O gerenciamento integrado de resíduos sólidos pode proporcionar uma série de vantagens para as instituições, como a economia de custos, a melhora na gestão de recursos, a adequação às normas e legislações, além de uma série de benefícios ao meio ambiente. A gestora ambiental Neuzeti Maria dos Santos pôde comprovar isso em sua dissertação de mestrado pela Faculdade de Saúde Pública (USP) da USP ao analisar o projeto de gerenciamento de resíduos implantado no Instituto Butantan, um dos principais centros de pesquisa biomédica do País, ligado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.
Neuzeti ajudou a implantar um modelo que propõe a gestão integrada, compartilhada e participativa envolvendo todos os colaboradores locais no gerenciamento dos resíduos sólidos gerados no Instituto (de saúde, de construção, de poda de árvores, e de reciclagem). Com essa gestão participativa, não foi necessário contratar pessoal de fora para implantar o projeto. Um outro resultado positivo foi a publicação de um Guia Prático de Descarte de Resíduos. “A ideia era desenvolver algo que pudesse ser aplicado em outros locais”, conta. A pesquisa teve orientação da professora Wanda M. Risso Günther, da FSP.
O projeto foi iniciado em 2012 com a criação de uma comissão composta por uma equipe multidisciplinar de 13 pessoas. Eles realizaram um diagnóstico de como era o gerenciamento de todos os tipos de resíduos produzidos no Instituto. “Na época, de 40 requisitos legais, apenas 2 eram atendidos plenamente, 13 eram atendidos parcialmente e 25 não eram atendidos”, informa Neuzeti. Era necessário atender a diversas normas de vários órgãos como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), além de Leis Municipais. “Atualmente, o Instituto consegue atender a 90% de todas as normas da legislação”, comemora a gestora ambiental.
Foi realizado também um levantamento aprofundado, durante 3 meses, em que constatou-se que havia geração de resíduos de serviço de saúde em 70% do Instituto e que a maioria dos envolvidos desconhecia os tipos de resíduos gerados.
Grupos de Trabalho
A partir daí, foram criados cinco Grupos de Trabalho: GT Infectantes, GT Carcaças, GT Químicos, GT Comuns, Recicláveis e Outros e um outro GT para educação (pensando na capacitação dos envolvidos). Esses grupos eram compostos por 1 membro da comissão, mais 5 pessoas, além de participantes ligados a cada uma das áreas. Tanto a comissão como os grupos de trabalho receberam capacitação especifica. E, a partir daí, foi elaborado um plano de gestão para os resíduos, que foi implantado em 2013, e sempre com a participação integrada das pessoas.
Ainda em 2012, as capacitações foram aplicadas para 108 participantes — chamados de facilitadores. Atualmente já são 180. Foram realizados treinamentos em 2012, 2013, 2014 e 2015, com duração de 4 horas cada. “Implementamos sempre uma inovação a cada encontro”, destaca Neuzeti. No primeiro ano, foram abordados aspectos ligados à legislação e a coleta de resíduos, e realizado por palestrantes externos. No segundo, houve a participação dos membros da comissão e, ao final do curso, os facilitadores passaram por uma avaliação para verificar a retenção de conhecimentos. No terceiro ano, a inovação foi uma visita técnica a uma unidade de tratamento de resíduos de serviços de saúde, localizada no bairro do Jaguaré, em São Paulo. O Programa de capacitação passou a contar também com os alunos de pós-graduação de outras universidades que realizam pesquisas no Instituto.
Guia prático e premiações
O GT Educação desenvolveu, em 2013, um Guia Prático Online sobre o Descarte de Resíduos. O material passou a ser impresso em 2014. Também foram apresentados vários trabalhos em Congressos relatando a experiência.
O projeto recebeu em 2013 o prêmio “Amigo do Meio Ambiente”, concedido pela Secretaria de Estado da Saúde, pela destinação de materiais para reciclagem em atendimento às legislações municipais, estaduais e federais. Um novo prêmio foi concedido em 2014, por conta do gerenciamento de resíduos mercuriais.
A pesquisadora conta que uma outra forma de compartilhar todo esse conhecimento adquirido com o projeto é a participação no curso de gerenciamento de resíduos de saúde que desde 2014 é oferecido pelo Butantan. Neste ano, os alunos do curso realizaram uma visita no sistema de tratamento de resíduos da vacina da gripe do Instituto, único na América do Sul. “É uma forma de compartilhar conhecimento com a comunidade no caminho de gerenciamento adequado de resíduos para a redução dos impactos ao meio ambiente, atendimento legal e melhor utilização dos recursos financeiros. Quando a gestão é realizada os benefícios e resultados são mensuráveis e perceptíveis.”
O Butantan faz parte a Rede Brasileira de Produção Pública de Medicamentos para distribuição pelo Ministério da Saúde e integra o Programa Nacional de Imunização, sendo responsável pela produção de 80% dos soros e vacinas utilizados no Brasil.
Valéria Dias / Agência USP de Notícias
Mais informações: email neuzeti.santos@butantan.gov.br, com Neuzeti Santos