Museu de Zoologia inaugura exposição que revela a imensa biodiversidade do Brasil, incluindo os biomas predominantes no País com milhares de espécies animais
O Museu de Zoologia da USP inaugurou no dia 28 de agosto passado a exposição de longa duração “Biodiversidade – Conhecer para Preservar”, que tem como objetivo dar maior visibilidade para as questões da biodiversidade brasileira.
Tendo como principal atividade compreender padrões e processos da biodiversidade brasileira, o Museu é guardião de uma das maiores coleções da fauna do País. Sendo o Brasil um país que abriga 20% de toda a biodiversidade do planeta, a tarefa do MZ é transformar as pesquisas em conhecimento. “Nossa função é preencher de conhecimentos a distância da natureza que os seres humanos se colocam, sentindo-se mais especiais em relação ao resto dos grupos de animais do planeta Terra, fazendo-os compreender que nós também somos parte intrinsecamente do todo”, afirma Maria Isabel Landim, chefe da Divisão de Difusão Cultural do museu.
Espécies
A crise mundial da biodiversidade e a erosão dos recursos naturais fizeram com que os indivíduos começassem a sentir falta dos recursos que a natureza sempre ofereceu gratuita e abundantemente e que, hoje, já não estão mais disponíveis com tanta facilidade, como a água.
Para entender todo esse processo, a exposição se inicia pela explicação do conceito de biodiversidade, que se refere à multiplicidade de formas de vida e de ambientes naturais, incluindo o número de espécies e a diversidade genética e dos ecossistemas. A unidade mais usada para medir a biodiversidade é o número de espécies. A riqueza da biodiversidade possui dimensão cultural e econômica, que depende da preservação das múltiplas paisagens do planeta, descreve o painel da exposição.
Maria Isabel explica que existe hoje um conceito de riqueza associado aos recursos naturais. Por isso, é importante chamar a atenção para o fato de o Brasil ser rico em recursos naturais e que as escolhas políticas e econômicas do País estão muito vinculadas ao uso desses recursos. “Precisamos priorizar nossa atenção para essa questão, que não é normalmente priorizada, e formar cidadãos que compreendam a importância da biodiversidade”, ressalta.
Ao lado da explicação da biodiversidade encontra-se um quadro com vários retratos fotográficos, mostrando que a biodiversidade também é genética e que se expressa na variabilidade gênica entre as pessoas. Além disso, há também a diversidade dos ecossistemas das paisagens naturais, o que confere ao Brasil uma imensa riqueza, pois a diversidade do País não é apenas em extensão territorial, mas inclui as diversas paisagens naturais. “Abrigamos 20% das espécies de todo o planeta”, lembra Isabel Landim.
Para falar da diversidade animal, que é o foco da exposição, foi criado logo no hall de entrada um aparato que coloca várias aves, roedores, répteis, macacos, ursos e veados em convivência “pacífica” com borboletas, moluscos e besouros, “mostrando que somos parte de um todo maior”, lembra Isabel.
Seguindo pelos corredores, entra-se na parte dos animais extintos. Ali a réplica do tapuiassauro, encontrado no norte de Minas Gerais, se impõe majestosamente no espaço, que explica os diversos eventos que causaram a extinção em massa dos dinossauros, parte do processo evolutivo que permitiu que outros grupos florescessem.
Nos eventos de extinção em massa chama a atenção o que alguns estudiosos dizem: o planeta está entrando no sexto momento de extinção em massa e o grande agente causador dessa extinção é o homem. Essa alteração recebe o nome de Era Antropocena, marcada pelas alterações que o homem vem fazendo nas paisagens e nos fenômenos geológicos.
Biomas
Na Sala dos Seis Biomas – floresta amazônica, pantanal, pampas, floresta atlântica, cerrado e caatinga –, cada um deles recebeu uma forma inovadora de exposição. Os biomas são representados em dioramas (apresentação artística, realista, de cenas da vida real), feitos com fotos dos cenários impressos em tecido, sobrepondo as paisagens e dando um efeito de holografia 3D, com a distribuição dos respectivos animais empalhados.
Nas vitrines sextavadas em vidro e madeira, foram expostos os invertebrados que não são facilmente visíveis se inseridos nas grandes paisagens. Isabel conta que os animais expostos têm histórias interessantes do ponto de vista da pesquisa científica, como é o caso das ostras mais consumidas no Brasil. Antes de serem pesquisadas pela equipe do Museu de Zoologia, acreditava-se que elas eram uma espécie típica do mar do Caribe. O estudo de taxonomia provou serem uma nova espécie, que se encontra apenas no mar brasileiro e que agora se chama ostra-do-mangue.
Outro caso interessante é o do caramujo Adelopoma paulistanum, que ocorre no Parque Burle Marx, em São Paulo. Esse caramujo está ameaçado de extinção e, por conta da descrição da ocorrência dessa espécie, existe atualmente uma série de medidas ambientais que precisam ser tomadas para qualquer tipo de interferência naquela área. “Afinal, esse caramujo ajuda na preservação do parque”, esclarece a chefe da Divisão de Difusão Cultural do Museu de Zoologia.
Não dá para falar de biodiversidade sem incluir a espécie humana, que, afinal, também é uma espécie animal. Há dois tipos reconhecidos de ecossistemas humanos: as áreas urbanas e as áreas cultivadas. Grandes fotos panorâmicas mostram a interferência humana na cidade de São Paulo, na área rural e em Santos, no litoral paulista. Os painéis fotográficos com animais empalhados em relevo contam a história da fauna nesses ambientes. Isabel relata que há espécies animais introduzidas nos ambientes que acompanham o homem por onde ele passa. É o caso da pomba e do rato. E há aquelas espécies que permaneceram no seu ambiente natural e se encontram confinadas, como a onça.
A exposição também chama a atenção para os bioindicadores de desmatamento. Trata-se de borboletas da espécie Pierella nereis, que são sensíveis a qualquer alteração da mata. Elas dependem da umidade e do controle de luminosidade do ambiente natural para serem bem-sucedidas. Em contrapartida, a borboleta Hamadryas butterfly, que se encontra no mesmo ambiente, se apresenta em maior quantidade porque se adapta fora da mata e precisa de mais luz e áreas abertas para o macho se acasalar. “A predominância dessa borboleta mostra que essa área está sofrendo desmatamento”, explica Isabel.
Crianças
Como não falar do papel do museu depois de todo esse passeio? Para tanto foi criada a sala Onde o Museu Entra Nisso?. Em suas paredes, foram coladas ilustrações dos livros raros da biblioteca do Museu de Zoologia, que retratam desenhos coloridos da fauna. As vitrines mostram os “Novinhos em Folha”, pesquisas recém-apresentadas, com um pequeno histórico do animal estudado. É um espaço lúdico e interativo, cujo objetivo é ter seu conteúdo sempre trocado no decorrer do tempo, trazendo outros levantamentos interessantes. “É nesse espaço que o museu recebe as crianças e, através da monitoria, interage com elas”, diz Isabel.
Uma história interessante trata do bicudinho-do-brejo-paulista, espécie ameaçada que se encontra em poucos brejos não muito distantes da capital, não ocorrendo em nenhum outro lugar do mundo. Atualmente, estima-se que menos de 300 dessas aves ainda sobrevivam em um habitat que é constantemente ameaçado por atividades humanas e a degradação dos brejos pela invasão de espécies exóticas.
Tem também a história do aruá-do-sambaqui, espécie possivelmente extinta. Os sambaquis são amontoados de conchas feitos por índios há até 4 mil anos. O aruá-do-sambaqui nunca foi encontrado fora de sambaquis e por essa razão é considerado extinto. As conchas dessa espécie são atípicas para o gênero, por seu tamanho relativamente pequeno e por serem alongadas.
Já o trabalho de pesquisa sobre a micromosca-abelha descreve uma nova espécie de mosca do Pantanal. Isso é importante, pois representa o primeiro registro desse grupo de moscas na América do Sul.
Seguindo o caminho da exposição, são mostradas a origem e a expansão da espécie humana, com imagens de hominídeos e de primatas. Essas imagens explicam quando o ser humano surge e as diversas espécies de hominídeos existentes comprovam que a evolução não é uma linha linear de espécies que evoluíram. “Todos os seres vivos são parentes, não interessa quão próximos ou distantes. A história da vida na Terra é única. Desde o ancestral que deu origem à vida no planeta Terra, esse processo de evolução acontece”, finaliza Isabel.
A exposição de longa duração “Biodiversidade – Conhecer para Preservar” está em cartaz de quarta-feira a domingo, das 10h às 17h, no Museu de Zoologia da USP (avenida Nazaré, 481, Ipiranga, São Paulo, SP). Entrada grátis. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 2065-8100 e na página eletrônica .
Tradição no estudo da biodiversidade
O Museu de Zoologia é um centro de referência, por sua tradição na produção de conhecimento sobre biodiversidade, sistemática e taxonomia animal. Sua coleção centenária é uma das maiores do mundo na área da fauna brasileira. É o único museu de São Paulo a oferecer ao público a perspectiva contemporânea da história natural.Seu objetivo é produzir e disseminar conhecimentos sobre a diversidade zoológica. Combina os resultados da pesquisa científica com o engajamento à educação formal e informal, qualificando a instituição como disseminadora de conhecimento e promotora de inserção social nas questões-chave relativas à biodiversidade.
O Museu de Zoologia é o gestor da Estação Biológica de Boraceia desde 1954. Inclui cerca de 40 alqueires e está situada numa reserva de 6.800 alqueires de matas primárias de uma reserva protetora de mananciais, a cerca de 110 quilômetros da cidade de São Paulo, no município de Salesópolis. Por sua localização privilegiada dentro do domínio da floresta atlântica, sempre atraiu, mesmo antes de sua instalação, a atenção de inúmeros pesquisadores, tanto da área zoológica quanto da botânica.
Izabel Leão/Jornal da USP