Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP avalia a utilização do software i-Tree, uma ferramenta inovadora que quantifica o valor econômico que a vegetação do Parque do Ibirapuera pode devolver à cidade de São Paulo. O trabalho do administrador de empresas Fernando Antonio Tolffo propõe a valoração das áreas verdes livres e dos parques urbanos como recurso que integre estratégias para o desenvolvimento da qualidade ambiental das cidades. O estudo também destacou a importância e efetividade das florestas urbanas e áreas verdes na redução os impactos causados pela urbanização acelerada.
O i-Tree é um software desenvolvido pelo USDA Forest Service, nos Estados Unidos, e uma equipe de colaboradores institucionais, sendo revisado periodicamente. “Ele proporciona o dimensionamento e a valoração de vários serviços ecossistêmicos, ou, para alguns, ambientais, proporcionados pela vegetação arbóreo-arbustiva presente nas cidades”, afirma o Tolffo. “São utilizadas uma grande série de dados atmosféricos e fitossociológicos, que foram obtidos em diversas instituições de pesquisa, adaptados e transferidos para processamento pela equipe do i-Tree nos Estados Unidos”.
De acordo com Tolffo, as árvores urbanas exercem as mesmas “funções” de suas congêneres no campo. “Agrupadas ou isoladas, elas favorecem a redução do escoamento das águas pluviais, melhoram a qualidade do ar pela filtragem e absorção dos poluentes atmosféricos considerados no estudo, sequestram CO2, favorecem a economia de energia e as propriedades próximas a áreas verdes são normalmente mais valorizadas, além de questões vinculadas à melhoria do microclima, como as ilhas de calor”, aponta. “São esses os serviços ecossistêmicos, aspectos que podem ser conhecidos e valorados a partir da aplicação do i-Tree, tanto em pequenas áreas verdes livres como para o total da vegetação remanescente em uma metrópole”.
Serviços ecossistêmicos
A pesquisa utilizou o Parque Ibirapuera como um microcosmo para, utilizando o i-Tree, fazer o levantamento dos serviços ecossistêmicos proporcionados por uma área verde inserida no meio urbano. “O estudo demonstra que as 14.334 árvores do Ibirapuera consideradas na análise retinham em 2011, por exemplo, 8.740 toneladas (t) de carbono e mantém absorção anual de 76,3 t”, aponta o administrador. “Além do carbono, conseguimos verificar a quantidade de monóxido de carbono (CO), ozônio (O3), óxido nítrico (NO2), material particulado (PM10 e PM 2,5) e dióxido de enxofre (SO2) removida pelo conjunto das árvores do Ibirapuera”.
O pesquisador aponta que os valores obtidos na pesquisa são extremamente conservadores, “haja vista algumas limitações com que fomos confrontados e ter sido analisada apenas a população arbórea, neste primeiro estudo”. O trabalho adotou valores monetários fornecidos pelos Estados Unidos, devido ao desconhecimento da existência de mercado equivalente no Brasil. “Por exemplo, chegou-se a R$ 11.080,37 o valor de remoção do O3 durante um ano. Em compensação, a remoção do CO foi valorada em R$ 133,44/ano. Evidentemente, as cotações poderão futuramente serem nacionalizadas”, ressalta Tolffo.
“É uma experiência que revelou-se satisfatória quanto aos seus objetivos e passível de ser replicada às cidades brasileiras independentemente do porte, podendo ser utilizada como uma ferramenta em políticas públicas voltadas à sustentabilidade urbana”, assinalda o administrador, “bem como na nem tão utópica eventualidade dos serviços ecossistêmicos e o patrimônio natural passarem a integrar as metodologias de medição dos índices de desenvolvimento humano e social e do Produto Interno Bruto (PIB) das nações”.
Tolffo destaca que a floresta urbana pode desempenhar importante papel coadjuvante em um cenário de efeitos severos decorrentes das alterações do clima, influenciando na qualidade de vida e aspectos da saúde ambiental. “Por isso é importante o conhecimento de suas dinâmicas de interação com a população humana nas cidades visando o seu manejo e preservação na gestão do espaço urbano”.
A dissertação de mestrado O pagamento por serviços ecossistêmicos como instrumento de gestão ambiental para o espaço urbano, apresentada por Tolffo, sob orientação dos professores Leandro Luiz Giatti, da FSP, Demóstenes Ferreira da Silva Filho, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, foi apresentada no Departamento de Saúde Ambiental da FSP/USP.
Da Assessoria de Comunicação Institucional da FSP
Mais informações: email fernando.tolffo@usp.br