Questionário desenvolvido na FMUSP avalia adesão a tratamento de hepatite-B

Avaliação validada aparece como um auxílio para o médico ao acompanhar o quadro de saúde do paciente.

Fernando PivettiDa Agência Universitária de Notícias

Um projeto desenvolvido na Faculdade de Medicina (FM) da USP elaborou um questionário de avaliação de pacientes em tratamento de hepatite-B crônica para avaliar o grau de comprometimento deles em relação às prescrições médicas com antiviriais. Os resultados permitiram aos pesquisadores estabelecer uma relação entre a adesão dos enfermos ao tratamento e um nível indetectável de carga viral no organismo.

A dissertação de mestrado do farmacêutico especialista em Farmácia Hospitalar e Clínica, Rodrigo Martins Abreu, buscou validar um questionário de avaliação da adesão do tratamento em pacientes que apresentavam um estágio avançado de hepatite-B. A doença, apesar de já possuir um programa de vacinação, ainda afeta milhares de pessoas no País e é assintomática. Os primeiros sinais só aparecem quando a enfermidade já evoluiu para casos mais graves, como cirrose hepática.

Segundo o pesquisador, a ideia partiu da verificação de que, na farmácia ambulatorial do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP, vários pacientes não vinham buscar o medicamento indicado. “Quando começamos o estudo, havia uma adesão de apenas 70% dos pacientes com relação à retirada de medicamentos. Isso era preocupante, pois esses medicamentos só podem ser retirados em farmácias especializadas, vinculadas à Secretaria de Estado de Saúde. E isso significava que aproximadamente um terço deles não estava seguindo o tratamento”, afirma.

Avaliação de conteúdo

Para tentar reverter esse quadro, Martins desenvolveu o questionário de acompanhamento baseado em uma outra sondagem validada para pacientes com HIV. A proposta foi adaptar as perguntas para o grupo que sofria de Hepatite-B crônica. “Durante a fase de elaboração do questionário, fizemos uma avaliação de conteúdo com médicos especializados na área para saber se as perguntas eram pertinentes”, ressalta.

O questionário elaborado é um auto-relato, no qual “o paciente responde às perguntas e acumula uma pontuação, que pode variar de 17 a 89 pontos, sendo que 89 pontos representaria o máximo de adesão”, explica o pesquisador. Outro ponto explorado foi a diferenciação dos grupos de pacientes. “A ideia era observar se a partir dessas respostas podemos dizer, paralelamente ao grau de adesão, se o paciente possui carga viral detectável ou indetectável”.

Ao todo, 183 pacientes responderam às perguntas elaboradas. Deste número, apenas 56,8% dos pacientes registraram adesão ao tratamento. “Esse dado, além de comprovar o que observávamos na farmácia, demonstra que chegamos a um nível preocupante de falta de comprometimento com a prescrição médica”.

Os resultados conseguiram estabelecer também que todos os 113 pacientes que conseguiram uma pontuação maior ou igual a 80 nos exames laboratoriais não apresentaram uma carga viral detectável. “No universo dos 183 que participaram, 70 deles fizeram pontuação entre 71 e 79,25. Nos exames que procuravam identificar se no organismo havia a presença do vírus da doença, observamos um resultado positivo”.

Para Martins, esses resultados comprovaram a validação do questionário, que poderá auxiliar o médico na hora do atendimento ao paciente. “Na hora da consulta, o médico não sabe se o paciente realmente está tomando os remédios. E essas perguntas em série aparecem como uma forma alternativa de investigação e acompanhamento”.

Mais informações: email rodrigaofarm@yahoo.com.br, com Rodrigo Martins Abreu

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