Pesquisadores estudam os mais de 1300 ninhos de abelhas do campus de Ribeirão

Bruna Pellegrini, especial para o USP Online Em 1998, começou a ser implantado um projeto pioneiro de reflorestamento do campus de Ribeirão Preto da USP, que culminou no resgate e atual preservação da biodiversidade dessa região interiorana do estado de São Paulo. Com a recuperação de áreas que haviam sido devastadas pela atividade agrícola, a…

Bruna Pellegrini, especial para o USP Online

Em 1998, começou a ser implantado um projeto pioneiro de reflorestamento do campus de Ribeirão Preto da USP, que culminou no resgate e atual preservação da biodiversidade dessa região interiorana do estado de São Paulo. Com a recuperação de áreas que haviam sido devastadas pela atividade agrícola, a floresta do campus contribuiu para o aumento da cobertura vegetal da área urbana do município e para o retorno da fauna nativa. A partir daí, um dos grandes ganhos da USP Ribeirão foi o reaparecimento de 18 espécies de abelhas naturais da região, que hoje se espalham por mais de mil e trezentos ninhos do campus.

“O que observamos é que elas estão ocupando cada vez mais áreas”, avalia a bióloga Geusa Simone de Freitas, doutora pelo Departamento de Genética da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), que pesquisa as abelhas do campus desde 1999, orientada pelo professor Ademilson Espencer Egea Soares. Em seu pós-doutorado, Geusa comanda um grupo de pesquisa que trabalha na coleta de informações desses ninhos e faz o mapeamento da região, por meio de GPS. Com isso, todos os ninhos encontrados, estejam em postes, árvores ou muros, são monitorados e identificados. “Notificamos onde eles estão, qual a espécie e recolhemos exemplares para analisar.”

A espécie mais notificada é a Jataí. Outras encontradas são a Caga-fogo, Borá, Marmelada, Arapuá, Feiticeira, Guaxupé, Canudo, Trigona do grupo fuscipennis, Iratim, Mirim droriana, Mirim preguiça, Tubiba, Scaura, Boca de Sapo, Iraí, Lambe os Olhos. “Todas as espécies são potenciais polinizadoras e não oferecem risco, pois são espécies sem ferrão”, esclarece Geusa.

No laboratório, a atividade é de extrair o DNA de cada exemplar, para estudar as populações. A pesquisadora conta que o grupo de que faz parte está “pesquisando a variabilidade genética das abelhas do campus, em comparação com exemplares da mesma espécie que vivem fora desse habitat”. No futuro, a intenção é formar um banco de germoplasma, que consiste em um local de conservação de uma coleção de material genético para uso imediato ou potencial uso posterior.

Procurando Irá

A identificação dos ninhos pelo campus não é apenas para pesquisa: os pesquisadores desenvolveram uma trilha de visitação das diferentes abelhas. No idioma tupi, abelha significa “irá”, por isso, o nome da trilha é “Procurando Irá”. O passeio é aberto ao público e é preciso agendar a visita por telefone. Além disso, os visitantes podem se aventurar pelo campus seguindo as placas de identificação, que estão afixadas perto dos ninhos. De qualquer forma, como o campus de Ribeirão acabou de sofrer uma infestação de carrapatos-estrela, a visita guiada está temporariamente suspensa.

Na região de Ribeirão Preto, como acontece em muitas cidades brasileiras, há abelhas africanizadas, que tem ferrão. Essas espécies não são objeto de estudo do grupo e não fazem parte da trilha. Mas, infelizmente, muitas pessoas relacionam as abelhas com ferrão ao apiário do campus, que sofre constante ameaça de vandalismo. “A colocação de plaquinhas ao lado dos ninhos de abelhas é muito importante para que cada vez mais se compreenda o papel das abelhas na manutenção da biodiversidade”, pondera Geusa. Mas ela própria observa que a identificação dos ninhos abre brecha para que as pessoas destruam as colmeias, por conta de um medo equivocado de ferroadas de abelhas.

Papel das abelhas

O que a população precisa saber é que as abelhas têm papel ecológico fundamental para a manutenção da biodiversidade, porque muitas espécies vegetais são polinizadas por abelhas, que levam o pólen de um vegetal a outro, proporcionando a melhor germinação de sementes. “E economicamente, as abelhas têm sido cada vez mais estudadas para a polinização de culturas, a fim de que sejam gerados produtos mais saborosos, fruto da maior variabilidade genética da cultura”, ressalta Geusa. Além disso, as abelhas não africanizadas produzem um mel de maior preço de mercado, porque sua produção é menor.

A FMRP fica na  Av. Bandeirantes, 3900, Monte Alegre, Ribeirão Preto. Interessados podem agendar visitas, em grupo, pelo telefone: (16) 3602-3077.

Mais informações: site www.fmrp.usp.br

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