A Escola Politécnica (Poli) da USP integra o grupo de trabalho organizado pelo governo estadual paulista para diagnosticar a situação das barragens de mineração e da indústria de transformação mineral presentes no estado de São Paulo. A primeira reunião do GT ocorreu no dia 9 de dezembro, na sede da Secretaria Estadual de Energia e Mineração, na capital paulista, e contou também com representantes de outros órgãos de governo, do setor acadêmico e do setor privado. O grupo tem um prazo de 90 dias para apresentar o relatório final.
A iniciativa se encaixa em um plano maior do governo do Estado de tornar o setor mineral paulista mais competitivo, por meio da incorporação de tecnologias inovadoras, e ambientalmente e socialmente sustentável. “O grupo avaliará as condições das barragens, se parâmetros gerais estão sendo seguidos. É um capítulo de um imenso ‘livro’ que vai tratar da transformação do setor mineral como um todo, pois o plano do governo do Estado é fazer um inventário completo sobre o setor”, destacou o secretário de Energia e Mineração, João Carlos de Souza Meirelles.
“Nossa contribuição maior está na capacidade de trazer a visão da mineração do século 21”, contou Giorgio de Tomi, chefe e professor do Departamento de Engenharia de Minas e de Petróleo (PMI) da Poli. O conceito da mineração do século 21, explica, tem como aspecto principal o desenvolvimento de um processo produtivo com abordagem wasteless, ou seja, que busca a destinação para produtos principais, coprodutos e também para rejeitos, incorporando valor a todos eles. O subsecretário de Mineração da Secretaria, José Jaime Sznelwar, coordenador do grupo de trabalho, foi o primeiro a falar do interesse de trazer essa abordagem para a indústria mineral paulista na reunião do dia 9.
Um exemplo parecido com esse tipo de operação se encontra na produção de etanol e açúcar no Brasil, na qual praticamente tudo se aproveita ou vira coproduto. “Na mineração do século 21, é preciso achar diferentes usos para o que se considera resíduo; não se trata apenas de uma medida para buscar a sustentabilidade ambiental ou redução de custos, é uma questão de licença social. A sociedade só vai permitir a mineração se as empresas fizerem a atividade de forma responsável, e isso passa por dar destinação aos resíduos”, destaca.
Para caminhar nesse sentido, é preciso trabalhar em três eixos: automação, big data e pessoas. “Quando aumentamos o nível de automação, expandimos ainda mais a quantidade de dados, então precisamos de ajuda do big data e da inteligência artificial para fazer análises com base nesses dados e seguir com a tomada de decisão”, conta. Entra então o terceiro fator, as pessoas. “O gestor da mineração no século 21 tem consciência da responsabilidade em relação a mineração wasteless e tem preparo para trabalhar com automação e big data. É um perfil diferenciado do gestor que temos hoje”, completa.
O Estado de São Paulo tem 2.800 minas em operação – 95% delas se dedicam à produção em areia, brita, calcário e argila – e tem 21 barragens, de acordo com dados do Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM) levantados pela Secretaria.
Segundo o subsecretário de Mineração, José Jaime Sznelwar, será necessário levar em consideração questões econômicas para analisar se essas empresas suportarão aumentos de custo com novos modelos de operação, uma vez que trabalham com produtos de baixo valor agregado. “Precisamos verificar como viabilizar isso, como o Estado pode apoiar essa mudança. É desafiador”, disse. Por isso, a proposta é que o grupo faça visitas técnicas às barragens e que os nomes das empresas sejam mantidos em sigilo, para evitar que informações estratégicas vazem e as prejudique em relação a seus competidores.
Os integrantes do GT se reunirão uma vez por semana. Além disso, estão programados dois workshops. Neles haverá um número maior de participantes, incluindo representantes do setor privado, para que seja promovida a troca de conhecimento sobre aspectos estratégicos que constarão do relatório do grupo de trabalho.
A próxima reunião do grupo de trabalho será no dia 16 de dezembro, na Poli, quando deve ser desenhado o escopo do trabalho. “Pretendemos ter um embrião do plano de ação, indicando as ações prioritárias e os responsáveis por cada uma delas”, antecipa Tomi.
Além do professor Tomi integram o grupo de trabalho José Jaime Sznelwar, subsecretário de Mineração da Secretaria Estadual de Energia e Mineração, que coordenará os trabalhos, Ricardo Borsari, professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Poli e superintendente do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE); Maria Eugênia Gimenez Boscov, professora e Vice-Chefe do Departamento de Engenharia de Estruturas e Geotécnica da Poli e pesquisadora do Centro de Estudos e Pesquisas sobre Desastres no Estado de São Paulo da USP (Ceped); tenente coronel da PM Walter Nyakas Júnior, diretor do Departamento de Defesa Civil; Maria Heloisa Assumpção, representante da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb); Ricardo Vedovello, diretor geral do Instituto Geológico. O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) também dará suporte ao grupo, especialmente se houver necessidade de testes laboratoriais.
Érika Coradin / Acadêmica Agência de Comunicação