 entrevistas, sendo 8 de atletas e 1 com João Havelange, ex-presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD) e da FIFA.
Na definição do COI, segundo o pesquisador, o futebol deveria ter a participação de jogadores amadores. “O requisito favorecia a prática do esporte pela aristocracia, e os jogadores não recebiam nenhum tipo de recompensa”, lembra Giglio. Porém, na década de 1920, o futebol ganhava corpo, principalmente com a implantação do profissionalismo de clubes e com a participação de trabalhadores. “De outro lado, a FIFA era favorável ao pagamento dos jogadores, mesmo que pelo tempo de afastamento que durassem os jogos. Nas entrevistas, alguns jogadores relataram a prática dos ‘contratos de gaveta’, em que assinavam um documento de compromisso de profissionalização após a disputa da olimpíada”.
Mas o futebol já se mostrava altamente lucrativo. “Esse embate levou a um rompimento, em 1928, e fez com que a FIFA organizasse, em 1930, a primeira Copa do Mundo, que reuniu jogadores profissionais e amadores”, lembra o pesquisador. “De lá para cá, alguns acordos foram estabelecidos no decorrer do tempo, como a idade limite de 23 anos para o jogador disputar a olimpíada, sendo a restrição mais recente”, descreve. A tensão entre as entidades já não é grande, visto que a FIFA participa da organização do futebol no COI. “Mas fica claro o embate político financeiro e o controle da FIFA no futebol. A entidade criou torneios sub-20 e sub-17 como forma de alimentar nos atletas o desejo de se disputar uma Copa”, analisa o pesquisador.
Mais informações: email ssgiglio@usp.br