Construído em uma acrópole natural durante os primeiros estágios da colonização portuguesa do Brasil, o Engenho dos Erasmos foi erguido não apenas para dar início ao que se tornaria uma bem sucedida empreitada açucareira, mas principalmente para defender a região recém-descoberta. Visionário, o explorador Martim Afonso de Sousa apostou no açúcar como possível fonte de riqueza enquanto deu seguimento à conquista do território brasileiro. Sobrevivendo a conflitos armados e a dois incêndios, a construção, que resistiu parcialmente à corrosão do tempo, foi doada à USP em 1958.
Alçado ao status de Monumento Nacional após seu tombamento em 1963, o Engenho dos Erasmos continua a enfrentar o avanço do tempo, agora sob a direção da professora Vera Lucia Amaral Ferlini, uma das maiores especialistas em história do açúcar no Brasil e docente da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. “Estamos falando aqui de uma das ruínas mais importantes do país”, revela a professora. Polo de realização de múltiplas atividades profissionais, o sítio arqueológico possui atualmente uma base avançada e conta com um time de cientistas, técnicos e estagiários que atuam na divulgação, promoção e pesquisa científica.
Fazendo história
Adquirido por um proprietário local em 1943, o Engenho dos Erasmos foi cedido à FFLCH no final dos anos 1950. Entretanto, só passou a ser verdadeiramente estudado enquanto tesouro arqueológico em 1999, após a Prefeitura de Santos ter entrado em acordo com a Universidade, que se comprometeu a transformá-lo numa base para extensão e pesquisa.
Tornando-se um órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão, o Engenho assistiu seu potencial ser explorado e desenvolvido por uma série de diretores de especialidades distintas. Gestor até 2001, o professor Julio Roberto Katinsky da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP reforçou a importância arquitetônica da construção cinquentenária. Assumindo em 2004, a professora Maria Cecília França Lourenço, também da FAU, iniciou estudos em educação patrimonial sobre o local, que teve sua base concluída e inaugurada em 2009.
Em março de 2010, sob a direção da professora Vera, o Engenho ganhou novos especialistas e incluiu estagiários tanto da USP quanto da Universidade Católica de Santos (Unisantos), que se tornou parceira conveniada do órgão. Com um total de 10 estagiários e um grupo de pesquisadores docentes, o monumento cresceu não apenas em estrutura, mas também em reconhecimento, ao ser integrado no roteiro cultural da Baixada Santista, procurado tanto por turistas, quanto por estudantes da região.
De olho no futuro
“O Engenho dos Erasmos é um testemunho do processo de ocupação sistêmica do território até então português”, conta a professora Vera ao revelar as intenções da equipe para a promoção do lugar. Com turmas de visitação frequentando regularmente o Engenho, uma das maiores preocupações é como continuar promovendo os passeios sem destruir o espaço de preservação.
Com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) somado aos recursos da própria Universidade, a professora Vera e sua equipe pretendem dar início a um conjunto de obras que transformará o Engenho em um pequeno parque arqueológico. Contando com uma torre de observação e passarelas móveis que facilitarão não apenas a apreciação do sítio, mas também sua manutenção, o projeto a ser implantado nos próximos anos também espera enriquecer a experiência dos visitantes ao disponibilizar um espetáculo noturno de luz e som. Através de tecnologia do video mapping, os pesquisadores pretendem projetar vídeos, de caráter tanto lúdico quanto ilustrativo, diretamente na estrutura.
Não bastasse a ampliação das pesquisas no território do Engenho, a equipe, ainda, recebeu da Prefeitura de Santos a proposta de expandir seu estudo para toda a Baixada, que conta com diversas ruínas de engenhos inexplorados em Bertioga, Guarujá e na área continental de Santos. “Essa região era importantíssima no abastecimento da Colônia e servia como ponta-de-lança dos portugueses para assegurarem seu domínio no entorno do rio da Prata”, explica a professora ao revelar a importância não somente histórica, mas também antropológica e cultural de um estudo dessa magnitude.
Cientes de que o trabalho de pesquisa que atravessa a década ainda está apenas no começo, a equipe do Engenho dos Erasmos espera conscientizar a população sobre a importância das ruínas enquanto testemunhas das raízes nacionais. Entre as rochas que restauram a forma original do engenho, e aquelas que demarcam espaços fechados como o fosso, a capela e até mesmo um cemitério indígena, ainda há muito que se desvendar sobre os mistérios dos primeiros exploradores do Brasil.
Para informações sobre visitação, acesse o site do Engenho dos Erasmos.
Mais informações: (13) 3203-3901, site http://citrus.uspnet.usp.br/engenho, email ruinasengenho@usp.br