Da Assessoria de Comunicação da Poli
Por causa do aquecimento global, a maré baixa (baixa mar) no litoral norte de São Paulo vem se elevando nas últimas décadas a uma taxa de 70 centímetros por século, valor que deve chegar a um metro ao longo deste século. Essa é uma das principais conclusões de um estudo realizado pelo professor titular Paolo Alfredini, do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental (PHD) da Escola Politécnica (Poli) da USP. Para chegar a esse resultado, ele analisou os dados registrados entre 1944 e 2007, pelo marégrafo da Companhia Docas do Estado de São Paulo, bem como os dados de 1954 a 2005 disponíveis nos marégrafos em Ubatuba, São Sebastião e Caraguatatuba e na Bóia Oceanográfica do Centro de Biologia Marinha (Cebimar) da USP, em São Sebastião.
O trabalho de Alfredini foi feito no âmbito da Rede Litoral, formada por pesquisadores e docentes da Poli, dos institutos Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), além de professores visitantes. Trata-se de um projeto financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), por meio do edital de temas estratégicos Ciências do Mar, com duração de quatro anos (2010-2014).
De acordo com Alfredini, cada uma das instituições participantes da Rede Litoral desenvolve pesquisa em torno de um eixo temático, mas trocando informações e complementando atividades. “O objetivo da rede é estudar o impacto das mudanças climáticas no litoral norte de São Paulo (São Sebastião, Caraguatatuba, Ubatuba e Ilha Bela)”, explica. “Nós da Poli, dentro da rede, temos como meta avaliar os aspectos ligados à hidráulica marítima e fluvial e apontar conceitualmente ações e obras para mitigar os problemas decorrentes da elevação relativa do nível do mar.”
Além do estudo sobre as marés, a equipe da Poli, composta por Alfredini e alguns de seus alunos, está desenvolvendo outras pesquisas dentro da Rede Litoral. Um deles é um levantamento de campo na barra do Rio Juqueriquerê, em Caraguatatuba. “É o maior rio do litoral norte e o único que tem um potencial de navegação, embora limitado”, explica Afredini. “Por isso, nós estamos estudando as características da sua foz, onde estão as menores profundidades dele, para avaliar como as alterações climáticas, que mudam ondas e marés, podem beneficiar ou não a navegação.”
Entender como e porque ocorrem os escorregamento de terra nas encostas de Caraguatatuba é o objetivo de outro estudo que vem sendo realizado por Alfredini. Com isso, ele quer ajudar a evitar que se repita a tragédia de 1967, quando um deslizamento naquele município deixou 436 mortos e cerca de 3.000 desabrigados. “É preciso notar que isso ocorreu quando Caraguatatuba tinha 15 mil habitantes”, diz o pesquisador da Poli. “Hoje a cidade tem 100 mil, grande parte vivendo em áreas de risco.”
Para entender os deslizamentos na região, a equipe da Poli está estudando os córregos formadores do Rio Santo Antonio, que passam pelo local onde aconteceu a catástrofe de 1967. “Eles descem as encostas nas laterais da Rodovia dos Tamoios, e foi ali que começaram os escorregamentos em 67”, explica Alfredini. “Por isso, é importante conhecer esses pontos, que ainda hoje tem cicatrizes. A vegetação ainda é mais baixa. Nessa catástrofe, não só terra e rocha vieram para baixo, as árvores também. Queremos evitar que quando fenômenos como esse se repetirem não ocorram tantas perdas de vidas e desabrigados, como ocorreu no mês de janeiro na região serrana do Estado do Rio de Janeiro.”